Cotidiano

Base ecológica é retrato do abandono no Litoral de SP

A Reportagem do Diário do Litoral esteve no local no último final de semana

Carlos Ratton

Publicado em 24/08/2024 às 08:00

Atualizado em 24/08/2024 às 12:37

Compartilhe:

Equipamento está localizada na Rodovia Ariovaldo de Almeida Vianna SP-61 / Divulgação

A Base de Monitoramento Ambiental, localizada no quilômetro 13,5 da Rodovia Ariovaldo de Almeida Vianna SP-61, conhecida como Estrada Guarujá-Bertioga, às margens do Canal de Bertioga, se encontra abandonada. A Reportagem do Diário do Litoral esteve no local no último final de semana, mas o equipamento estava com portões fechados por cadeados. 

No entanto, recebeu imagens e documentos que comprovam não aproveitamento do equipamento que tinha, como ideia inicial, servir de base para que técnicos ambientais e estudantes universitários desenvolvessem estudos marinhos (manguezais) e sobre a biodiversidade da Mata Atlântica da região. 

Nem a população caiçara consegue dar um destino útil à base, apesar de inúmeras tentativas junto à Administração Municipal, oferecendo-se para nela iniciar e desenvolver projetos, cursos e atividades pesqueiras que proporcionem meios de sobrevivência, conforme já publicado por intermédio de inúmeras reportagens do Diário do Litoral.   

Procurada, a Prefeitura de Guarujá informa que iniciou o chamamento público para firmar um termo de colaboração para ocupação compartilhada da área pública, no último dia 8 de junho, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Segurança Climática (Semam). Ao todo, quatro entidades manifestaram interesse, mas apenas uma submeteu a documentação necessária para pleitear o uso do espaço. 

Não houve interposição de recursos contra o resultado preliminar e, em 31 de julho, o município reconheceu o Instituto Meu Oceano como o único apto a pleitear a cessão de uso do espaço e, no momento, o plano de trabalho e as demais documentações exigidas estão em análise jurídica. 

Uma das recomendações é que, após a cessão de uso do espaço, as atividades e os resultados do projeto sejam apresentados a cada dois meses ao Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental (APA) Serra do Guararu e ao Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Condema). 

A Prefeitura revela que a comunidade local e a Confederação Municipal de Associações de Bairro de Guarujá (CMAG), que estavam reivindicando a ocupação comunitária do espaço do entorno e das edificações, não manifestaram interesse durante o prazo estabelecido no edital, que é o instrumento jurídico que garante a ampla participação das entidades. 

Apesar disso, a Semam incluiu na manifestação técnica uma contrapartida que recomenda a realização de parcerias com entidades, institutos e demais atores que já exercem atividades na APA Serra do Guararu, para que possam fortalecer o projeto. 

A comunidade do Sítio Cachoeira, inclusive, tem assento no Conselho Gestor da APA Serra do Guararu, podendo se manifestar e participar das discussões da cessão de uso com todos os atores locais. Quanto à manutenção do local, o Instituto Meu Oceano se comprometeu a realizar a reforma e manutenção de toda a infraestrutura do espaço público.

MP-SP

Vale lembrar que o processo é acompanhado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MP/SP), por meio do Grupo de Atuação Regionalizada de Defesa do Meio Ambiente (Gaema).

Anos atrás, a base foi montada para ser um laboratório estuarino e centro de triagem de animais marinhos, mas a Administração nunca conseguiu que o objetivo fosse alcançado, inclusive o da casa flutuante que, segundo caiçaras e mergulhadores que frequentam as imediações, por falta de zeladoria, está em situação precária, correndo risco até de afundar.

Exclusivo

Há três anos, o Diário descobriu que a Base Ambiental - construída em área da União e com recursos públicos, estava cedida a um instituto que nada tinha a ver com preservação ambiental, mas venceu uma licitação pública. Uma das edificações até servia como uma fábrica de chocolate, e outra foi cedida para gravações de audiovisual para programas não-governamentais.

Na ocasião da reportagem, a informação da responsável pelo instituto era que o espaço estava sendo utilizado para o desenvolvimento de um projeto social e que a matéria prima (cacau) era recolhido por famílias ribeirinhas da Amazônia e transformado na fábrica por famílias da Serra do Guararú (Guarujá).
No entanto, a Reportagem descobriu que somente nove pessoas trabalhavam na fábrica de chocolate, sendo oito do Perequê e só uma das imediações. Todos ganhavam por produção. 

Também que os principais consumidores eram moradores dos loteamentos de luxo próximos - Iporanga, São Pedro, Tijucopava e Itaguaí - empresários e pessoas de classe alta da capital paulista. 

A Base nasceu em 2013, no governo da prefeita Maria Antonieta de Brito (MDB), com objetivo de fomentar o desenvolvimento sustentável. Na época, abrigou a Casa Flutuante Aratu, da Semam, uma parceria da Prefeitura, Ministério Público Estadual (MPE) e iniciativa privada.

O equipamento, que chegou a vislumbrar um laboratório de monitoramento ambiental, somou investimentos na ordem de R$ 1,1 milhão em equipamentos e instalações em função de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC), assinado entre o MPE, que também gerou a reforma do píer com subsídios da empresa Phoenix.
Por estar em uma área de mangue e na Mata Atlântica da Serra do Guararú, o local era um imenso laboratório a céu aberto, onde não só os alunos da rede municipal de ensino, mas também estudantes universitários e pesquisadores desenvolviam trabalhos e pesquisas.

No local, além dos laboratórios para pesquisa e análise dos índices da balneabilidade da água do mar, também funcionou a Base de Fiscalização Grupamento Ambiental da Guarda Municipal. Vale lembrar que ainda foram instalados tanques (de diferentes tamanhos) para a recuperação de animais marinhos. 

VEJA TAMBÉM

ÚLTIMAS

Diário Mais

Veja os 20 nomes mais estranhos (e engraçados) registrados em cartórios brasileiros

Desde 1998 não se pode mais cadastrar nomes que sejam muito diferentes ou ligados a datas, objetos, números dentre outras restrições

Diário Mais

Conheça uma das praias mais serenas do Brasil e sua perfeição intocada pelo tempo

O local pode ter sido a primeira parada dos portugueses quando vieram ao país

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software

Newsletter