Cotidiano

Consulta popular sobre políticas LGBT tem baixa adesão

A consulta popular ficou, ao todo, 37 dias no ar. Ela deveria ter sido encerrada na última sexta-feira, 5, mas a página só foi retirada quatro dias depois

Publicado em 10/09/2014 às 14:28

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Mesmo tendo sido encerrada quatro dias após o prazo, a consulta popular para elaborar a minuta de reformulação do Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual (CMDAS), que pretende torná-lo deliberativo, recebeu a contribuição de apenas 14 pessoas. O órgão, formado atualmente por 19 conselheiros, é responsável por discutir as políticas públicas voltadas para a população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros (LGBT) em São Paulo.

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Caso o novo decreto seja aprovado pelo prefeito Fernando Haddad (PT), o CMDAS poderá também apresentar propostas de lei ao Executivo, elaborar um relatório anual sobre as políticas públicas LGBT e aprovar o orçamento da Coordenação de Políticas LGBT - previsto em R$ 3,87 milhões em 2014.

A consulta popular ficou, ao todo, 37 dias no ar. Ela deveria ter sido encerrada na última sexta-feira, 5, mas a página só foi retirada quatro dias depois. Se o prazo inicialmente estipulado tivesse sido cumprido, o número de participantes teria caído para 13.

"Considerando a estimativa de que 10% da população seja LGBT, é muito pouco", afirma o presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT, Fernando Quaresma.

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A consulta recebeu a contribuição de apenas 14 pessoas (Foto: Divulgação)

A contradição é ainda mais clara em números. Entre 3 e 4 milhões de pessoas participaram da última Parada Gay em São Paulo, realizada em 4 de maio deste ano, segundo cálculo dos próprios organizadores. Já as reuniões abertas do CMDAS costumam contar, em média, com cerca de 15 integrantes - menos até que o número de membros titulares.

"A agenda LGBT propriamente dita tem adesão muito maior do que a agenda institucional", admite Alessandro Melchior, coordenador de Políticas para LGBT de São Paulo.

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No documento, havia 55 campos interativos em que os interessados puderam propor alterações ou simplesmente opinarem. Para isso, o único procedimento necessário era realizar um cadastro no próprio site do CMDAS - processo com duração média de menos de dois minutos.

Logo no segundo artigo, o texto trata do combate à discriminação e da violência contra a população LGBT - um dos assuntos centrais no Brasil. Em 2012, foram registradas 409 denúncias de violações à população LGBT no Estado de São Paulo, segundo a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Houve aumento de 107% na comparação com o ano anterior.

O tópico do texto, no entanto, recebeu apenas um comentário. "Apanhei em janeiro em decorrência de homofobia e não me senti nem sequer motivado a passar mais uma humilhação na delegacia", escreveu o usuário @cmakemesay.

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Outras 61 contribuições foram feitas ao longo de artigos, parágrafos e alíneas: uma média de 4,5 comentários por usuário. "Não é um número pequeno, quando comparado a consultas de órgãos estaduais e federais", afirma Melchior, que diz não se surpreender com o número de participantes. "Esse tipo de consulta é uma realidade muito nova no Brasil. Nos Estados Unidos, o Change.org (um dos maiores sites de abaixo-assinado do mundo) tem 24 milhões de participantes, aqui são 2 milhões", argumenta. "Ainda mais em texto jurídico, que nem todas as pessoas se sentem capazes de participar."

"É uma oportunidade que foi aberta e não está sendo abraçada", afirma Quaresma. "Mas não é uma questão exclusiva LGBT. Todos os movimentos, no momento de participar, não participam", ressalta. A iniciativa foi divulgada durante reuniões abertas do Conselho Municipal e em redes sociais do CMADS e da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania.

Essa foi a primeira vez que a secretaria realizou um procedimento desse tipo. O objetivo é contribuir para a ampliação da democracia e a promoção da cidadania LGBT, afirmou a Pasta na época do lançamento.

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