Cotidiano
Salvador dos Anjos Leal, o 'Seu Salvador', busca ajuda após gastar suas economias no tratamento de sua esposa, que faleceu; lei o impedirá de continuar rodando com seu taxi
Salvador afirma que sempre trocava de carro a cada dois anos / Nair Bueno/DL
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Há 55 anos trabalhando como taxista em Santos, Salvador dos Anjos Leal, conhecido como 'Seu Salvador', de 79 anos, pode ficar sem ter como trabalhar a partir do ano que vem. Há uma lei na Cidade que não permite que o mesmo veículo circule por mais de dez anos. A partir de janeiro de 2024, portanto, seu Fiat Grand Siena 2012/13, completa o prazo máximo de fabricação permitido pela Prefeitura. A situação se torna ainda mais difícil pois ele cuidou de sua esposa acamada pelos últimos 12 anos. Ela faleceu em março. Salvador afirma não ter condições de se sustentar sem o taxi, pois gastou grande parte de suas economias no tratamento de sua companheira.
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Para piorar a situação vivida pelo taxista, os bancos também lhe negaram financiamento para um novo veículo. "Fui até o banco fazer um financiamento para tentar trocar meu carro, porém não pude por conta da minha idade. Não tenho dívidas, sempre estive em dia, mas os bancos não me concedem mais financiamentos", declarou Salvador, em entrevista ao Diário do Litoral.
Bastante conhecido entre os taxistas da Baixada e se orgulhando da profissão, ele conta que já passou por várias companhias da cidade, onde fazia cerca de 30 corridas por dia, em um período de 12 horas. Hoje, ele afirma que consegue algo em torno de três ou quatro no mesmo período. Sempre começando em torno das 8h da manhã no Ferry Boat, na Ponta da Praia, ele encerra seu turno por volta das 20h, na Rodoviária de Santos.
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Segundo Salvador, o setor também está passando por várias dificuldades e muitos taxistas se encontram em situações semelhantes à dele. "Eu peço ao senhor prefeito, vereadores e CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), que aliviasse um pouco para nós, devido ao tempo que ficamos parados por conta da pandemia. Nosso trabalho também caiu muito, devido a aplicativos que surgiram".
No ramo desde 1968, o taxista alega que sempre trocava de carro a cada dois anos, e que hoje não consegue, mesmo para se adequar à lei. Ele ainda conta que seu carro passou recentemente por uma revisão rigorosíssima e mesmo quase excedendo o prazo permitido, continuaria apto para o trabalho. "Os quatro pneus estão zerados, a pintura está intacta, a lataria está intacta, o estepe intacto, não vejo motivo para tirarem este carro da rua", afirma.
A história de Seu Salvador começou a ficar conhecida nas redes sociais, após seu amigo e colega de trabalho José Eduardo Duarte, ter feito um post explicando sobre sua situação. "Eu agradeço de verdade não só a ele, mas minha filha, filho, três netos e a uma amiga da minha neta. Sem eles não teria sido ninguém nestes últimos tempos", completa o taxista.
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Segundo ele, sua esposa, que faleceu devido a problemas em decorrência de um AVC e de um Alzheimer, chegou a passar por vários hospitais como a Santa Casa de Santos e Hospital dos Estivadores. Ele também revelou parte dos gastos que teve nos últimos meses, quando sua companheira ficou em casa. "Gastava quase R$ 300 em menos de uma semana com curativos para ela", afirmou o profissional.
"Sem este carro eu não sou ninguém, tenho uma aposentadoria muito pequena e tenho de completar com o carro", comenta Salvador sobre a necessidade de ainda precisar trabalhar, mesmo estando aposentado.
CET-SANTOS
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Procurada pelo Diário, a CET-Santos afirmou que o transporte por táxi é um serviço permissionário do município, que deve seguir regras estabelecidas pelo Poder Público para garantir a segurança e o confortos dos passageiros que utilizam esse tipo de serviço. Segundo a nota, "não cabe à CET-Santos, que fiscaliza a regularidade do serviço, análise diferente ao que determina a lei".
A companhia afirma ainda que, por conta dos efeitos da pandemia, à época, uma nova Resolução da CET, 05/2020, que alterou as regras relativas à vida útil dos táxis, ampliando de oito para dez anos a idade máxima de fabricação destes veículos. Com a mudança, os taxistas têm um prazo maior para a obrigatoriedade de troca de seus carros, auxiliando, deste modo, na recuperação financeira da categoria, sem deixar de preservar a qualidade e a segurança desse serviços de transporte.