A situação que está ocorrendo na Região é apenas uma amostra da mobilização já deflagrada no Interior de São Paulo / DIVULGAÇÃO
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O Governo de Jair Bolsonaro (sem partido) começa a se desgastar com a categoria que mais o apoiou: a dos caminhoneiros. No último domingo (25), dezenas de caminhoneiros que trabalham no Porto de Santos iniciaram um movimento de 48 horas contra a inércia do Governo Federal em relação as suas reivindicações.
A situação que ocorreu na região é, na verdade, apenas uma amostra da mobilização que foi deflagrada no Interior de São Paulo. Uma greve geral e nacional chegou a ser cogitada e o Porto de Santos é estratégico.
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A reclamação é que Bolsonaro e o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, não cumpriram as promessas feitas na última grande greve de 2018. Nesta segunda-feira (26), os caminhoneiros iniciaram um trabalho de conscientização que teve apoio da população da região.
Eles se concentraram numa área após o Viaduto da Alemoa, próximo à entrada do cais santista. Um grupo de cerca de 50 caminhoneiros iniciou a luta durante o dia e, à noite, o número subiu para cerca de 300, conforme a adesão foi evoluindo. Os caminhoneiros fizeram o mesmo nas rotas alternativas de acesso ao Porto.
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O QUE QUEREM.
Entre as reivindicações, os caminhoneiros exigem que o Governo Federal desatrele o valor dos combustíveis - diesel, gasolina, álcool, gás de cozinha - ao preço do dólar. O diesel usado nos caminhões já custa R$ 5,50 o litro. Também querem isenção de tributos federais e estaduais sobre o óleo diesel; pedágios mais baixos e ainda reclamam de multas injustas no Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI), que foi prometido que seriam extintas.
Os caminhoneiros também questionam a promessa da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) de uma tabela referencial de fretes, prometida e não cumprida pelo Governo Bolsonaro. A ANTT é a autarquia federal responsável pela regulação das atividades de exploração da infraestrutura ferroviária e rodoviária federal e de prestação de serviços de transporte terrestre.
Segundo apurado pela Reportagem, a questão da tabela de fretes não seria interessante para o Agronegócio, que estaria explorando os caminhoneiros para fazer fretes de longa distância no transporte de grãos para o Porto de Santos onde ele é escoado.
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A última estimativa da quantidade de caminhoneiros autônomos do porto santista estava em oito mil – mil no trabalho interno do conhecido Vira e sete mil no transporte intermunicipal.
GASTOS.
Conforme levantado, um frete para o Mercado Mmunicipal em São Paulo, por exemplo, com uma distância de 200 quilômetros (ida e volta), com um consumo de dois quilômetros por litro, subindo a serra com 30 toneladas, as empresas pagam ao caminhoneiro autônomos um frete de R$ 1.100,00.
“Nossos gastos são R$ 450,00 de óleo, mais R$ 90,00 de pedágio para descer a serra e mais R$ 60.00 de uma diária na rua para refeições, totalizando R$ 600.00 em despesas. Sobra R 500.00 por 24 horas de trabalho, pois nem sempre conseguimos entregar o container utilizado para o transporte no mesmo dia”, explica um caminhoneiro que preferiu não se identificar.
Ele continua: “temos que contar com a sorte de não estourar alguns dos 18 pneus que compõe a nosso equipamento entre cavalo e carreta. Um pneu genérico custa R$ 2.200.00. Um pneu de primeira linha custa entre R$ 2.500.00 a R$ 3 mil”.
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O trabalhador revela que os preços dos alimentos sobem mensalmente. O mesmo acontece com o diesel e está muito difícil manter uma manutenção no veículo para o seu pleno funcionamento. “Quando pegamos a nota de transporte para realizarmos o serviços, percebemos que a transportadora que nos dá o serviço cobra um frete que varia de três a quatro mil reais, dependendo do valor agregado do produto transportado”.
Por isso, termina: “esse é o maior motivo que nós caminhoneiros autônomos temos que ter uma tabela de fretes para que as transportadoras não explorem um trabalho tão arriscado, porque ainda temos o grande risco de sermos assaltados durante o transporte”.
PPI.
Alguns terminais portuários chegaram a sofrer com o movimento dos caminhoneiros e enviaram informações que as operações estariam suspensas até que a situação ficasse definida. Um panfleto foi distribuído para explicar as principais reivindicações da categoria.
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Os caminhoneiros querem também o fim do Preço de Paridade de Importação (PPI), que chega a ser pago três vezes – quando abastecem os caminhões com diesel (15%); quando abastecem com gasolina e etanol (15%) e o gás de cozinha de casa e do caminhão (15%).
“O Brasil e autossuficiente em petróleo cru e refino, mas o sistema não permite um combustível mais barato. Hoje, produzimos 70% de nosso consumo e poderíamos estar produzindo 100%. Não precisamos importar, basta reativarmos a capacidade de refino de nossas refinarias”, afirmam no panfleto.
O documento também pede a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), com teto máximo de 10% nos preços finais nas bombas. “Com isso, ganharemos uma redução entre 30 e 35%. Só através da união conseguiremos tirar o País deste sistema de roubo e corrupção”.
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SOLIDARIEDADE.
Na terça-feira (27), à noite, a informação é que os caminhoneiros que aderiram ao movimento já não desceram a serra com destino ao Porto. Quem não quis retornar para suas cidades de origem deu apoio à paralisação. As ruas da Alemoa, de certa forma, garantiram segurança e infraestrutura de bares, restaurantes, e barracas de lanche. Na Avenida Nossa Senhora de Fátima, há supermercados. Muitos caminhoneiros de viagem têm suas próprias cozinhas.
Muitos santistas levaram mantimentos, café, pão com manteiga e marmitas em apoio à mobilização, que terminou nesta quarta-feira. “Isso nos surpreendeu. Trouxe esperança que a população está torcendo por nós e acreditando que ainda podemos ajudar o país a sair fora deste governo”, disse um caminhoneiro, informando também que a polícia esteve no local e, ao perceber que a mobilização é pacífica, não interferiu.
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