Cotidiano

Casos da febre do oropouche, que deve atingir o litoral de SP, sobem quase 200 vezes

Segundo professor da Unicamp, a doença tem potencial de causar estragos em áreas onde não havia circulação do vírus

Da Reportagem

Publicado em 05/08/2024 às 12:00

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A epidemia atual de febre oropouche é causada por uma nova variante do arbovírus OROV / Lauren Bishop/CDC/Divulgação

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Os casos de febre oropouche, doença transmitida por mosquitos infectados, como o Culicoides paraensis, cresceram quase 200 vezes no País e tem potencial de causar estragos em áreas onde não havia circulação do vírus, segundo José Luiz Proença Módena, professor da Unicamp. A doença já teve casos registrados no Vale do Ribeira e pode atingir o Litoral de São Paulo.

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As conclusões são de um estudo divulgado em versão pre-print (artigo sem revisão por pares) no repositório medRxiv e publicado pela Agência Fapesp.

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Apesar de conhecida e documentada na América do Sul desde a década de 1950, a doença apresentou um aumento substancial de casos entre novembro de 2023 e junho de 2024 no Brasil, Bolívia, Colômbia e Peru.

No País, foram detectadas infecções autóctones em áreas anteriormente não endêmicas nas cinco regiões, com casos relatados em 21 unidades federativas e aumento de quase 200 vezes na incidência em comparação com a última década.

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“Essa epidemia está longe de acabar e tem potencial de causar estragos em áreas onde não havia qualquer circulação do vírus”, alerta o pesquisador José Luiz Proença Módena.

Epidemia atual

A epidemia atual de febre oropouche é causada por uma nova variante do arbovírus OROV, capaz de se replicar até cem vezes mais do que a original e de evadir parte da resposta imune.

O que ela causa?

A febre do oropouche faz parte do rol de doenças negligenciadas, como a malária e a dengue, por exemplo.

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Ela é transmitida por mosquitos espécie Culicoides paraensis e causa dor de cabeça, artralgia, mialgia, náusea, vômito, calafrios e fotofobia – mas também pode levar a complicações mais graves, como hemorragia, meningite e meningoencefalite.

Investigação

Para investigar os fatores virológicos por trás desse ressurgimento, pesquisadores das universidades Estadual de Campinas (Unicamp), de São Paulo (USP), do Kentucky, do Texas (Estados Unidos) e da Federal de Manaus (Ufam), além do Imperial College London (Reino Unido) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), combinaram dados genômicos, moleculares e sorológicos de OROV do período entre 1º de janeiro de 2015 e 29 de junho de 2024, além de caracterização in vitro e in vivo, em um estudo financiado pela FAPESP (projetos 18/14389-0, 22/00723-1, 22/10408-6 e 23/11521-3).

O primeiro passo foi testar por PCR um grupo de 93 pacientes do Amazonas com doença febril não identificada e negativos para Malária, entre dezembro de 2023 e maio de 2024.

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O resultado foi positivo para OROV em 10,8% dos casos e, posteriormente, foi isolado o soro de sete pacientes em culturas de células.

Em seguida, esses isolados foram usados para avaliar a capacidade replicativa em diferentes células – de primatas e humanos – sempre em comparação com um isolado antigo de OROV.

Por fim, foi avaliada a capacidade de ambos os vírus serem neutralizados por anticorpos presentes no soro de camundongos previamente infectados com o OROV e de humanos convalescentes para linhagens anteriores, infectados até 2016.

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Para isso, foi feito um teste de neutralização por redução de placas (PRNT50), que mede a redução do número de partículas virais viáveis formadas após a incubação com diferentes diluições do soro dos pacientes ou de camundongos.

“Percebemos que o novo OROV apresenta replicação aproximadamente cem vezes maior em comparação com o protótipo”, explica Gabriel C. Scachetti, pesquisador do Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes (Leve) da Unicamp e um dos autores do estudo. “Além disso, produziu 1,7 vez mais placas, de tamanhos 2,5 vezes maiores, um indício de maior virulência.”

“Também infectamos camundongos com as duas cepas e vimos que o vírus antigo não protege contra o novo – a redução na capacidade de neutralização foi de pelo menos 32 vezes”, completa Julia Forato, também autora e pesquisadora do Leve.

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Saúde pública

“Além de traçar um panorama da epidemia de oropouche, o trabalho apresenta possíveis explicações para o aumento no número de casos, servindo de base para ações de controle epidemiológico”, afirma José Luiz Proença Módena, professor do Instituto de Biologia da Unicamp (IB-Unicamp), líder do Leve e um dos coordenadores do estudo.

“Se o novo vírus escapa da proteção em áreas com alta soroprevalência, há maior probabilidade de infecções e transmissão, inclusive com disseminação para outras regiões do Brasil, portanto precisamos confirmar e monitorar casos positivos e lançar mão de ferramentas para diminuir o risco de transmissão”, diz.

As professoras Ester Sabino e Camila Romano, ambas da Faculdade de Medicina da USP, participaram do estudo. William Marciel de Souza (Universidade de Kentucky) e Pritesh Jaychand Lalwani (Ufam e Fiocruz Manaus) também são coautores.

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