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Música, palavras de ordem e muitas remadas marcaram hoje (8) a barqueata – passeata de barcos – na Baía de Guanabara, no Rio, para cobrar ações concretas das autoridades na despoluição do local, um dos mais ricos ecossistemas do estado e cujo entorno concentra mais de 70% da população fluminense.
Dezenas de embarcações com ativistas, pescadores, remadores, velejadores e representantes do movimento Baía Viva foram da Marina da Glória, zona sul, onde ocorrerão competições de vela durante os Jogos Olímpicos Rio 2016 até a Urca, bairro que abriga o morro do Pão de Açúcar. Um dos organizadores do encontro e fundador do Baía Viva, o ecologista Sérgio Ricardo, lamentou que nos últimos 20 anos, desde a criação do movimento, milhões tenham sido gastos com saídas simplistas.
“Programas foram elaborados sem ouvir as universidades, os ecologistas e os pescadores, com todo um conhecimento acumulado. Várias obras se perderam. Há estação de tratamento construída há mais de dez anos que não trata nada, porque não tem tronco coletor”, contou. “Houve, inclusive, uma Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembleia Legislativa nos anos 1990, que concluiu que R$ 300 milhões foram desperdiçados com obras malfeitas”.
O ecologistas disse ainda que cerca de US$ 12 bilhões foram gastos nesses 20 anos em programas de despoluição e nada foi destinado à pesca artesanal e ao controle do assoreamento e reflorestamento. Os manifestantes também alertaram para os crescentes licenciamentos de projetos petrolíferos, com refinarias, gasodutos, oleodutos, indústrias petroquímicas, fundeio e atracação de navios. “O protesto por uma baía viva também é um protesto pedagógico, pois as pessoas que querem pescar, tomar banho, frequentar os parque no entorno da Baía de Guanabara precisam se mobilizar, se unir, pois as políticas públicas têm sido ineficientes”.
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Durante todo o dia estão previstas bandas, blocos de carnaval, exposição de fotografias, rodas de conversa e oficinas às margens da Baía de Guanabara. A atleta Isabel Swan, medalha de bronze nas Olimpíadas de Pequim, na China, ressaltou que a limpeza temporária do trecho da baía onde haverá competições no ano que vem é possível, mas não basta. “Precisamos de uma limpeza maior de toda a Baía a longo prazo e que isso entre no calendário da cidade e seja orquestrado por pessoas que já fizeram esse tipo de projeto”.
Para o deputado Flavio Serafini (PSOL/RJ), presidente da Comissão Especial da Baía de Guanabara, criada em junho, o novo cronograma anunciado pelo governo do Rio para limpeza da baía até 2030 é insatisfatório. Segundo ele, os trabalhos da comissão devem levar 90 dias e o objetivo é apontar caminhos para a despoluição efetiva da baía.
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“É possível tomar ações de curto prazo para que a qualidade da água melhore. É muito triste que ela esteja nesse estado, com golfinhos voltando a morrer, poluição, risco de contaminação para as pessoas”, comentou. “Esperamos que, a partir desse movimento e de um esforço de diferentes esferas do Poder Público, consigamos retomar um planejamento sério de saneamento ambiental, tratamento dos lixões que ainda operam na margem da baía, revisão das licenças das indústrias no seu entorno”, disse ele, que também participou da barqueata.
Um dos compromissos assumidos com o Comitê Olímpico Internacional para sediar as competições foi a meta de despoluir 80% da Baía de Guanabara. Em julho do ano passado, o governo do estado anunciou novo plano de despoluição. No mesmo mês, o governo admitiu que o percentual não seria alcançado e que a despoluição ocorrerá em pelo menos 15 anos. O esgoto doméstico é a principal fonte de poluição da baía, que tem 50 afluentes, mas o local também é vazadouro de esgoto industrial.
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