Cotidiano

Atropelador da USP pode responder por homicídio doloso

Para a Promotoria, o motorista que atropelou os cinco corredores no câmpus da USP anteontem assumiu o risco de matar ao dirigir embriagado

Publicado em 18/08/2014 às 14:05

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O Ministério Público Estadual de São Paulo (MPE) entrou na Justiça neste domingo, 17, com pedido de conversão do indiciamento do pedreiro Luiz Antonio Conceição Machado de homicídio culposo (quando não há intenção de matar) para doloso (quando há intenção ou assume o risco) e da prisão em flagrante para prisão preventiva.

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Para a Promotoria, o motorista que atropelou os cinco corredores no câmpus da USP anteontem assumiu o risco de matar ao dirigir embriagado. "Assim agindo, em princípio, o indiciado revelou conduzir o veículo com dolo eventual, assumindo o risco de matar aqueles corredores que praticam seu esporte dentro da Cidade Universitária", diz em seu pedido a promotora de Justiça Juliana Amélia Gasparetto de Toledo Silva.

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De acordo com o promotor Fernando Henrique de Moraes Araújo, que atua no caso ao lado da promotora Juliana, ontem mesmo a Justiça analisou o caso e não atendeu ao pedido da Promotoria. "O juiz seguiu a mesma linha do delegado, de homicídio culposo, e concedeu liberdade provisória a Machado sujeita ao pagamento de fiança de R$ 55 mil", disse ele.

Ontem à noite, o pedreiro continuava preso na carceragem do 91º DP (Ceagesp). A Secretaria Estadual da Segurança Pública informou ontem que ainda não havia sido notificada sobre a decisão judicial. Araújo diz que a Promotoria entrará com recurso hoje para que a Justiça reveja sua decisão. Para isso, ele pediu que testemunhas do acidente lhe enviassem fotos e vídeos do caso que deverão ser anexadas ao pedido. A reportagem não conseguiu contato com o Tribunal de Justiça.

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Gurman

Em um dos casos recentes de morte por atropelamento de maior repercussão, o que resultou na morte do administrador Vitor Gurman, de 30 anos, em 2011, a condutora do veículo estava alcoolizada e foi indiciada por homicídio com dolo eventual (quando assume o risco de matar). A nutricionista Gabriela Guerreiro Pereira não foi presa. No ano passado, o Ministério Público Estadual ofereceu denúncia à Justiça contra Gabriela por homicídio doloso qualificado.

Vítima

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"Não deu tempo nem de piscar. Só vimos um carro em alta velocidade acertando o seu Álvaro e vindo na nossa direção. Foi horrível." Ainda confusa por causa dos fortes analgésicos prescritos pelos médicos, a biomédica Anelive Torres, de 35 anos descreveu o momento em que ela e mais quatro corredores foram atropelados anteontem por um motorista embriagado dentro do câmpus da Universidade de São Paulo (USP), no Butantã, na zona oeste.

Anelive teve os ligamentos do joelho esquerdo rompidos e escoriações por todo o corpo. Ela recebeu alta anteontem à noite mas deverá voltar ao hospital nas próximas semanas para passar por uma cirurgia no joelho. O analista de sistemas Álvaro Teno, de 67 anos, morreu no acidente. Uma das melhores amigas de Anelive, a médica Eloísa Pires do Prado, de 43 anos, sofreu fraturas nas pernas, quadril e cabeça e continua internada, sem risco de morrer. O motorista Luiz Antonio Machado, de 43 anos, foi preso em flagrante e vai responder por homicídio culposo (sem intenção), lesão corporal e embriaguez ao volante.

Ao jornal O Estado de S. Paulo, Anelive contou que, assim como faz todos os sábados, corria com Eloísa e o treinador na Cidade Universitária. As duas treinavam para participar pela primeira vez de uma maratona, em Buenos Aires, em outubro. "Ia completar meus primeiros 28 km. Estávamos correndo desde as 7h30."

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Por volta das 9h, Machado invadiu a faixa da direita da pista, onde ficam os corredores, e atropelou o grupo. "Foi muito rápido. Lembro dele nos atingindo e depois só fui acordar quando estava sendo atendida pelos bombeiros", diz.

Anelive soube que uma das vítimas tinha morrido e que o motorista dirigia alcoolizado depois de ser levada para o hospital. "Não foi uma fatalidade.

Todo mundo sabe que é proibido dirigir embriagado. A sensação que fica é de impotência. Você sai de casa de manhã, deixa seus filhos para treinar e realizar o sonho de completar uma maratona e passa por isso", diz ela, mãe de um garoto de 5 anos e de uma menina de 2. "No meu caso, o sonho foi adiado, mas o seu Álvaro perdeu a vida. Espero que a Justiça seja feita."

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Anelive diz ainda que espera que a USP implemente nos fins de semana divisões de espaço para corredores, ciclistas e carros. "Já presenciei vários ciclistas sendo atropelados por carros, já vi uma bicicleta atropelar uma corredora." Procurada, a USP não se pronunciou sobre o assunto ontem.

Corredores planejam para sábado um ato na Cidade Universitária contra a morte de Teno, que foi enterrado ontem. O horário ainda será definido. Atletas pedem que, neste dia, corredores vistam preto. Ontem, em evento em Santa Catarina, vários atletas correram de branco, pedindo paz no trânsito, e homenagearam Teno. 

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