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A Bovespa chega ao final de 2013 sem ter o que comemorar. O mercado acionário doméstico caiu em sete dos 11 meses encerrados até o momento e encaminha para fechar dezembro também no vermelho. As perdas acumuladas somam mais de 15%, a maior parte delas decorrente do desempenho pífio do setor petrolífero. E quando se fala nele, o fracasso de OGX é o que vem à mente, mas Petrobras também não ficou muito atrás. A explicação para o desempenho das ações da estatal é um fator que se soma a inúmeros outros que turvaram o horizonte de negócios ao longo do ano: a má condução da política macroeconômica doméstica. O resultado é o descolamento das bolsas norte-americanas, onde, no ano até agora, o Dow Jones acumulou alta ao redor de 25% e o S&P, de quase 30%.
A comparação com as bolsas norte-americanas pode parecer injusta, já que o mercado acionário, lá, conta com a ajuda da dinheirama que o Federal Reserve - o banco central do país - vem jogando no sistema (US$ 85 bilhões por mês) para restaurar a economia local. Mas o desempenho da Bolsa brasileira desaponta até mesmo quando comparada com outras do grupo dos Brics, ou de países sul-americanos. Até o pregão do dia 23, a bolsa da África do Sul, por exemplo, acumulava ganho de 14,02% no ano e a indiana, de 8,62%. Os principais índices de China, Rússia e México, por outro lado, recuam, mas bem menos que o Ibovespa - respectivamente, 7,91% (Xangai), 4,84% e 3,18%, até o dia 23 de dezembro.
Um dos maiores fiascos empresariais da história, OGX foi peça-chave para ajudar a entender o desempenho do principal índice acionário da bolsa paulista neste ano. Com uma participação média de 5% nas três carteiras teóricas deste ano, o papel respondeu por 4,85 pontos da queda acumulada de 10,99% pelo índice de janeiro a outubro deste ano.
A saída dos papéis do Ibovespa a partir de novembro soou, então, como sinal de que haveria alívio no último bimestre do ano. Mas não ocorreu assim. A Bolsa terminou novembro em baixa, com Petrobras registrando perdas de pouco mais de 6% em cada um dos papéis, o que significa dizer que, do recuo de 3,27% do índice nos 30 dias, 0,66 ponto veio da estatal. No ano até o fechamento de 23 de dezembro, a ação ON perdeu cerca de 17% de seu valor e a PN, ao redor de 9%.
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A ação ordinária tem desempenho pior este ano, entre outras razões, pela mudança na política de dividendos da companhia logo no início de 2013. Sem caixa para fazer frente a uma vultosa política de investimentos exigida pelo governo para o pré-sal, a companhia viu na alternativa uma forma de economizar recursos. Os investidores não gostaram e venderam papéis ON com mais vigor.
A questão mais atual que penaliza o papel - embora tenha rondado os negócios o ano todo - é justamente o que daria recursos para a companhia aliviar seu caixa: o reajuste de combustíveis. Como a inflação saiu do controle no início do ano, o governo segurou os reajustes da estatal. A União autorizou dois aumentos de diesel e um de gasolina no primeiro semestre (janeiro e março), mas foram insuficientes na avaliação do mercado e um novo reajuste vinha sendo reivindicado diariamente na segunda metade do ano. Com essa pressão, foi autorizada uma alta derradeira, de 4% para a gasolina e de 8% para o diesel, no final de novembro.
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Porém, uma fórmula que garantiria reajustes automáticos e o fim da defasagem entre preços domésticos e internacionais, anunciada com pompa e circunstância pela presidente da estatal, Graça Foster, no dia em que comentava o balanço ruim do terceiro trimestre, ficou sem efeito. Criticada pelo ministro da Fazenda, que chegou a falar em indexação, a fórmula passou a ser assunto "estritamente interno à companhia".
