Cotidiano

Bar do Torto pode fechar as portas após 30 anos

Dono da casa de espetáculo mais antiga de Santos não consegue obter Auto de Vistoria dos Bombeiros

Pedro Henrique Fonseca

Publicado em 10/04/2013 às 10:31

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O velório foi anunciado ontem (9) às 17h40. É praticamente inevitável. No caixão, uma parte significativa da Cultura de Santos dos últimos 30 anos. Quem deu a notícia do iminente desfecho foi o empresário Michel Pereira: o Bar do Torto, a mais antiga casa de espetáculo em funcionamento de Santos, está prestes a fechar definitivamente suas portas.

Berço de artistas como a banda Charlie Brown Jr e o músico João Maria, o Bar do Torto (Torto MPBar) não consegue obter o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB). Não por falta de vontade de seu proprietário, mas porque a última determinação da Prefeitura para que todas as casas noturnas apresentem o Auto de Vistoria até o fim de junho não pode ser cumprida por ele.

O Torto está situado no térreo de um prédio residencial localizado no número 800 da Avenida Siqueira Campos, no Boqueirão, e o condomínio não tem interesse de pedir a documentação necessária. E os bombeiros não fornecem AVCB parcial, mas somente para toda a edificação.

Há 23 anos comandando o Torto, Michel Pereira contou ao Diário do Litoral que recebeu intimação da Prefeitura no dia 29 de março para o “fechamento imediato” da casa. Abriu à revelia e recebeu multa de R$ 1 mil. Ontem à noite, o Torto suspendeu a noite reservada para música latina, que constava no roteiro fixo de sua programação. E não há previsão para abertura no final de semana.

“Vou me arriscar abrindo para poder receber R$ 2 mil e R$ 4 mil de multas nas reincidências?”, desabafou o empresário da casa, que conta com 15 funcionários e bandas de MPB e rock/pop em sua agenda. A decisão de fechar será tomada após um encontro com seu advogado. “Estou mantendo a casa aberta em respeito à história da Cidade. Como vou fazer? Jogar a história de 30 anos no lixo?”.

Antes da entrevista, Michel Pereira havia revelado sua penúria às autoridades, durante audiência pública na Câmara realizada para que secretários municipais e Corpo de Bombeiros ouvissem as reclamações e esclarecessem dúvidos dos responsáveis por casas noturnas no Centro.

Na audiência realizada na Câmara, empresários criticaram legislação (Foto: Matheus Tagé/DL)

Outros já fecharam

O drama vivido pelo proprietário do Torto foi realidade para outros empresários. Desde a determinação tomada em março da Administração Municipal, das 32 casas noturnas localizadas no Centro Histórico, somente 17 apresentaram o AVCB atualizado.

Quatro foram embargadas e oito tiveram de encerrar as atividades por não conseguirem se adequar à lei. E as outras três respondem à intimação, segundo informou o secretário municipal de Finanças, Álvaro dos Santos Silveira Filho.

Parte do problema foi que essas casas, incentivadas pelo Programa Alegra Centro, durante os governos anteriores, se instalaram no Centro Histórico como restaurantes, e depois passaram a ter agenda noturna como casas de espetáculos.

A audiência foi marcada por críticas à falta de entrosamento da legislação municipal com as exigências dos bombeiros. Para os empresários, o Projeto Alegra Centro é um fiasco.

Primeiro empresário a investir no Centro Histórico de Santos, Luiz Américo Mastellari disse ter dúvidas se continua as atividades na Typographia, aberta há oito anos. Ele conta que o novo decreto do Corpo de Bombeiros pode obrigá-lo a instalar mais uma porta. Por conta de seu imóvel ser tombado, ele diz que não sabe se vale a pena manter o estabelecimento.

Mastellari contou que apesar de ter sido cobrado para cumprir todas as exigências em sua casa, entre as quais o pagamento de R$ 200 mil a uma empresa para ter a cor de seu estabelecimento conforme determinação dos órgãos de defesa do patrimônio histórico, não conseguiu adaptações simples, como a instalação de um aparelho de ar-condicionado. E se disse surpreso por ver outra casa noturna, na mesma rua onde está a sua, ter colocado uma quantidade enorme de aparelhos de ar-condicionado, provocando até a interrupção do fornecimento de energia elétrica em uma noite de grande movimento.

Outro empresário, Vitor Diniz afirmou que os fiscais da Prefeitura usam de truculência ao fazerem as vistorias.

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