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Se você gosta de caranguejada deve ficar atento. Um estudo realizado por professores e alunos da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Campus Litoral Paulista, em São Vicente, revela a contaminação por metais pesados – mercúrio, cádmio, chumbo e cobre – em amostras de água, sedimentos e caranguejos- uçá em áreas de manguezais dos municípios de São Vicente, Cubatão, Bertioga, Iguape e Cananeia. Apenas a região próxima à Estação Ecológica de Jureia-Itatins, em Peruíbe, está livre do problema.
“O resultado que mais nos surpreendeu foi em Bertioga, pois no local, que é utilizado para pesca esportiva e tem grande beleza paisagística, não existe indústrias”, revela Marcelo Pinheiro, professor de Zoologia dos Invertebrados da Unesp e coordenador do projeto. Segundo ele, que estuda o uçá desde 1998, a hipótese de contaminação na Cidade pode ter relação com um antigo lixão. “Acreditamos que os poluentes de um lixão na BR 101, desativado em 1999, possa ser a origem do problema. Estudos revelam que o lixo emite chorume por até 20 anos”, afirma.
O projeto durou três anos (2010-2012) e avaliou seis áreas de manguezais – divididas em três subáreas diferentes – de Cananeia, Iguape, Peruíbe, São Vicente, Cubatão e Bertioga. Foram pesquisadas a água, o sedimento, a vegetação e o caranguejo-uçá. “Estamos em uma das regiões mais antigas, que conta com influência antrópica de mais de 500 anos por conta da grande densidade demográfica, do uso portuário e do complexo industrial em Cubatão e São Vicente”, explica Pinheiro.
Cubatão foi o município que apresentou maior índice de contaminação por cobre e chumbo na água e de mercúrio no sedimento. “Acreditamos que isso se dá devido ao complexo industrial. Na década de 1970, a Cidade sofreu com a poluição, inclusive peixes sofreram mutações genéticas e nasciam sem olhos. A partir da década de 1980 foi feito todo o controle da água e muita coisa melhorou. No entanto, os metais, que são os poluentes mais fáceis de encontrar na natureza ficam aprisionados nos sedimentos dos manguezais. Ele é uma espécie de barreira. Quando por algum motivo ele é remexido, volta à tona”, destaca o professor.
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São Vicente obteve a pior resposta em relação à perda de material genético dos caranguejos. Foram coletadas amostras de sangue, que revelaram alterações celulares sete vezes maiores que as dos uçás avaliados em Cananeia e na Jureia. Com isso, os animais podem sofrer mutações genéticas. “A maior frequência dessas células indica que aquela população de caranguejos está sob efeito estressante de contaminação”, explica Pinheiro. Cubatão também apresentou resultados consideráveis nesse sentido.
Em Iguape três áreas apresentaram contaminação por mercúrio no sedimento. “Em relação à água e sedimento, Cananeia, Iguape e São Vicente obtiveram resultados similares”, ressalta o especialista. Entre as seis regiões, a de Cananeia foi a que mais se aproximou da Jureia, que está isenta de contaminação, sendo considerada com ‘efeito de poluição’.
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Pinheiro destaca que o consumo do caranguejo contaminado pode acarretar sérios problemas. “Quanto mais se alimenta desses crustáceos, maior as chances dos metais serem incorporados nos tecidos do corpo, que não consegue eliminar a contaminação. Eles podem acarretar problemas de ordem genética e vários tipos de câncer”.
O professor recomenda que o consumidor se informe sobre a procedência do caranguejo antes de comprá-lo. “É temerário comprar em estradas, pois não se sabe a procedência. Provavelmente aquele comerciante pode ter capturado de manguezais com níveis elevados de contaminação”, afirma.
Soluções
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Pinheiro ressalta a necessidade de investimentos em pesquisa e monitoramento. Para ele, os efeitos da poluição e da ação do homem podem ser minimizados com ações algumas ações simples.
“Primeiro é necessário verificar de onde vem o problema. Quem é o responsável? Se em Bertioga é o lixão, tem que verificar o que precisa ser feito. Fiscalizar filtros das indústrias e os mecanismos que elas utilizam para eliminar os poluentes. Hoje já se sabe, por exemplo, que a fibra de coco, pode ser utilizada para despoluição. Também é preciso aumentar os recursos dos órgãos de fomento à pesquisa para que sejam realizados estudos com uma freqüência maior”, afirma o professor.
Proibição
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O caranguejo-uçá está na lista das Espécies Ameaçadas de extinção no Estado de São Paulo desde fevereiro. O Decreto Estadual nº 60.133 declara o risco de extinção para a espécie. A multa para quem for pego capturando o crustáceo é de R$ 700,00, mais R$ 20,00 por quilo ou fração do produto. Se coletados nas zonas de amortecimento – áreas de Proteção Ambiental como o Parque Estadual da Serra do Mar, o Xixová- Japuí – a multa é dobrada.
Pinheiro, que também realiza trabalho junto ao Instituto Chico Mendes, órgão do Ministério do Meio Ambiente, comenta a proibição. Para ele, apesar da contaminação dos manguezais, não há risco de extinção. “Cada órgão tem sua autonomia. Existem vários pontos que dão base às decisões. Em nível federal a avaliação é a de que o uçá é uma espécie que inspira cuidados, mas não risco de extinção”.
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