Pode até ser que isso tenha sido pensado desde o início. Mas a falta de transparência tem seu preço. As ações da empresa, que tinham galgado +9,83% (ON) e +7,57% (PN) no primeiro pregão após a empresa comunicar que anunciaria uma metodologia de reajustes automáticos, devolveram os ganhos. A perda alcançou 10% num único pregão, justamente o que se seguiu à reunião do conselho em que foi comunicado que a fórmula não seria divulgada.
Emaranhado
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A confusão no aumento dos combustíveis é apenas uma das pontas do emaranhado de decisões ruins tomadas pelo governo na seara macroeconômica e que se refletiram na Bovespa. A inflação fora da meta ainda no primeiro semestre - maio e junho denunciaram a leniência do governo com o IPCA anualizado acima de 6,5% - foi apenas um dos sinais de que as coisas não estavam nos trilhos.
O curto-circuito macroeconômico é anterior. Sem voltar muito no tempo, em setembro de 2012, a política de renovação de concessões de energia já havia prejudicado os papéis do setor e espalhado faíscas sobre outros segmentos regulamentados. "Os desacertos na política econômica levaram a desempenhos negativos do Ibovespa, assim como descontrole inflacionário e mudanças de marco regulatório. A perspectiva de mudança de rating para baixo para o Brasil é só o desfecho desse quadro todo", comentou o diretor da Órama Investimentos, Álvaro Bandeira, se referindo à decisão da agência de classificação de risco S&P de mudar a perspectiva do Brasil de estável para negativa em junho. Em outubro, a Moody's também mudou a perspectiva de positiva para estável.
Para o assessor econômico do Banco do Brasil, Hamilton Moreira Alves, no entanto, a possibilidade de a Standard & Poor's tirar o grau de investimento do Brasil é a grande responsável pela derrocada do Ibovespa em 2013 - apesar de o índice ter fechado no vermelho também nos seis primeiros meses do ano. "Assim fica difícil para a Bovespa", destacou.
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O analista da Empiricus Research Felipe Miranda ponderou, no entanto, que o possível rebaixamento não vem de graça. "O principal problema foi um descasamento entre o que o se considera uma boa gestão macroeconômica e o que foi de fato feito. As contas públicas estão péssimas, a inflação está elevada, o que cria no investidor uma exigência de prêmios mais altos, sobretudo o estrangeiro", reforçou.
Bandeira, da Órama, acrescentou: "o resultado cadente das empresas em boa parte do ano, contas fiscais e externas se deteriorando a olhos vistos e, para ajudar, contabilidade criativa nos distanciaram do resto do mundo, que já vinha em recuperação".
Para o decorrer de 2014 ainda há algumas boas expectativas. A Petrobras, por exemplo, pode ganhar mais um reajuste nos seus preços no começo de 2014, enquanto ainda há espaço para o governo garantir que o IPCA fique dentro da meta. Para Bandeira, o governo deve ceder nesta questão justamente por causa dos investimentos 'pesados' que a estatal tem pela frente.
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Ainda assim, os analistas esperam um começo de ano ruim para a Bolsa. "O mercado pode piorar ainda mais antes de melhorar", disse Miranda, endossado também por Alves, do BB. "A perspectiva para 2014 é ruim. O 'tapering' está no horizonte", destacou referindo-se ao início de redução da política de estímulos do Federal Reserve que, para ele, ainda não está precificada nos ativos. "E a Bovespa, que não aproveitou o momento de alta das bolsas norte-americanas , deve acompanhar na queda".
Álvaro Bandeira avaliou que "o Brasil não está mal, mas está piorando" e que se o governo não der um choque de credibilidade no mercado, não há que se prever voos altos à Bolsa paulista. "Ainda tem salvação se esse choque vier", acredita. Caso contrário, a mudança do rating parece mesmo o caminho a ser seguido e mesmo que uma parte dessa perspectiva já tenha sido precificada, uma nova onda de vendas firmes pode ocorrer.
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