Cotidiano

Clima de 'pós-pandemia' já toma conta de turistas no litoral norte de SP

Em São Sebastião, por exemplo, a expectativa é de que a rede hoteleira tenha 100% de ocupação, mesmo com o aumento do número de estabelecimentos cadastrados ao longo dos últimos cinco anos

FOLHAPRESS

Publicado em 19/12/2022 às 11:46

Atualizado em 19/12/2022 às 12:13

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Praia Grande, em Ubatuba / Mathilde Missioneiro/Folhapress

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 O fim de primavera já tem cara de verão no litoral norte de São Paulo. Na última semana, depois de vários dias chuvosos, o sol apareceu com força sobre as areias claras e deu o tom do que aguarda quem ainda não fechou as malas. Tem para todo gosto.

Algumas cidades se preparam para receber mais de dez vezes o número de moradores habituais. A expectativa é de que seja a primeira temporada sem tantas restrições desde o início da pandemia.

Em São Sebastião, por exemplo, a expectativa é de que a rede hoteleira tenha 100% de ocupação, mesmo com o aumento do número de estabelecimentos cadastrados ao longo dos últimos cinco anos (passou de 175 para 284 hotéis). São esperados 1 milhão de turistas ao longo da temporada –a cidade tem 90 mil habitantes fixos. o município aposta ainda em um crescimento de 40% no número de turistas estrangeiros.

A advogada Carolina Stefanini, 40, veio da Argentina com o marido e dois filhos. Na tarde da última quarta-feira (14), estavam em Maresias e tentavam encontrar transporte que os levasse direto ao aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, a 150 km dali. "Já estivemos em outras praias do Brasil, mas é a primeira vez em São Paulo", contou. "Ficamos encantados".

Um dos hotéis mais conhecidos de Maresias já tinha 56 dos 58 quartos ocupados até o início de janeiro. Segundo atendentes, bem mais do que durante a pandemia, mas menos ainda do que no período anterior à chegada da Covid-19, quando, em dezembro, não havia mais possibilidade de fazer reservas até o começo de fevereiro.

No deck em frente ao mar cheio de ondas, um casal acompanhava o pôr-do-sol, aproveitando o momento com uma tranquilidade impossível pouco tempo atrás. "Durante a pandemia, ficamos quietinhos em casa", disse a aposentada Célia Carvalho, 62.

"Depois das vacinas, ficamos aliviados. Não 100%, mas mais tranquilos. Agora é a liberdade. Até então, estávamos presos em casa", afirmou o marido, o também aposentado Paulo Rogério de Carvalho, 69. Apesar da satisfação, o casal nota que tudo está mais caro, inclusive a hospedagem. "Eles querem tirar o atraso."
São pessoas como o casal que devem lotar o litoral norte nesta temporada. Em uma pousada a cerca de 100 metros da areia, em Camburi, também em São Sebastião, não havia mais quartos disponíveis até 13 de janeiro. "Achei um pouco mais difícil encontrar vaga desta vez", afirmou a professora Helena Melges, 34, que há anos frequenta o local.

Mais ao norte, em Ubatuba, praias populares ou em condomínios um pouco mais reservados estavam lotadas na antepenúltima quinta-feira do ano. É um sinal do que espera a prefeitura, apontando índices de ocupação da rede hoteleira em torno de 80% para o Natal e 97,5% no Réveillon.

Se para o comércio a lotação máxima é um bom negócio, nem sempre areia cheia de gente é do agrado dos turistas. "A gente quer conhecer as praias mais desertas, não muito movimentadas", afirmou a empresária Paula Queiroz, 45, que veio de Manaus (AM) na quarta e aproveitava a primeira manhã de sol na praia do Félix, mas já de olho em lugares mais tranquilos.

A praia Grande de Ubatuba já contava na quinta com o oposto do que Paula procura. Ambulantes, carrinhos de sorvete, quiosques, latinhas nas mãos, caixinhas de som e muitos banhistas sob o sol. Tem gente que encara muitas horas de estrada para aproveitar essa brisa marinha.

Vans e ônibus venceram os mais de 630 km que separam São José do Rio Preto de Ubatuba para desembarcar um grupo de 63 parentes e amigos na praia Grande. Como guarda-sóis não dariam conta, juntaram três grandes tendas para garantir também um pouquinho de sombra. "Vamos aproveitar, se Deus quiser e abençoar", afirmou o mestre de obras Júlio César da Silva, 48.

Cercado por cores vibrantes, o ambulante Carlúcio Pereira Santos, 40, tem uma boa perspectiva para a temporada. Ele conta que quem já faz sucesso na sua arara é o biquíni canelado neon, um revival dos anos 90. "Até as senhoras de 80 anos estão usando neon."

Bastante gente é o que também espera a prefeitura de Caraguatatuba. Com 123 mil habitantes fixos, espera receber 1,5 milhão de turistas até o Carnaval. Em Ilhabela, 530 mil devem passar pela balsa e outros 140 mil chegarão em navios de cruzeiro –a cidade tem 35 mil habitantes.

Na Baixada Santista, Bertioga aguarda 450 mil visitantes no pico de ocupação, durante o Réveillon. O Guarujá estima aumento de 30% no número de turistas em relação à temporada anterior, com 1,5 milhão de pessoas e 100% de ocupação da rede hoteleira nos fins de semana.

A prefeitura de Santos não tem um levantamento sobre o número de visitantes que são esperados. Na cidade, haverá a retomada da tradicional queima de fogos, após dois anos de interrupção.

As concessionárias das rodovias que levam ao litoral devem fechar uma estimativa do número de veículos para a temporada apenas às vésperas do Natal. O Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) também deve concluir somente nos próximos dias a previsão sobre como será o tempo na estação que se aproxima.

De turista a 'local' Previsão do tempo e condição das estradas não são mais motivo de tanta preocupação para algumas pessoas. Ao longo da pandemia, o litoral norte também passou a contar com muita gente que desistiu de fazer bate-volta e optou por viver com o pé na areia. Para muitos, essa será a primeira virada de ano como "local", não mais como turista.

O comerciante Raul Lopes, 66, tem casa há quase 30 anos em Juquehy, em São Sebastião, mas ainda vivia na capital paulista. A pandemia antecipou os planos previstos só para depois da aposentadoria. "Consigo ter a atividade profissional aqui e o operacional fica em São Paulo", disse. "É muito melhor andar na areia do que na avenida Bandeirantes [via movimentada da zona sul paulistana]", afirmou.

A advogada Juliana Sinhorini Naum, 48, ainda não se mudou de vez de Mogi das Cruzes para Juquehy, mas visita sua casa de praia com frequência. Ela notou que, ao longo de 2022, o movimento cresceu mesmo em dias úteis. "O mês de maio, por exemplo, que era o pior para o comércio, sempre vazio, agora está lotado. Não percebo mais a praia vazia no meio do ano. Agora é cheia direto."

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