Cotidiano

Ajudante de São Vicente sonha em rever os filhos

Valquiria Vasconcelos não vê os três filhos que deixou no Nordeste há mais de cinco anos, quando resolveu tentar uma vida melhor em São Paulo

Publicado em 09/03/2015 às 11:53

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“O que mais quero é ver os meus filhos”. Valquiria Vasconcelos é mais uma migrante que veio do Nordeste com a família em busca de melhores condições de vida em São Paulo. Juntos, ela, a mãe e o irmão mais novo saíram de Recife, Pernambuco, para tentar a sorte na‘cidade grande’. A pernambucana não imaginava que para abrir o belo sorriso de hoje teria de chegar ao fundo do poço. Agora, com a vida mudada, ela quer retomar a história que um dia deixou para trás: reencontrar os três filhos que há mais de cinco anos não vê.

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Valquiria foi personagem de uma matéria do Diário do Litoral publicada no ano passado. A pauta era contar a vida de pessoas que estão na linha da pobreza e sobrevivem com menos de R$ 1 mil por mês. A ajudante de serviços gerais vive com R$ 900 mensais. Disse que consegue comer o básico (arroz e feijão), pagar as contas essenciais e ainda sobra para fazer uma ‘extravagância’, como pagar a parcela do box que mandou fazer para colocar no banheiro do apartamento recém conquistado, onde mora com a filha caçula de apenas cinco anos.

Durante a entrevista, Valquiria relembrou o que jamais espera voltar a viver. “Fui morar na rua com a perna quebrada e minha filha pequena no colo. Fui apenas com a roupa do corpo e um cobertor. Não aguentava mais apanhar”, disse. O agressor era o ex-marido. Eles se conheceram no Capão Redondo, em São Paulo. Ela já tinha três filhos de outro relacionamento. Para criá-los, os deixava com amigos e em creches para trabalhar.

Valquiria foi parar em São Vicente após ser transferida de emprego. Morou de aluguel em diversas casas. Fixar residência era difícil. O álcool transformara seu marido em outra pessoa, alguém capaz de destruir tudo o que via pela frente. Perdeu móveis, a liberdade e, sobretudo, a dignidade. A mãe de Valquiria sentindo que a situação dos netos era bem difícil, já que estavam expostos ao ambiente de agressões, decidiu retornar para o Nordeste com os netos. “Ela quis tirá-los daquela vida incerta em que eu vivia. Não tive o que fazer, a não ser deixar”, conta.

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 A ajudante de serviços gerais mora em São Vicente com a filha mais nova (Foto: Matheus Tagé/DL)

Para se ver livre das agressões Valquiria foi morar na rua. Deixava a filha com amigos para trabalhar durante o dia. Chegou a morar em um abrigo da Prefeitura. “Depois encontrei um quarto e cozinha para alugar. Pagava R$ 500. Passei fome e comi o pão que o diabo amassou. Não tenho vergonha de falar”, afirma. Precária, a casa de dois cômodos enchia a cada chuva. Sem dinheiro para comprar móveis, o que encontrava pelas ruas tinha destino certo. “Tá vendo esse colchão, eu achei na rua. Foi uma das poucas coisas que eu trouxe de lá”, conta apontando para a cama que comprou após entrar no novo apartamento.

A luz no fim do túnel veio com o anúncio de que havia sido sorteada em um programa habitacional. A vida continua simples e modesta no imóvel de dois quartos, sala, cozinha, banheiro e área de serviço. No entanto, a liberdade do aluguel faz com que Valquiria volte a sonhar a ter os filhos, já adolescentes, novamente ao seu lado. “A minha mãe está doente e não tem mais condições de ficar com eles. Quero buscá-los para morar comigo. Agora tem espaço para todos e não existem mais brigas”, revela.

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Acontece que o sonho de Valquiria pode estar longe de ser realizado. A renda de R$ 900, proveniente das faxinas que realiza, não é suficiente para arcar com os custos da viagem até o município de Paulista, em Pernambuco, onde reside sua família. “Estou desesperada. Não tenho condições de comprar as passagens. Minha mãe está doente e preciso trazer o meu filho de 11 anos. Apesar do pouco que tenho dá para viver com eles aqui. Não aguento mais de saudade”.

Para viajar, a ajudante geral terá de desembolsar mais de R$ 2 mil. Ainda que quisesse parcelar, sua renda não permitiria arcar com as despesas. A esperança é encontrar pessoas que possam ajudá-la a realizar o sonho. O contato da Valquiria é o (13) 99211-4169.

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