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A frase é do coordenador do Grupo São Jorge de Alcoólicos Anônimos J.R.V.B e não se trata de uma referência proposital em relação ao nome da entidade com um dos mais venerados no catolicismo, imortalizado no conto em que mata o dragão. Ao contrário, ela dimensiona o tamanho do problema de muitas pessoas viciadas, que não conseguem se livrar da bebida.
Ex-viciado, J.R. participa há 14 anos de uma das entidades mais tradicionais na recuperação de viciados de Santos e região, fundada em 1935. O Grupo se reúne às terças, quintas e sábados, às 20 horas, na Escola Municipal de Educação Infantil Olívia Fernandes, à Praça Coronel Fernandes Prestes, s/n — atrás da Policlínica do Embaré. Os telefones são 3235-5301 e 3224-3023.
Em entrevista ao Diário do Litoral, o coordenador mostrou não só a preocupação com o trabalho do grupo — que não recebe qualquer ajuda governamental — como também com os jovens que cada vez mais estão utilizando o álcool como estímulo antes e durante o lazer. "O álcool, essa droga liberada, é a porta para outras ilícitas, como a maconha, a cocaína e o crack. Depois que você entra, não consegue se libertar. É uma escravidão. Um caminho só de ida. Uma doença", afirma.
O coordenador dá seu próprio exemplo como alerta aos jovens. "Eu comecei a beber aos 14 anos. Bebia cerveja e não demorou muito para conhecer a maconha. No último estágio, aos 26 anos, eu já estava bebendo cachaça todos os dias, em qualquer horário e convivendo com moradores de rua, também viciados", conta J.R, que é estivador, casado e pai de quatro filhos.
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Depois que entrou para o grupo, o coordenador disse que ainda por anos teve dificuldades para se livrar da bebida e dos entorpecentes. "Eu pensei em desistir e hoje, totalmente limpo, coordeno o grupo. Desde 2000 estou sem colocar uma gota de álcool na boca. A bebida faz você esquecer a família, o trabalho, as relações, enfim. Você não faz nada por maldade. É a bebida que leva você a, por exemplo, ficar agressivo. Tem gente que fica imprestável".
J.R garante que o alcoolismo é uma doença hereditária. Ele afirma que é oriundo de família de alcoólatras e que há pesquisas que confirmam sua convicção. "Minha avó, meu pai e minha mãe eram alcoólatras. Estou há 14 anos no grupo e posso garantir que a maioria tem familiares com o problema. E não só a religião livra a pessoa. É preciso buscar ajuda técnica também. O alcoolismo é um dragão que existe dentro de você. Deu comida, ele cresce. E de tal forma que se torna um gigante incontrolável".
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Crack e energético
J.R se diz preocupado com o consumo de crack que, segundo conta, está arregimentando pessoas das classes média e alta e não só a classe pobre, como muitos pensam. "Há médicos, engenheiros, músicos e outros profissionais viciados, jogados nas ‘cracolândias’ de Santos e São Paulo (Capital). Tenho conhecimento de causa. Frequento também os Narcóticos Anônimos (NA). Há famílias inteiras sofrendo com essa situação".
O coordenador afirma que misturar energético com bebida é muito perigoso e os jovens não têm consciência disso. "É preciso fiscalizar. Estamos vivendo um caos e ninguém está se preocupando com o futuro. O energético potencializa os efeitos do álcool. As pessoas estão enfartando e as autoridades não querem fazer nada. É preciso divulgar essa situação. E, agora, ainda querem liberar a maconha. Tem muitas pessoas com problemas de demência. Nosso País é uma vergonha".
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J.R não vê alternativa senão uma ampla fiscalização por parte das autoridades. "Se isso não ocorrer urgentemente, vamos criar uma geração de alcoólatras psicopatas. Não estou fazendo sensacionalismo. Criança de 14 anos não pode trabalhar, mas pode consumir drogas. Está na hora de acordar. As pessoas trocaram o relacionamento pessoal pelo virtual. É preciso estimular o relacionamento humano", afirma, aconselhando a procurar os Alcoólicos Anônimos. "Nós conseguimos recuperar pessoas".
Serviço
Grupo São Jorge
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Reuniões: Terças, quintas e sábados
Horário: às 20 horas
Local: Escola Municipal de Educação Infantil Olívia Fernandes
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Endereço: Praça Coronel Fernandes Prestes, s/nº — atrás da Policlínica do Embaré.
Telefones: (13) 3235-5301 e (13) 3224-3023