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“Eu sou uma cidadã agora. Tenho como provar meu nome e minha inocência”. Essas foram as primeiras palavras da recicladora Maria Aparecida Andrade Pereira ao receber sua Certidão de Nascimento após oito anos sem documentos. A alegria genuína estampada no sorriso e nas lágrimas de Maria Aparecida ao ter a certidão em suas mãos se deu graças ao trabalho desenvolvido pelo Centro de Cidadania I (Rua Washington, 719 – Centro), equipamento social da Prefeitura de Guarujá que oferece serviços públicos essenciais aos munícipes.
Morando há oito anos no Município, Maria enfrentava dificuldades para ter acesso a serviços básicos, como os de saúde, com a falta dos documentos. Ao chegar ao Centro de Cidadania I, porém, encontrou apoio e ajuda necessários para se tornar uma cidadã novamente.
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Ela nasceu em Pernambuco e se mudou para o Rio de Janeiro aos três anos de idade. Após seus pais retornarem ao estado de origem, ela acabou se tornando andarilha, passando por diversas cidades até chegar a Guarujá, onde encontrou, na reciclagem, uma oportunidade para sobreviver. Os documentos de Maria foram perdidos no período em que viveu na rua.
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Um trabalho minucioso foi iniciado com diversas conversas entre ela e a coordenadora do Centro, Lilian Miguel, para que fosse descoberto em quais cidades procurar seu registro de nascimento. Maria não se lembrava ao certo em que município havia nascido. Lilian encontrou em contato com 15 cidades de Pernambuco, até descobrir que ela nasceu no município de João Alfredo, há 36 anos. “A Maria Aparecida está atrasada há muitos anos para ser brasileira. Me sinto realizada ao fazer esse trabalho”, ressalta Lilian. Segundo ela, a equipe do equipamento social tem como meta fazer com que todas as pessoas que chegam ao Centro saiam com seus documentos em mãos.
Além da certidão de nascimento, Maria Aparecida recebeu também Carteira de Trabalho e deu início ao processo para emissão de RG e CPF. A partir de agora ela tem, assim como qualquer cidadão, as ferramentas necessárias para exercer seu papel na sociedade e pode começar a escrever um novo capítulo em sua vida.
Com o Cartão SUS em mãos, Maria Aparecida já foi encaminhada à rede municipal de Saúde. A coordenadora do Centro também a encaminhou para tratamento odontológico para que sua história possa contar agora com um sorriso mais bonito.
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Por ter frequentado a escola por pouco tempo durante a infância, Maria já pensa na volta aos estudos. Segundo Lilian, ela será conduzida à Educação de Jovens e Adultos (EJA) de Guarujá. “Esse é o dia mais feliz da minha vida”, disse Maria, ao resumir sua sofrida história de vida. Construir uma família com o marido, ter sua própria casa, trabalhar e estudar são seus planos para o futuro. Segundo ela, a reciclagem continuará sendo seu ofício, pois foi através dela que conseguiu o que tem até o momento.
A recicladora faz questão de ressaltar a ajuda que recebeu do Centro de Cidadania I e recomenda o serviço para que outras pessoas também tenham a oportunidade de resgatar seus documentos e sua história. “Enquanto temos saúde está tudo bem, ainda mais na rua, que tudo é diferente. A primeira coisa que precisamos quando ficamos doentes é um documento e sem ele somos tratados como cachorros, não temos apoio”.
Corrente do bem – Lilian explica que seu objetivo é sempre criar uma corrente do bem ligando as pessoas atendidas pelo equipamento social. Sua meta é fazer com que Maria Aparecida seja ajudada por outra atendida pelo Centro quando retornar à escola. A corrente se concretizará com Maria a ensinando o ofício da reciclagem. Assim ambas saem ganhando, uma aprendendo a ler e escrever, a outra ganhando uma nova oportunidade de trabalho.
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“Eu estou fazendo minha obrigação, mas sempre acreditei que eu posso dar um pouco mais que essa obrigação. Minha obrigação como ser humano”, ressalta Lilian, emocionada.
A corrente do bem não tem fim, é contínua. Ao chegar ao Centro, Maria estava acompanhada da amiga Jadna Ramos da Silva. Foi ela quem convenceu o dono do terreno onde mora a permitir que Maria construísse uma pequena casa para morar com o marido. Jadna conta que via Maria chegar ao ferro-velho onde vende as peças que recolhe ao longo do dia e dormir na rua, embaixo de uma lona jogada em sua carroça. Elas se tornaram amigas e hoje são vizinhas. “É uma história de vida sofrida, tem muita gente que vira o rosto. Tem gente que vê na rua e considera como bicho, mas são gente como nós. Me sinto feliz por ela, é muito bom poder ajudar os outros”, diz Jadna.
Maria Aparecida conta que sua vida poderia ter sido diferente se não tivesse perdido seus documentos e ficado tanto tempo sem eles. Ela aproveita ainda para aconselhar aqueles que passam pela situação, agora superada, que ela. “Quem não tem deve procurar, como eu fiz. Porque é muito importante ser um ser humano reconhecido pela sociedade e pelo governo”.
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