Cotidiano
Em fevereiro, o garoto, a docente e o autor do blog, Brandon Staton, 31, foram convidados a se encontrar com o presidente dos Estados Unidos, o democrata Barack Obama
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Em janeiro, a página Humans of New York (Humanos de Nova York) publicou o retrato de um menino negro do Brooklyn acompanhado de sua reposta sobre quem o influenciava mais na vida: a diretora de sua escola.
"Quando aprontamos, ela não nos suspende, mas nos chama para explicar que, toda vez que um de nós larga a escola, uma cela de cadeia é construída", justificou.
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Em fevereiro, o garoto, a docente e o autor do blog, Brandon Staton, 31, foram convidados a se encontrar com o presidente dos Estados Unidos, o democrata Barack Obama, que acabou dando também um depoimento ao Humans of New York.
Em julho, dias depois de a Suprema Corte americana legalizar o casamento homossexual no país, o mesmo site publicou a foto de um outro menino, branco dessa vez, e choroso.
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Acompanhando o retrato, a frase dele: "Sou homossexual e tenho medo do que vai ser do meu futuro e de as pessoas não gostarem de mim".
Quase 675 mil curtidas no perfil do Humans of New York no Facebook. Uma das mais populares apresentadoras de televisão nos EUA e lésbica, Ellen DeGeneres comentou: "As pessoas não vão apenas gostar de vocês, vão te amar".
Aí foi a vez da pré-candidata à Presidência Hillary Clinton, por ora, a favorita do Partido Democrata, a comentar: "Previsão de uma adulta: seu futuro será incrível". O criador do site agradeceu o comentário.
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Em 3 de setembro, em viagem ao Irã, ele postou o retrato de um um menino e o pai, que dizia ter descoberto que a criança era "humanista" quando, aos cincos anos, distribuiu damascos que ambos levavam para casa.
O criador do Facebook, Mark Zuckerberg, curtiu. E Obama, que acabara de conseguir aprovação no Congresso de um acordo nuclear com Teerã, comentou. "Que história inspiradora. Continuarei fazendo o que posso para tornar o mundo um lugar onde cada criança alcance o seu potencial."
Stanton não respondeu ao presidente. Por dizer-se sem conexões políticas, havia sofrido uma avalanche de críticas pela resposta a Clinton, em ano pré-eleitoral.
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"Parece um pouco conveniente demais para Hillary fazer o comentário quando está tendo problema com os progressistas", afirmou o comentarista de extrema direita Rush Limbaugh.
O post seguinte ao do Irã, no dia 5 de setembro, mostrava uma senhora branca com cara de desapontada, dizendo que recebera uma mensagem de Deus orientando-a sobre como resolver os problemas do mundo.
"Temos que mandar todos os líderes mundiais jogar golfe com [o pré-candidato republicano Donald] Trump. Aí os substituímos por avós. Porque ninguém nunca foi invadido por uma avó."
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Com a repercussão entre figuras conhecidas, o número de seguidores do blog disparou para os atuais 15 milhões no Facebook, quase a metade da população de Nova York.
Criado em 2010, o projeto lança campanhas beneficentes com alguns personagens retratados. A escola do estudante que visitou Obama, por exemplo, arrecadou US$ 1 milhão.
A definição do projeto é simples: retratar pessoas comuns que, provocadas, expõem os sentimentos mais íntimos. Como Stanton questiona as pessoas sobre momentos difíceis, em geral, as histórias expõem alguma vulnerabilidade.
Diante de críticas de que sua curadoria refletia uma visão preconceituosa, Stanton negou e passou a bloquear comentários ofensivos.
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O americano de Georgia se formou em história, mas seu primeiro emprego foi no mercado financeiro, em Chicago.
Demitido três anos depois, mudou-se para Nova York com a ideia de fotografar 10 mil estranhos nas ruas da cidade. Ele conta que pelejou no início, solitário e depressivo. Muita gente reagia mal à sua abordagem. Mas, com o tempo, encontrou uma fórmula para desarmar as pessoas.
Stanton diz que ganha dinheiro com palestras e livros (está para lançar o próximo, em outubro). Afirma que recusa ofertas para vender espaço publicitário e que a ideia nunca foi "monetizar" o projeto.
Na classe artística, questionamentos sobre a qualidade das fotos não parecem perturbá-lo. Em diversas palestras, repetiu que seu dom está na extração dos depoimentos.
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Na Universidade Harvard, em fevereiro, explicou: "Você é um artista se você reconhece a beleza e de fato a aprecia, mesmo que você não domine técnicas".
Fotojornalismo
Professor de fotografia na Universidade de Nova York e artista cujos projetos, muitas vezes, envolvem a internet, Wafaa Bilal afirma que "Humans of New York" é "um bom exemplo de fotojornalismo, mas não é foto conceitual".
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"Muitos artistas fizeram trabalhos similares no passado, mas a diferença é que a intenção de Hony não é codificar fotografias como objetos de arte. Tem mais a ver com contar histórias".
A editora de foto com passagem por jornais e revistas americanos Meg Handler, por sua vez, escreveu um artigo em que sustenta que Stanton não pode ser considerado fotojornalista por não seguir preceitos básicos da profissão como contextualizar a imagem ou preservar menores de idade a exposições, por vezes, agressivas.
Stanton não respondeu aos pedidos de entrevista da Folha. Páginas criadas com o mesmo nome, mas sobre outras cidades, começaram a pipocar no Facebook, mas uma mais original surgiu há três semanas, chamada "Orcs de Nova York".
O autor, o escocês que mora no Brooklyn Harry Aspinwall, 27, disse que, como Nova York, abriga gente de todo lugar, a população do livro "O Senhor dos Anéis" (os orcs) também adotaram a cidade.
"O Hony estimulou a compreensão entre as pessoas e nós trazemos uma nova perspectiva de compaixão", definiu.
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