Cotidiano

Comissão divulga foto de crânio que pode ser de Stuart Angel

Um dos casos mais emblemáticos do período militar, o desaparecimento de Stuart Angel, na época com 26 anos, causou comoção na opinião pública

Pedro Henrique Fonseca

Publicado em 09/12/2014 às 20:45

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A Comissão Nacional da Verdade apresentou nesta terça-feira uma fotografia de um crânio retirado em 1976 da Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, local onde o estudante de economia Stuart Edgar Angel Jones, filho da estilista Zuzu Angel, pode ter sido torturado e morto por agentes da ditadura militar, cinco anos antes. Esse resto mortal ainda não foi localizado. O grupo também informou ter documentos que indicam o enterro dos estudantes secundaristas Joel Vasconcelos Santos, no cemitério Ricardo de Albuquerque, e Paulo Torres Gonçalves, no cemitério da Cacuia, também mortos pela repressão no Rio de Janeiro, em 1971 e 1969.

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Um dos casos mais emblemáticos do período militar, o desaparecimento de Stuart Angel, na época com 26 anos, causou comoção na opinião pública, mesmo com a censura. A mãe do estudante, Zuzu Angel, fez um apelo a autoridades brasileiras e estrangeiras e mobilizou personalidades para saber as circunstâncias da morte do filho. Zuzu morreria num suposto acidente de trânsito, em 1976.

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Pelas apurações de técnicos da Comissão Nacional da Verdade, Stuart Angel foi levado até a Base de Santa Cruz, sendo torturado num pequena prisão. Lá, ele teria sido interrogado sobre o capitão Carlos Lamarca - o estudante estaria negociando a entrada do militar na organização guerrilheira MR-8. Depois, o corpo teria sido enterrado numa plantação de mandioca da base. Mais tarde, em 1976, a construtora Cetenco fez obras no campo da base e transferido um montante de terra para outra obra da empresa, na Rua da Assembleia, centro do Rio. A fotografia do crânio foi feita nesse local. A Comissão apresenta amanhã seu relatório final a presidente Dilma Rousseff, em cerimônia no Planalto.

As indicações de que os estudantes Joel Vasconcelos Santos e Paulo Torres Gonçalves foram enterrados nos cemitérios legais do Rio foram obtidas após análise de fichas com impressões digitais de indigentes inumados em valas comuns. Tanto a localização do crânio da base quanto a identificação dos ossos de Joel e Paulo dependerão de exaustivas investigações. A fotografia do crânio foi enviada para o Centro de Ciências Forenses da Universidade de Northumbria, na Inglaterra. É um caso especial. Ao longo dos trabalhos, parentes de guerrilheiros mortos no Araguaia pediram reiteradas vezes apoio da Comissão Nacional da Verdade para identificar restos mortais retirados de cemitérios do Sudeste do Pará guardados na Universidade de Brasília.

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Na entrevista para dar informações sobre os estudantes, José Paulo Cavalcanti Filho, integrante da Comissão Nacional da Verdade, afirmou que os militares foram "cordiais", mas não contribuíram, ao longo de dois anos e meio de trabalho do grupo, para questões "centrais" das investigações. "As Forças Armadas não ajudaram no que era fundamental", disse. "Isso é algo indiscutível."

Em tom de desabafo, ele ressaltou que os comandantes da Aeronáutica, do Exército e da Marinha não se esforçaram para ajudar nos esclarecimentos. O relatório final do grupo, que será apresentado hoje, não inclui dados dos centros de inteligência das três forças. "Eles não ouviam uma única pessoa para buscar a informação", disse José Paulo Cavalcanti Filho. "Quando pedimos informações sobre o centro de tortura na Ilha das Flores, no Rio eles mandaram cartões-postais, como se tivéssemos algum interesse turístico."

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