Geny busca formas de melhorar a alimentação e se livrar dos agrotóxicos / Rodrigo Montaldi/DL
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Debaixo de um quiosque rodeado por uma grande horta no Parque Cotia-Pará, em Cubatão, a servidora pública Geny Magalhães aguardava. Sobre a mesa, uma jarra de suco de abacaxi com hortelã, outra com chá de capim limão e mais uma com água e ramos de hortelã.
Há também um pilão branco, pequenos potes de vidro com essências, ervas de vários tipos e odores e um belo arranjo: dentro de um recipiente com água se misturam pedras, cristais e flores de hibisco. O cenário parece pronto para processos alquímicos.
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A temperatura da tarde beirava os 40°C, por isso, experimentar um copo de suco, outro de chá e mais um de água com hortelã foi tarefa prazerosa.
“Se a gente vivesse na época da inquisição, seríamos presas por beber isso”, brinca Geny enquanto o chá de capim limão é degustado. “Esse período tirou nossos costumes de estudar e usar o que vem da natureza. Manipular ervas era considerado bruxaria”, explica.
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Geny nasceu no interior de Alagoas pelas mãos de uma parteira. Segundo conta, passou a infância observando partos serem feitos nas próprias casas pelas mãos de mulheres simples, mas sábias na arte de trazer novas vidas ao mundo.
Além das parteiras, as benzedeiras também foram presentes neste período. “Eu cresci me cuidando com reza, banhos, chás. Quando me machucava colocava plantas em cima do ferimento e se tinha dor de cabeça, ia à benzedeira”, explica. A desconexão com as práticas mais naturais aconteceu quando a vida, aos 15 anos, a trouxe para Cubatão.
“Me formei em turismo, fiz pós em gestão ambiental e comecei a trabalhar. Depois de uns anos, os efeitos do estresse apareceram e durante uma consulta, o médico me aconselhou a caminhar na praia ou na terra que isso iria me ajudar a desestressar”, conta.
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Os passeios ao ar livre foram o pontapé para que Geny voltasse a se reconectar com suas origens. Começou a pesquisar formas de melhorar a alimentação e se livrar dos agrotóxicos. Tomar chás tornou-se hábito, bem como fazer cursos de manipulação de florais, das ervas e ler sobre física quântica.
“Física quântica fala muito sobre energia. Cada vez que leio sobre o assunto lembro das benzedeiras e percebo que, no final, o que aquelas mulheres faziam - sem saber dos preceitos da física - era manipular energia com as mãos e com a mente”, justifica.
E se alguns estudos dizem que tudo é energia, Geny afirma que quando sentimos aquela vontade intensa de se embrenhar no meio do mato ou passar o final de semana inteiro na praia, é nada mais que a nossa essência espiritual pedindo para recarregar a bateria.
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Nessa linha de pensamento, ela acredita que as doenças que atingem o corpo físico influem também no campo energético e vice-versa, por isso, passou a oferecer workshops e cursos onde ensina terapias complementares e como manipular as ervas medicinais em busca de
mais equilíbrio vital.
“Quem procura uma terapia complementar para tratar de uma doença física, em nenhum momento pode abandonar o tratamento tradicional oferecido pelo médico. As terapias complementares já se explicam no nome: elas apenas complementam”, explica.
Geny justifica que , às vezes, as pessoas estão tão carregadas com sentimentos ruins e preocupações que o remédio receitado pelo médico não faz o efeito esperado. “Aí é onde o tratamento natural age. Um banho de ervas ou um bom chá manipulado ajuda a cuidar dessa parte do corpo que o remédio não consegue e isso facilita os caminhos da medicina tradicional. Os florais, por exemplo, agem nas emoções”, detalha Geny.
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Neste ano, o Ministério da Saúde, por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complentares (PNPIC) reconheceu oficialmente a importância das terapias complementares e passou a oferecer diversos tratamentos do segmento no Sistema único de Saúde (SUS).
Benzedeira Moderna
Durante a entrevista, a Reportagem questionou se, ao entender tanto sobre o poder das ervas e da manipulação da energia corpórea, ela se considerava uma benzedeira moderna.
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A resposta foi afirmativa. “Quando alguém tem um problema e me pede um conselho, eu ando pela horta em silêncio e vou ouvindo minha intuição. Então pego as ervas, explico a receita e o resultado é sempre gratificante. É uma pena que o conhecimento das benzedeiras do passado tenha se perdido, mas eu tenho trabalhado para que essa cultura não morra”.
Banhos
Os banhos são conhecidos de quem procura benzedeiras para se cuidar. Entre a década de 80 e 90, era comum pais levarem as crianças para benzer por serem consideradas mais sensíveis. Mesmo com menor procura hoje, Geny ainda indica alguns.
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“Se a criança está fraca, o banho de alfazema ou lavanda e alecrim vai ajudar porque são ervas que acalmam e fortalecem. O ideal é que seja na banheira. Vejo muitos pais querendo tirar a banheira cedo e acho isso um erro. A imersão faz bem. Para mau olhado podemos amassar manjericão e arruda, misturar com álcool de cereais e água, colocar em um borrifador e espirrar na criança durante o dia. Já para catapora ou sarampo, banho de folha de sabugueiro”.
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