No espaço da Ocaruçu os visitantes participaram de piquenique coletivo, onde cada um contribuiu com um prato e uma bebida. / Nayara Martins/DL
Continua depois da publicidade
*Por Nayara Martins
Caminhar, estar em contato com a natureza e ainda conhecer os costumes do povo indígena. Esta foi a experiência que o grupo do Clube da Caminhada do Sesc de Santos vivenciou no sábado, 13 de abril, ao visitar a aldeia Tabaçu Reko Ypy, na Terra Indígena Piaçaguera, localizada na divisa entre Itanhaém e Peruíbe, no litoral sul de São Paulo.
Continua depois da publicidade
O grupo levou um susto ao chegar próximo à aldeia, já que foi recebido por indígenas furiosos e, segundo o líder Morubixaba Werá, não seria permitido a entrada. Tudo não passava de uma encenação dos indígenas para mostrar como eles enfrentam as dificuldades e o preconceito.
"O medo que vocês sentem é o mesmo que sentimos quando os indígenas são ameaçados pelo homem branco. Nós queremos apenas viver em harmonia com a natureza e manter a nossa terra e a nossa tradição", afirmou Itamirim, líder da aldeia.
Continua depois da publicidade
Após quase 15 quilômetros de caminhada, o grupo do Sesc chegou à aldeia por volta das 13 horas. No espaço da Ocaruçu (oca grande em tupi-guarani) os visitantes participaram de piquenique coletivo, onde cada um contribuiu com um prato e uma bebida. Eles fizeram uma mensagem em tupi-guarani para agradecer o alimento.
Os visitantes também assistiram a palestra com a líder da aldeia Itamirim. Ela contou um pouco de sua história e como foi formada a aldeia Tabaçu. "Enfrentamos muitas dificuldades para manter a nossa cultura e tradição. Nossa maior riqueza é a fauna, a flora e queremos viver em equilíbrio com a natureza". Segundo ela, os próprios indígenas estão perdendo a sua essência ao se deixarem influenciar pelos costumes do homem branco.
"Daqui algum tempo ninguém vai mais se comunicar, pois vão apenas se falar por mensagens no celular. É muito triste tudo isso", salientou a líder.
Continua depois da publicidade
Itamirim conta ainda que a aldeia Tabaçu possui dois espaços - a Ocaruçu (oca grande em tupi-guarani) um espaço para o fortalecimento da aldeia e o Nhanderakoá (modo de vida em tupi-guarani). Neste segundo espaço os indígenas vivem na mata e também expressam a sua dança, o seu canto e os esportes tradicionais.
TRILHA INTERPRETATIVA
Após a palestra, os visitantes caminharam por uma trilha interpretativa, conhecida como Trilha do Tatu, para chegar até o Nhanderakoá, em 30 minutos. Durante a trilha, eles puderam conhecer várias espécies de plantas nativas como bromélias, caraguatá, jenipapo, musgo, cipós, xaxins, palmeiras, entre outras. E ainda conheceram a lagoa, formada por água doce e que se originou da época em que uma mineradora estava em atividade no local.
Continua depois da publicidade
Os indígenas se apresentaram com as danças e os cantos indígenas. O grupo do Sesc formou uma roda e também dançou ao som do canto. Eles assistiram ainda ao Tucumbó - um dos costumes indígenas em que um deles se apresenta com uma corda e produz um som ao bater no chão. Segundo a tradição é para levar energias positivas.
Para encerrar, Itamirim chama a todos para participar da Roda do Auê, onde eles cantam "Hei Auê", um canto para purificar a alma. "Nosso canto é uma expressão de sentimento da alma, cantamos quando sentimos tristeza ou alegria", esclareceu a líder. Ela agradeceu a presença de todo o grupo e afirmou que eles já podem se sentir parte da família Tabaçu.
ALDEIA
Continua depois da publicidade
A aldeia Tabaçu Reko Ypy é formada, hoje, por sete famílias indígenas e 16 crianças. A reserva existe desde 2012 e faz parte da Terra Indígena Piaçaguera, localizada na divisa entre Itanhaém e Peruíbe. Uma das celebrações mais importantes é a cerimônia do Fogo Sagrado, realizada no mês de agosto, durante três dias na aldeia.
A aldeia possui uma escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental (até o 9º ano), onde lecionam quatro professores bilíngues - com aulas em português e em tupi-guarani. As famílias sobrevivem com a venda do artesanato e o projeto de Turismo de Base Comunitária. Tal projeto recebe visitas monitoradas de estudantes e turistas interessados em conhecer a vida, o artesanato e os costumes da tradição indígena.
A Terra Indígena Piaçaguera, no litoral sul de São Paulo, é morada para cerca de 284 indígenas tupi-guarani. Segundo a Funai, são atualmente 11 aldeias e que ocupam uma área de 2.790 hectares, localizada na divisa entre os municípios de Peruíbe e Itanhaém.
Continua depois da publicidade