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Por onde quer que se ande na Vila dos Jogos Mundiais Indígenas, em Palmas, capital do Tocantins, é comum encontrar índios de olhos vidrados na tela de um telefone celular. A nova geração de indígenas do país está conectada e, segundo eles explicam, não há resistência nas aldeias ao uso de tecnologia.
A Oca Digital, espaço reservado para cursos de ferramentas digitais na vila dos Jogos, fica lotada o dia inteiro. São índios de todo o país que querem aprender mais sobre tecnologia nas aulas ministradas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac Tocantins ). E quem não usa uns dos 30 computadores da oca aproveita o wifi gratuito a fim de enviar informações para a aldeia e para o mundo sobre o que se passa nos jogos.
“Eu costumo usar o Facebook para conversar com as meninas, com a família que mora longe e também para postar sobre a cultura indígena. Na minha aldeia tem rede de wifi e a conexão é boa”, disse Hebert, da etnia Javaé. Ele mostra orgulhoso as curtidas que recebeu ao postar fotos com o tetracampeão mundial de paracanoagem Fernando Fernandes, que visitou a sua aldeia localizada na ilha do Bananal, no estado do Tocantins. Índios mais velhos também têm aproveitado para criar os próprios perfis.
Tecnologia em prol dos direitos
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Para a pequisadora de educação indígena, Marina Terena, a cultura das etnias também é dinâmica e não está imune às transformações que a sociedade vive. “É preciso que isso se torne claro para o não índio, para acabar com determinados preconceitos. A tecnologia já está disponível para todas populações, indígenas ou não indígenas. O próprio movimento indígena hoje se mantém graças à tecnologia, através da disseminação da luta de seus direitos, sua cultura, sua história e trajetória”, disse.
De acordo com Marina Terena, os projetos que têm levado internet para as aldeias são reivindicações dos próprios índios, principalmente dos mais jovens. “Há um tempo, não tínhamos nem energia. Hoje a gente tem aldeias com elementos urbanos, com energia, com acesso à internet. As redes de conexão chegam principalmente por causa das escolas indígenas e, na maioria das vezes, a conexão é disponibilizada para o restante da aldeia”.
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Nas aldeias que ainda não têm rede de internet, os smartphones garantem a conexão. Nahhuri Javaé, da aldeia Canoanã, em Tocantins, caminhava até a cidade mais próxima para acessar as redes sociais em lan house. Agora, vai poder usar o celular novo, comprado em Palmas durante os Jogos. “Eu entro na internet para saber das notícias de outros povos indígenas, mas aqui nos Jogos estou usando para adicionar no Facebook as pessoas que conheci”, afirmou.
Whatsapp em Kuikuiro
Engana-se quem acha que a proximidade com a tecnologia faz os índios perderem contato com a própria cultura. Atsu Kuikuro, da etnia que vive em povoados de Mato Grosso, disse que, em grupos de WhatsApp, a conversa é no idioma dos Kuikuro. “A gente alterna, às vezes falamos em português, às vezes na nossa língua. Em Kuikuro é mais fácil porque a gente pensa em Kuikuro, é a língua que a gente fala desde pequeno”.
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Além do WhatsApp, Atsu tem perfis no Facebook, no Snapchat e no Instagram. “Eu usei [as redes sociais] para postar fotos de toda esta festa. Na minha aldeia muita gente ainda não tem celular, mas todos sabem usar. Quem não tem quer comprar”, disse.
Para Marina Terena, apesar de a tecnologia ser uma aliada na busca por conhecimento na divulgação das causas indígenas, o equilíbrio no uso é importante. “Essa é uma questão que não é só da sociedade indígena, mas da sociedade como um todo. É preciso equilíbrio. As redes sociais são ótimas ferramentas, mas é preciso o cuidado no uso para que o celular não traga uma individualização”, explica.
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