O muriqui está na lista de animais ameaçados de extinção do ICMBio / Reprodução
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O maior primata das Américas, o muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides), espécie severamente ameaçada de extinção, foi avistado nas proximidades do km 45 da Rodovia dos Imigrantes, após o primeiro túnel no sentido São Paulo, em Cubatão.
O Diário conversou com Thiago Augusto do Nascimento, bólogo responsável pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) de Peruíbe, que destacou os desafios enfrentados pelo animal e a importância urgente de medidas de conservação.
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"O muriqui está na lista de animais ameaçados de extinção do ICMBio e é classificado como 'em perigo'. A maior ameaça para essa espécie é a perda de habitat, especialmente devido ao desmatamento e à fragmentação das florestas da Mata Atlântica. Além disso, tivemos no passado, e ainda lidamos com isso de alguma forma, a questão da febre amarela, que é fatal para esses primatas, pois não têm imunidade. Em 2017, houve um surto significativo que causou a morte de muitos animais", explicou o bólogo.
O tráfico de animais também é uma preocupação constante. O muriqui-do-sul é frequentemente perseguido por caçadores ilegais e traficantes de fauna, o que agrava ainda mais sua situação.
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Outro fator que tem impactado a espécie são as mudanças climáticas, que alteram o equilíbrio dos ecossistemas e afetam diretamente os muriquis.
"Esse primata é um dos maiores do Brasil e é típico da Mata Atlântica. Ele pode ser encontrado nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e até Minas Gerais, no Sudeste do Brasil. Os muriquis têm o comportamento de viver em grupos, e para isso, ocupam grandes áreas em busca de alimento. Na região em que o avistamento foi feito, temos o Parque Estadual da Serra do Mar, que é uma importante unidade de conservação", detalhou.
Com uma população estimada de cerca de 2.500 indivíduos, a espécie ainda luta para sobreviver em um ambiente cada vez mais hostil. O número de muriquis varia de acordo com o tipo de habitat.
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Em ambientes fragmentados, onde os recursos são mais escassos, os grupos podem ser de até 20 indivíduos. Já em áreas mais protegidas e intactas, como as do Parque Estadual da Serra do Mar, os grupos tendem a ser menores, com 4 a 10 indivíduos.
"Na região em questão, o relevo e as características ambientais ajudam a manter uma certa proteção para os muriquis. Porém, a estrada é uma grande interferência. Ela dificulta a locomoção dos animais, que muitas vezes não conseguem atravessar a rodovia, o que leva a uma maior concentração e a formação de grupos maiores. Isso reduz a variabilidade genética e compromete a saúde da população", alertou Thiago.
Apesar da dificuldade de observação devido ao comportamento discreto do muriqui, o bólogo comentou que, apesar de os animais serem residentes da região, o avistamento pode ser considerado raro, especialmente em uma rodovia movimentada como a Imigrantes.
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"Eles são residentes daquela região. Pode ser comum a observação, mas é difícil de conseguir, porque é uma estrada e os carros estão passando a toda hora. O caminhoneiro provavelmente teve sorte de o trânsito estar mais lento e conseguiu observar os animais. É importante lembrar que os muriquis vivem nas árvores, então, muitas vezes, o que vemos é só um vulto, ou até mesmo a árvore mexendo com o movimento dos animais", concluiu.
No Parque Estadual Carlos Botelho, localizado no Vale do Ribeira, há uma área de observação dedicada ao estudo e monitoramento dos muriquis.
A Fundação Florestal realiza um trabalho contínuo de monitoramento, acompanhando as populações de muriquis e assegurando sua conservação.
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Além disso, o parque oferece atividades programadas para os visitantes, permitindo que eles participem da observação dos muriquis.
Recentemente, o Diário noticiou sobre um Bugio-ruivo (Alouatta guariba), que aparecia regularmente e de forma espontânea em uma cachoeira de Peruíbe, foi realocado pela Fundação Florestal e a ação revoltou os moradores, que o tinham como mascote, tanto que até deram o nome de César para ele.
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