Cotidiano

Antigo 'Vale da Morte' é reconhecido por excelência em arborização urbana

Cubatão recebe chancela 'Tree City of the World', da ONU, por políticas públicas ambientais; autoridades destacam responsabilidade com o futuro

Luana Fernandes Domingos

Publicado em 16/04/2025 às 17:10

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Cerimônia para entrega do selo aconteceu nesta quarta-feira (16), no Parque Caminhos do Mar / Luana Fernandes/DL

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Cubatão acaba de ser oficialmente reconhecida como uma das Tree Cities of the World, selo concedido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) em parceria com a Arbor Day Foundation. O reconhecimento internacional coloca a cidade em um seleto grupo de apenas 34 municípios brasileiros que alcançaram esse padrão de excelência em gestão urbana verde.

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O título chega como consequência de diversas ações sustentáveis implementadas pela cidade nos últimos anos. Entre os destaques estão o Plano Municipal de Arborização Urbana — que prevê o plantio de 14 mil árvores nativas ao longo dos próximos 12 anos — e a execução de programas de compensação ecológica em áreas como os parques Cotia-Pará e Perequê, onde já foram plantadas centenas de mudas de espécies nativas.

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Além disso, projetos habitacionais sustentáveis apresentados pela Secretaria Municipal de Habitação têm promovido a recuperação de áreas degradadas e a preservação de ecossistemas locais, como manguezais e restingas.

Durante a cerimônia de oficialização, que aconteceu no Parque Caminhos do Mar nesta quarta-feira (16), o prefeito César Nascimento emocionou-se ao relembrar o passado difícil da cidade, antes conhecida como um dos maiores polos de poluição da América Latina.

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“Me sinto orgulhoso e privilegiado em hoje estar no comando da nossa cidade. Nasci aqui, acompanhei os tempos obscuros, os tempos em que Cubatão era motivo de chacota, em que a gente sofria bullying nos jogos, quando chamavam nossa gente de 'povo sem cérebro'. Nossa população merece esse reconhecimento. É um povo trabalhador, guerreiro, que tem essa preocupação ambiental. Hoje, mais de 30 anos depois, esse selo ratifica que somos, sim, um símbolo de recuperação ambiental. E mais do que isso, mostra que continuamos sendo um ‘Vale da Vida’. Essa chancela nos traz uma responsabilidade ainda maior: a de projetar o futuro”, afirmou.

O prefeito também adiantou os próximos passos da gestão municipal para manter e expandir as ações que garantiram a chancela internacional. “Vamos continuar com nosso Plano de Arborização. Agora fazemos parte do conselho nacional. Vamos colocar isso em prática, levar para dentro das escolas uma educação ambiental mais efetiva, como uma matéria primordial. E vamos apoiar ainda mais as organizações civis dentro das comunidades”, reforçou.

Presente na cerimônia, o professor Maurício Lamano Ferreira, da Universidade de São Paulo (USP), destacou que o selo só é concedido a cidades que cumprem critérios técnicos rigorosos, como orçamento público dedicado à vegetação urbana, avaliação e monitoramento constantes, e políticas públicas eficazes.

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“Para receber esse selo, a cidade tem que ter excelência e cumprir requisitos mínimos de uma boa gestão de arborização urbana. Cubatão cumpriu sua responsabilidade com políticas públicas voltadas à arborização. Ainda falta o Plano Municipal da Mata Atlântica, mas acredito que será executado em breve. A cidade se destacou também por orçamento público destinado à vegetação urbana, avaliação e monitoramento, além de ações celebrativas. Cubatão se tornou um exemplo de gestão que atua na fronteira do que internacionalmente se entende como excelência em arborização urbana. O contraste é simbólico: de uma cidade cinza há 50 anos para uma Cubatão verde e azul, que encanta os olhos”, explicou o especialista.

Ele também chamou atenção para a necessidade de que essas políticas levem em conta a inclusão social. “A arborização urbana deve ser pensada com lentes socioeconômicas. Os mais pobres vivem em áreas menos qualificadas, e é fundamental que a gestão pública olhe para esse setor. A Secretaria de Meio Ambiente precisa caminhar junto com Saúde, Habitação, Cultura, Obras... As políticas ambientais não podem andar sozinhas. Não adianta ter um maciço florestal se ele não é utilizado. As pessoas precisam de espaços qualificados para convívio e bem-estar”, alertou.

Sobre as responsabilidades futuras que acompanham o título, o professor foi direto: “Ganhar o selo uma vez é fácil, o difícil é manter. Cubatão agora precisa garantir orçamento específico para arborização urbana no próximo ano. Precisa revisar e aplicar os planos de arborização, Mata Atlântica, adaptação às mudanças climáticas. E principalmente, ter um conselho gestor participativo. A sociedade civil precisa ser voz ativa, não apenas decorativa. Esse é um diferencial que Cubatão já vem demonstrando.”

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O selo “Tree Cities of the World” não apenas insere Cubatão no mapa global da sustentabilidade, como reafirma sua transformação histórica — de polo industrial poluído a modelo de recuperação ambiental. Mais do que uma chancela, o reconhecimento internacional representa o compromisso contínuo com uma gestão urbana verde, inclusiva e orientada para o futuro.

O que fez Cubatão conquistar o selo Tree Cities of the World

  • Cumprimento de critérios técnicos internacionais de arborização urbana;
  • Implantação do Plano Municipal de Arborização Urbana com metas de plantio de 14 mil árvores nativas em 12 anos;
  • Compensações ambientais efetivas com plantios em parques urbanos e áreas públicas;
  • Projetos de habitação sustentável com recuperação de áreas verdes;
  • Monitoramento e avaliação da vegetação urbana;
  • Celebrações públicas e ações de educação ambiental;
  • Participação ativa da sociedade civil e integração entre secretarias municipais;
  • Histórico de transformação urbana e ambiental reconhecido internacionalmente.

Responsabilidades de Cubatão para manter o selo

  • Garantir orçamento específico e contínuo para arborização urbana nos próximos anos;
  • Executar o Plano Municipal da Mata Atlântica;
  • Revisar e aplicar o Plano de Adaptação às Mudanças Climáticas;
  • Ampliar ações de educação ambiental nas escolas como disciplina essencial;
  • Fortalecer conselhos gestores com participação ativa da sociedade civil;
  • Estimular o uso de áreas verdes por todas as faixas da população;
  • Promover ações integradas entre as secretarias de Meio Ambiente, Saúde, Obras, Cultura, Esporte e Habitação;
  • Manter e expandir o georreferenciamento e monitoramento contínuo da vegetação urbana.

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