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“O que mais quero é ver os meus filhos”. Valquiria Vasconcelos é mais uma migrante que veio do Nordeste com a família em busca de melhores condições de vida em São Paulo. Juntos, ela, a mãe e o irmão mais novo saíram de Recife, Pernambuco, para tentar a sorte na‘cidade grande’. A pernambucana não imaginava que para abrir o belo sorriso de hoje teria de chegar ao fundo do poço. Agora, com a vida mudada, ela quer retomar a história que um dia deixou para trás: reencontrar os três filhos que há mais de cinco anos não vê.
Valquiria foi personagem de uma matéria do Diário do Litoral publicada no ano passado. A pauta era contar a vida de pessoas que estão na linha da pobreza e sobrevivem com menos de R$ 1 mil por mês. A ajudante de serviços gerais vive com R$ 900 mensais. Disse que consegue comer o básico (arroz e feijão), pagar as contas essenciais e ainda sobra para fazer uma ‘extravagância’, como pagar a parcela do box que mandou fazer para colocar no banheiro do apartamento recém conquistado, onde mora com a filha caçula de apenas cinco anos.
Durante a entrevista, Valquiria relembrou o que jamais espera voltar a viver. “Fui morar na rua com a perna quebrada e minha filha pequena no colo. Fui apenas com a roupa do corpo e um cobertor. Não aguentava mais apanhar”, disse. O agressor era o ex-marido. Eles se conheceram no Capão Redondo, em São Paulo. Ela já tinha três filhos de outro relacionamento. Para criá-los, os deixava com amigos e em creches para trabalhar.
Valquiria foi parar em São Vicente após ser transferida de emprego. Morou de aluguel em diversas casas. Fixar residência era difícil. O álcool transformara seu marido em outra pessoa, alguém capaz de destruir tudo o que via pela frente. Perdeu móveis, a liberdade e, sobretudo, a dignidade. A mãe de Valquiria sentindo que a situação dos netos era bem difícil, já que estavam expostos ao ambiente de agressões, decidiu retornar para o Nordeste com os netos. “Ela quis tirá-los daquela vida incerta em que eu vivia. Não tive o que fazer, a não ser deixar”, conta.
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Para se ver livre das agressões Valquiria foi morar na rua. Deixava a filha com amigos para trabalhar durante o dia. Chegou a morar em um abrigo da Prefeitura. “Depois encontrei um quarto e cozinha para alugar. Pagava R$ 500. Passei fome e comi o pão que o diabo amassou. Não tenho vergonha de falar”, afirma. Precária, a casa de dois cômodos enchia a cada chuva. Sem dinheiro para comprar móveis, o que encontrava pelas ruas tinha destino certo. “Tá vendo esse colchão, eu achei na rua. Foi uma das poucas coisas que eu trouxe de lá”, conta apontando para a cama que comprou após entrar no novo apartamento.
A luz no fim do túnel veio com o anúncio de que havia sido sorteada em um programa habitacional. A vida continua simples e modesta no imóvel de dois quartos, sala, cozinha, banheiro e área de serviço. No entanto, a liberdade do aluguel faz com que Valquiria volte a sonhar a ter os filhos, já adolescentes, novamente ao seu lado. “A minha mãe está doente e não tem mais condições de ficar com eles. Quero buscá-los para morar comigo. Agora tem espaço para todos e não existem mais brigas”, revela.
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Acontece que o sonho de Valquiria pode estar longe de ser realizado. A renda de R$ 900, proveniente das faxinas que realiza, não é suficiente para arcar com os custos da viagem até o município de Paulista, em Pernambuco, onde reside sua família. “Estou desesperada. Não tenho condições de comprar as passagens. Minha mãe está doente e preciso trazer o meu filho de 11 anos. Apesar do pouco que tenho dá para viver com eles aqui. Não aguento mais de saudade”.
Para viajar, a ajudante geral terá de desembolsar mais de R$ 2 mil. Ainda que quisesse parcelar, sua renda não permitiria arcar com as despesas. A esperança é encontrar pessoas que possam ajudá-la a realizar o sonho. O contato da Valquiria é o (13) 99211-4169.