Visitantes conheceram a Casa de Reza da aldeia e ouviram histórias da cultura guarani; o evento também reúne exposição de artesanato e apresentações / Matheus Tagé/DL
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Pela primeira vez, em 12 anos de existência, a aldeia Paranapuã, localizada no Parque Estadual Xixová-Japuí, em São Vicente, abre as portas para a população conhecer a forma como vivem e a cultura dos índios guaranis. O primeiro Jogos Indígenas preparado pela comunidade teve início ontem (19), data em que foi comemorado o Dia do Índio, e atraiu dezenas de pessoas. O evento segue até amanhã (21). Confira a Galeria de Fotos.
“Todo ano, durante esses 12 anos de luta, a gente sempre festejava fora como em Bertioga, que é mais conhecido devido a articulação entre a comunidade e o município. A gente decidiu dessa vez fazer o nosso, mostrar que a nossa cultura ainda vive, é rica e desconhecida pelo não indígena, que nós chamamos de jurua”, disse Didaco Karai, que é porta-voz do cacique da aldeia, Alcides Mariano Gomes.
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O Diário do Litoral chegou por volta das 11h30 na aldeia Paranapuã. Na portaria, que é controlada por funcionários do Parque, os agentes anotavam os nomes de quem chegava. O evento já havia começado e um grupo de visitantes era recepcionado por Didaco Karai , na Casa de Reza. Lá, ele falou um pouco sobre a cultura guarani e da relação dos índios com os brancos (não indígenas). Do lado de fora, as mulheres comercializavam artesanatos confeccionados na própria aldeia.
“A gente sempre passa de canoa havaiana por aqui e não consegue parar porque é um parque estadual e tem o lance da restrição. Essa é a primeira vez que a gente interage com eles. Fomos muito bem recebidos. A gente viu a necessidade deles e como aqui é lindo. Valeu muito a pena. Estamos muito emocionados”, disse o empresário Ronaldo Melo, que atua no ramo de esportes aquáticos.
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Melo e outras 20 pessoas chegaram a Paranapuã remando canoas e caiaques e levaram cerca de 60 quilos de alimentos para a comunidade. Ele ficou sabendo do evento por meio de um vídeo divulgado nas redes sociais. “Quando vi o vídeo me sensibilizei Daqui para frente imagina quantas parcerias podem sair daqui”, destacou o empresário.
A universitária Aline Roco é moradora de São Vicente e já conhecia a situação de Paranapuã. Para ela, o evento é essencial para que haja a integração entre os povos. “Muito importante esse evento, porque a comunidade tem que conhecer. Existe muito preconceito”, afirmou a estudante.
Segundo Aline, os moradores da cidade ainda desconhecem a existência da aldeia no município. “É de extrema importância que eles tenham o apoio da comunidade. A própria comunidade não sabe quem são eles, não participam, não estão aqui e muitas vezes não apoiam por desconhecer”, disse.
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Henrique Candido de Assis soube dos Jogos Indígenas de Paranapuã em uma reunião do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente (CMDCA). Ele ainda não conhecia a aldeia.
“Uma coisa é você ler no livro de história que o índio está isolado na mata e outra é você ver que ele está aqui bem perto de você. Eles não destroem nada aqui. Não tem nada destruído. Se eu olhar para o outro lado vou ver que lá está sendo degradado.Porque quem mora lá não é índio. Quem mora é o cara que provavelmente quer tomar a terra do índio”, afirmou.
Ele também citou o fundador da cidade para retratar a situação indígena na primeira cidade do Brasil. “Martim Afonso quando chegou em São Vicente quem ele encontrou primeiro: partidos políticos ou índios? E é uma pena a gente saber que pessoas querem colocar eles para fora”, afirmou.
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Evento
Os Jogos Indígenas seguem até amanhã. As atividades têm início às 10 horas e término por volta das 17 horas. Quem for até o local vai poder conferir apresentações culturais, exposição de artesanato e conhecer de perto a cultura do índio guarani. A aldeia fica localizada no interior do Parque Estadual Xixová-Japuí, no final da Avenida Saturnino de Brito, no Parque Prainha.
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Da luta à viralização na internet
A aldeia Paranapuã passa por um processo de reintegração de posse devido a uma ação movida pelo Governo do Estado. A justiça, que foi questionada pela União, determina a saída dos indígenas do local. Na decisão, o juiz também cita possível degradação da área. Devido ao impasse, a comunidade não pode promover projetos de subsistência. No início do ano, os índios de Paranapuã fizeram um ato para chamar a atenção da sociedade dos problemas enfrentados por eles. A manifestação, segundo eles, fortaleceu o movimento.
“Conseguimos mais apoio para mostrar nossa cultura. Antes era tudo escondido. Falavam que os índios não existem, que são índios falsos e não são verdadeiros. O pessoal que está aqui hoje pode ver com os seus próprios olhos que somos índios de verdade, que falamos nossa própria língua e que aqui não tem degradação nenhuma. Vocês conseguem só ver ambiente natural, ninguém faz nada de anormal”, afirmou Didaco.
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O documentarista Ailton Martins acompanha os índios de Paranapuã desde os protestos no início do ano e tem, a pedido deles, apoiado a comunidade indígena na divulgação da cultura, inclusive do evento que acontece até amanhã.
“Eles falaram que queriam fazer os Jogos Indígenas e gravar o vídeo para dar visibilidade para aldeia, pelo fato da reintegração, que muitas pessoas não conhecem a aldeia na região, e eu falei que seria tranquilo, montar o vídeo, fazer fotografia e viralizar pela internet. Os vídeos viralizaram e as pessoas ficaram me perguntando pelo Facebook. Tive que falar com o cacique: acho que a coisa vai ‘bombar’ vocês estão preparados se aparecer mil pessoas aí?”, comentou Martins, que também está produzindo um DVD com 12 músicas para um grupo de canto da comunidade.
Em outubro do ano passado, o Diário do Litoral publicou a série de reportagens Índios do Litoral, que abordou a situação indígena na região. A situação da aldeia Paranapuã também foi retratada.
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