Cotidiano

Atleta de Santos superou infância e adolescência conturbadas para brilhar nas águas

Lucas Sauro, de 25 anos, hoje é nadador de Águas Abertas e quer que a sua história sirva de motivação para outras pessoas

Jeferson Marques

Publicado em 05/10/2022 às 07:30

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Lucas Sauro exibe algumas de suas medalhas / Nair Bueno/DL

A história de superação que contaremos agora é daquelas que, ao se colocarmos no lugar da pessoa, pensamos: será que eu teria essa força de vontade ou todo esse foco? Ainda criança, Lucas Barbosa Oliveira - conhecido como Lucas Sauro -, enfrentou as mais variadas dificuldades, desde a depressão e o suicídio da mãe até o abandono do pai. Vendeu balas e doces nas ruas, passou frio, sede e, hoje, aos 25 anos, é um dos principais nadadores de Águas Abertas (marítimas) da Região.

Sauro, como ele mesmo diz, foi um milagre. Sua mãe, Clara Barbosa, perdeu os dois primeiros filhos que gerava e ele foi o terceiro. Nasceu bem, saudável e tinha uma infância relativamente comum, acompanhando, as vezes, problemas matrimoniais entre seus pais. "Minha mãe tinha depressão por conta desses abortos que sofreu, precisou retirar o útero e, como meu pai era muito ausente por conta do trabalho, ela se sentia sozinha e tinha a intenção de ter mais filhos, o que não podia. Acabou descontando tudo na bebida e, cada vez mais essa tristeza a tomava", lembra.

Ainda jovem, aos 37 anos, Clara se suicidou. "Ela me deu dinheiro para ir na padaria, comprar pão, e passar na feira. Demorei cerca de 20 minutos e quando voltei já fui acolhido por vizinhos, que me contaram que ela tinha feito algo contra si e estava indo para o hospital. Fui até lá e, cerca de uma hora depois, os médicos informaram que ela não tinha resistido".

Nessa época ele tinha apenas 10 anos.

Voltando para a casa sem a mãe e com o pai cada vez mais ausente, Sauro olhou para os lados e percebeu que, dali em diante, estava sozinho e precisaria lutar por sua sobrevivência. "Os pais de alguns amigos meus me ajudavam com comida, roupas e mais algumas coisas, mas era diferente de ser a minha família. Meu pai também entrou em uma tristeza profunda após o ocorrido e cada vez menos me dava atenção ou me visitava. Notei, ali, que eu precisaria me virar; correr atrás das minhas coisas", conta.

Por conta da morte da mãe, do abandono do pai e de todas as adversidades que se avizinhavam, ele acabou sofrendo um derrame pleural (acúmulo de líquido entre os tecidos que revestem o tórax e o pulmão) e precisou ser internado. "Foram os vizinhos e amigos da minha mãe que me levaram para o hospital, me visitavam e tudo mais. Foi grave e quase morri".

Vendedor de balas e doces

Sauro, com 11 ou 12 anos, recebeu propostas para se juntar ao tráfico ou cometer furtos e roubos. "Não foi essa a educação que eu tive, então, decidi caminhar pelo lado certo das coisas. Um vizinho me emprestou dinheiro, comprei balas e doces e comecei a vendê-los em semáforos, avenidas e rodovias da Região".

Aos 15 anos o menino viveu uma 'vida cigana' (mudando de casa e bairros). Deixou sua casa (disse não ver mais sentido de continuar ali), pagava seus aluguéis e, como almejava sonhos maiores, também trabalhava como ajudante de pedreiro. "Nunca larguei a escola, o esporte e o dever com o trabalho. Trabalhava muito, mas sempre focado no meu objetivo, que era me tornar um atleta profissional. Treinava sozinho, sem acompanhamento, na praia, na rua ou onde fosse. Corria, nadava etc. Herdei da minha mãe esse DNA do esporte, pois ela era formada em educação física e transmitia essa importância para mim".

Num dia de muita chuva, vendendo balas na rua, teve sua foto publicada no Facebook com um trecho da sua história de vida e, assim, um atleta de Santos o conheceu e o chamou para treinar de forma mais profissional. "Ali as coisas começaram a mudar, pois era outra perspectiva. Comecei a treinar de forma mais intensa, coordenada e vi meu sonho de se tornar atleta mais próximo".

Com o tempo vieram alguns patrocinadores, a ajuda de uma academia de Santos - que cedeu a piscina para que Sauro treinasse - e suas primeiras competições oficiais. "Hoje participo de campeonatos estaduais e almejo, sim, ampliar isso a nível nacional e internacional", releva.

Sauro treina 6 horas por dia em dois períodos, de segunda a sexta, e sábado faz treinos no mar. Não toma refrigerante, nem come enlatados ou embutidos, evita doces e bebe bastante água. "Hoje sou um atleta e me sinto realizado por isso. Consegui. Sei do meu potencial e a onde posso, quero e vou chegar. Agradeço muito todas as ajudas que tive até hoje".

Para finalizar o atleta santista espera que a sua história de vida motive outras pessoas que se veem em situações difíceis na vida ne, talvez, sem esperanças. "Minha história prova que é possível. Você, que está passando por um momento ruim, acredite que isso é uma fase e invista em você. Creia que há uma força maior sobre nós e não perca a sua fé. Tenha foco, persistência e perseverança. Se for preciso, peça ajuda. Tenha gratidão. Tenho certeza que dias melhores passarão a se desenhar para você".

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