Cotidiano
Apesar dos gargalos logísticos, de janeiro a setembro as exportações somam o recorde de 36,4 milhões de sacas, alta de 38,7% em relação ao mesmo período de 2023
Levantamento aponta que Santos, principal terminal escoador dos cafés brasileiros ao exterior, registrou índice de 84% de atraso de porta-contêineres em setembro / Nair Bueno/DL
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De acordo com levantamento realizado pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) junto a seus associados, os elevados índices de atrasos e alterações frequentes de escala de navios para exportação fez com que o país acumulasse 2,155 milhões de sacas do produto não embarcadas até setembro de 2024. Isso representa a carga de 6.529 contêineres. Com preço médio Free on Board (FOB) de US$ 269,40 por saca (café verde, set/2024) e a média do dólar a R$ 5,5410, isso implica que o País deixou de receber US$ 580,55 milhões, ou R$ 3,2 bilhões, como receita cambial.
Segundo o diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron, o cenário fica ainda mais crítico quando se analisa o prejuízo que os exportadores vêm acumulando devido à falta de infraestrutura portuária para cargas conteinerizadas no País.
"Nossos associados reportaram custo extra de R$ 5,938 bilhões, devido a detentions, armazenagens adicionais, pré-stacking e gate antecipado, ocasionado pelos elevados índices de atraso e alterações regulares nas escalas das embarcações", revela Heron.
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"Esses entraves revelam que nossos portos não evoluíram na mesma velocidade do agro, expondo o esgotamento da infraestrutura e a necessidade de ampliação da capacidade de pátio, berço e do aprofundamento de calado para recebimento de embarcações maiores", completa o diretor do Cecafé.
Somente em setembro, 69% dos navios, ou 190 de um total de 277 embarcações, tiveram alteração de escalas ou atraso para exportar café nos principais portos do Brasil, conforme o Boletim Detention Zero (DTZ). O balnaço é elaborado pela startup ElloX Digital em parceria com o Cecafé. O maior prazo de espera foi registrado em Santos, com 38 dias entre a abertura do primeiro e do último deadline.
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O levantamento aponta que Santos, principal terminal escoador dos cafés brasileiros ao exterior, registrou índice de 84% de atraso de porta-contêineres em setembro, o que envolveu 108 do total de 129 embarcações.
"O nível de navios que tiveram janela aberta por menos de 48 horas alcançou seu pior índice desde janeiro de 2023, quando começamos o levantamento, e, mais preocupante ainda é o fato de que 42 navios sequer tiveram abertura de gate, ampliando o cenário de custos extras e elevados aos exportadores", comenta Heron.
No complexo portuário do Rio de Janeiro, segundo maior exportador dos cafés do Brasil, o índice de atrasos foi de 58% no mês passado, com o maior intervalo sendo de 29 dias entre o primeiro e o último deadline. Esse percentual implica que 42 dos 72 navios destinados às remessas do produto sofreram alteração de escalas.
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Heron reforça que o crescimento dos embarques das cargas conteinerizadas revela a falta de infraestrutura nos portos brasileiros, que significa custos logísticos às exportações, menor repasse do valor FOB aos produtores e, mais recentemente, questões envolvendo emissão de certificados fitossanitários para determinados destinos por conta dos atrasos e alterações de escalas.
"Graças ao competente e incansável trabalho das equipes de logísticas dos exportadores de café, somados ao apoio e à colaboração de alguns terminais portuários, o Brasil tem conseguido honrar seus compromissos. Contudo, é muito importante que as autoridades tenham consciência desse cenário e promovam o amplo diálogo para seguirmos abastecendo nossos compradores e evitemos mais prejuízos nas exportações", salienta o diretor do Cecafé.
O presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, enaltece o comprometimento dos exportadores brasileiros com seus clientes internacionais, abrindo mão de boa parte de suas margens, e honrando seus compromissos com os embarques.
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Em setembro, o Brasil exportou 4,464 milhões de sacas, maior volume já registrado para este mês, com avanço de 33,3% na comparação com o mesmo período do ano passado.
No acumulado do ano, as exportações somam o recorde de 36,428 milhões de sacas, com alta de 38,7% em relação aos nove primeiros meses de 2023.
"Apesar dos problemas logísticos, o setor tem dado claros sinais da sua capacidade de alcançar, em praticamente todos os meses deste ano, novos recordes de exportação e essa segurança torna a relação entre importador e exportador cada vez mais sólida", salienta.
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A opinião é compartilhada pelo diretor-geral do Cecafé, Marcos Matos. Ele destaca que os exportadores brasileiros estão comprometidos com o abastecimento de café no mundo, aos mais diversos e exigentes mercados.
"Estamos mostrando que conseguimos trabalhar duas, três, quatro, cinco vezes mais e fazer o nosso café chegar a todo o mercado consumidor mundial. Apesar das dificuldades, somos capazes de nos desdobrar e garantir o abastecimento diante de todas essas adversidades", comenta.
Matos anota que o Cecafé segue comprometido com a pauta de infraestrutura e logística, mantendo diálogos em todas as esferas governamentais e com os atores do setor privado, desempenhando um trabalho organizado entre as organizações do agronegócio e dos representantes de armadores e terminais portuários.
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Ferreira completa que a capacidade de articulação junto aos principais players da logística continuará evoluindo, "trazendo para discussão" aqueles que podem influenciar positivamente, como o Cecafé e as demais entidades da cafeicultura e representantes de importadores, companhias de navegação, terminais, autoridades portuárias e os governos federal, estadual e municipal.
"Com produção crescente, sob condições climáticas adequadas, demanda aquecida e preços remuneradores a nossos produtores, não temos outro caminho a não ser encontrar as soluções para que os cafés de maior diversidade, qualidade e sustentabilidade do mundo alcancem cada vez mais os milhões de consumidores que prestigiam o Brasil", conclui.
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