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O velório foi anunciado ontem (9) às 17h40. É praticamente inevitável. No caixão, uma parte significativa da Cultura de Santos dos últimos 30 anos. Quem deu a notícia do iminente desfecho foi o empresário Michel Pereira: o Bar do Torto, a mais antiga casa de espetáculo em funcionamento de Santos, está prestes a fechar definitivamente suas portas.
Berço de artistas como a banda Charlie Brown Jr e o músico João Maria, o Bar do Torto (Torto MPBar) não consegue obter o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB). Não por falta de vontade de seu proprietário, mas porque a última determinação da Prefeitura para que todas as casas noturnas apresentem o Auto de Vistoria até o fim de junho não pode ser cumprida por ele.
O Torto está situado no térreo de um prédio residencial localizado no número 800 da Avenida Siqueira Campos, no Boqueirão, e o condomínio não tem interesse de pedir a documentação necessária. E os bombeiros não fornecem AVCB parcial, mas somente para toda a edificação.
Há 23 anos comandando o Torto, Michel Pereira contou ao Diário do Litoral que recebeu intimação da Prefeitura no dia 29 de março para o “fechamento imediato” da casa. Abriu à revelia e recebeu multa de R$ 1 mil. Ontem à noite, o Torto suspendeu a noite reservada para música latina, que constava no roteiro fixo de sua programação. E não há previsão para abertura no final de semana.
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“Vou me arriscar abrindo para poder receber R$ 2 mil e R$ 4 mil de multas nas reincidências?”, desabafou o empresário da casa, que conta com 15 funcionários e bandas de MPB e rock/pop em sua agenda. A decisão de fechar será tomada após um encontro com seu advogado. “Estou mantendo a casa aberta em respeito à história da Cidade. Como vou fazer? Jogar a história de 30 anos no lixo?”.
Antes da entrevista, Michel Pereira havia revelado sua penúria às autoridades, durante audiência pública na Câmara realizada para que secretários municipais e Corpo de Bombeiros ouvissem as reclamações e esclarecessem dúvidos dos responsáveis por casas noturnas no Centro.
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Outros já fecharam
O drama vivido pelo proprietário do Torto foi realidade para outros empresários. Desde a determinação tomada em março da Administração Municipal, das 32 casas noturnas localizadas no Centro Histórico, somente 17 apresentaram o AVCB atualizado.
Quatro foram embargadas e oito tiveram de encerrar as atividades por não conseguirem se adequar à lei. E as outras três respondem à intimação, segundo informou o secretário municipal de Finanças, Álvaro dos Santos Silveira Filho.
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Parte do problema foi que essas casas, incentivadas pelo Programa Alegra Centro, durante os governos anteriores, se instalaram no Centro Histórico como restaurantes, e depois passaram a ter agenda noturna como casas de espetáculos.
A audiência foi marcada por críticas à falta de entrosamento da legislação municipal com as exigências dos bombeiros. Para os empresários, o Projeto Alegra Centro é um fiasco.
Primeiro empresário a investir no Centro Histórico de Santos, Luiz Américo Mastellari disse ter dúvidas se continua as atividades na Typographia, aberta há oito anos. Ele conta que o novo decreto do Corpo de Bombeiros pode obrigá-lo a instalar mais uma porta. Por conta de seu imóvel ser tombado, ele diz que não sabe se vale a pena manter o estabelecimento.
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Mastellari contou que apesar de ter sido cobrado para cumprir todas as exigências em sua casa, entre as quais o pagamento de R$ 200 mil a uma empresa para ter a cor de seu estabelecimento conforme determinação dos órgãos de defesa do patrimônio histórico, não conseguiu adaptações simples, como a instalação de um aparelho de ar-condicionado. E se disse surpreso por ver outra casa noturna, na mesma rua onde está a sua, ter colocado uma quantidade enorme de aparelhos de ar-condicionado, provocando até a interrupção do fornecimento de energia elétrica em uma noite de grande movimento.
Outro empresário, Vitor Diniz afirmou que os fiscais da Prefeitura usam de truculência ao fazerem as vistorias.
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