Rei do Café existe há 104 anos e preserva a tradição dos tempos de glória da commodity no Centro de Santos / Matheus Tagé/DL
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Ainda na Rua do Comércio, antes de virar à esquerda, o cheiro suave de café, em torrefação no imóvel de número 34 da Rua Gonçalves Dias, chama a atenção. Em outras épocas, diversas casas centenárias daquela região, hoje fechadas, abrigavam estabelecimentos que comercializavam o chamado ‘ouro verde’. O vai e vem de carros e pessoas de outrora, nas pequenas vias de paralelepípedo, não é mais o mesmo. Resistente, o Rei do Café é um dos únicos que, com máquinas antigas e atendimento que remete aos tempos de glória do grão, continua a servir os clientes de forma tradicional há mais de 100 anos, em Santos.
“A gente gosta muito do nosso trabalho. É uma profissão fazer isso com amor. Atendimento é tudo. Convivo com o café desde os 9/10 meses de idade. O nosso diferencial é que não é industrializado. São moinhos antigos. O café é torrado a lenha e resfriado a ar”, disse Victor Mauri da Costa Rema Alves, um dos proprietários do Rei do Café. O administrador de empresas, de 27 anos, trabalha com o pai no estabelecimento, inaugurado em 1912. Seu avô se tornou sócio do comércio em 1920 e assumiu o comando do negócio em 1950.
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O imóvel centenário, que abriga o Rei do Café, preserva as características arquitetônicas de quando foi construído. Na segunda metade do século XIX, o café, muito consumido no mercado interno, se tornou o principal produto de exportação brasileiro. O escoamento do grão impulsionou o crescimento do Porto de Santos e provocou significativas mudanças na cidade, que passou a abrigar boa parte dos armazéns, empresas exportadoras e escritórios de negociação da commodity do País.
Corretor
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Foi no balcão do Rei do Café que o Diário do Litoral encontrou Murillo Vasques, o mais antigo corretor de café mais antigo de Santos. Enquanto a Reportagem entrevistava o proprietário do estabelecimento, o senhor de 81 anos – dos quais 66 dedicados ao café - chega e demonstra ter intimidade com o ambiente e as pessoas do estabelecimento. Em meio ao aroma do grão em torrefação, ele relembra a história.
“Comecei aos 15 anos limpando o escritório, fui crescendo e virei chefe. Em 1970, entrei na corretagem. Ainda sou corretor e vendo na praça. Recebo do produtor de cinco lugares de Minas Gerais e São Paulo. Hoje é mais de cooperativa. Muita coisa mudou, mas continuo aprendendo. A única coisa que sei é que nada sei”, disse Vasques, que, com saudosismo, lembrou que todo o processo de beneficiamento do café era feito em Santos, que chegou a abrigar 32 armazéns gerais dedicados ao produto.
Atualmente, apenas um armazém realiza todo esse processo em Santos. O número de escritórios de corretagem e exportadoras do grão também diminuiu consideravelmente ao longo dos anos. Apesar do cenário aparentemente negativo, depois do petróleo, o café é a commodity mais vendida no mundo. O Brasil detém o posto de maior produtor e exportador mundial, estando muito à frente do segundo colocado, o Vietnã.
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José Reinaldo Rema Alves, pai de Victor e proprietário do Rei do Café, também lembrou o período de glória do café em Santos. Em frente ao estabelecimento ficava um dos armazéns citados pelo antigo corretor. “A história do café é cíclica. O Rio de Janeiro e São Paulo eram o ‘Centro do Café’. Três milhões de sacas rodavam em Santos. Era um tempo bom, havia cerca de 200 empresas ligadas ao café. Se tiver 20 ou 30 exportadoras é muito”, ressaltou. Ele começou a trabalhar com o seu pai no comércio no início da década de 1980. O comerciante recebeu o título de comendador de Braz Cubas, condecoração por conta da tradição de mais de 100 anos de atividades no município.
Modernidade
Apesar de o Rei do Café manter as características do início do século passado, contando com maquinário que processa o grão cru em um torrador fabricado há 65 anos, com capacidade para 150 quilos por vez, os comerciantes apostam em novas ferramentas e sabores para conquistar públicos diversos, entre eles os mais jovens.
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“Apostamos em café especial por causa do mercado, que acredito ser o futuro. Há 15 anos já fazemos isso. Temos também o café gourmet. Preservamos a tradição. Não tem café embalado de um dia para outro, senão você vira mais um no mercado. Temos que ter um diferencial”, disse Victor. Todos os dias cerca de 600 quilos de café são torrados no estabelecimento comercial, que conta com serviço de Bike Coffe e utiliza as redes sociais da internet para interagir com os clientes.
O Rei do Café funciona de segunda a sexta-feira das 8h às 18h e aos sábados das 8h às 12h. Mais informações pelo telefone (13) 3219-1015.
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