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Foi preciso um festival de rock para trazer Sérgio Mendes e seu piano de volta para casa. A lenda da bossa nova e do samba jazz já não tocava no Rio há nove anos - o último show foi num Réveillon na praia de Ipanema, e, antes desse, o hiato tinha sido de 28 anos. No sábado, 26, ele é a principal atração do Palco Sunset, do Rock in Rio, e tem como convidado Carlinhos Brown, com quem tem uma parceria de mais de 20 anos.
Levado pelo sucesso mundial da bossa nova, Mendes mora nos Estados Unidos há 50 anos. Veio de Los Angeles para o Copacabana Palace a convite de Roberto Medina, o criador do Rock in Rio. “Tivemos um jantar de cinco horas em Los Angeles para acertar. Ele é uma das figuras mais importantes da música brasileira que vivem fora do Brasil, e gosta desse tipo de desafio: é um inquieto. O show dele é caro, tem padrão de exigência de grande estrela internacional, e isso faz com que não seja simples para um contratante trazê-lo. Tem muita gente com vontade de assistir”, afirma o músico Zé Ricardo, curador do Sunset.
O tal desafio de se apresentar para um público não exatamente afeito ao esquema piano-bar - ele se apresenta às 20 horas, depois de Lulu Santos abrir o Palco Mundo e antes da banda australiana Sheppard, na noite que tem Rihanna como estrela máxima - não é novo para Mendes.
“Já toquei no (festival inglês) Glastonbury na mesma noite dos Rolling Stones. Este ano, participei do North Sea Jazz Festival (na Holanda), onde tocou o Elton John. Hoje é tudo misturado, e eu adoro tocar em qualquer lugar do mundo, para qualquer público”, contou, na quarta, 23, Mendes, que tem 74 anos.
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Em 2016, fará meio século desde que o pianista de Niterói ficou conhecido mundialmente. O caminho do sucesso foi a gravação de Mas Que Nada, que Jorge Ben Jor havia lançado em 1963 em sua estreia, por seu grupo Brasil ‘66. Nos anos 2000, ele viu seu público rejuvenescer quando bateu à sua porta um certo will.i.am rapper 30 anos mais novo apaixonado por seu cancioneiro, que vinha a ser um dos integrantes do Black Eyed Peas e um dos produtores de maior sucesso do mercado norte-americano.
“Ele veio cheio de vinis dizendo que me ouvia desde os 12 anos de idade e queria trabalhar comigo”, lembra Mendes. Em 2006, will.i.am produziu o CD Timeless, de Mendes, com participações de John Legend, Q-Tip e Justin Timberlake, e uma nova versão de Mas Que Nada, com os Black Eyed Peas, que chegou ao topo de execução nas paradas musicais mundo afora.
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“Eles trouxeram para mim os fãs deles, fiquei surpreso. Foi uma ótima oportunidade de trabalho”, disse Mendes, que louva a longevidade do “samba misto de maracatu” de Ben Jor: “É um hino nacional. Foi a primeira vez que uma música fez aquele sucesso no mundo todo e em português. Toco no Japão, na Coreia, na Indonésia, onde for, e as pessoas cantam em português, todas juntas. Não sei por que não fizeram versão em inglês na época. O resultado foi que virou um canto universal.”
O show do Rock in Rio terá, além desse hit, canções que Mendes vem tocando nesses 50 anos de carreira, como País Tropical (Ben Jor), Água de Beber (Tom Jobim/Vinicius de Moraes), Surfboard (tema instrumental de Tom), The Look of Love (Burt Bacharach/Hal David), Never Gonna Let You Go (do próprio Mendes), A rã (João Donato/Caetano Veloso) e Sou Eu (Moacir Santos/Nei Lopes).
Com Carlinhos Brown, o músico vai dividir duas composições do baiano gravadas por ele no disco Brasileiro, de 1992: Magalenha e Indiado. Além de Favo de Mel, versão brasileira de Real in Rio a música da animação Rio, de Carlos Saldanha, que por pouco não deu ao vencedor de três Grammys um Oscar de canção original em 2012.
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Para Brown, será um retorno a um festival que lhe trouxe um dissabor: em 2001, mal escalado para uma data que teria Oasis e Guns N’ Roses, ele recebeu vaias e garrafadas do público. Procurado pelo jornal O Estado de S.Paulo esta semana, ele não deu entrevista. Mas já havia declarado, ao ser anunciado para o festival, que não guarda mágoas. “Foi bom para mim, que fiquei conhecido no mundo inteiro”, brincou o baiano.