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“A deficiência visual nunca me impediu de estudar ou de correr atrás dos meus sonhos. Mas me deparei com um obstáculo. Nos últimos dias, vivi situações de revolta e me surpreendi com a falta de respeito e com a discriminação”. A frase é de Beatriz Santos Rodrigues, de 16 anos, que vem sendo impedida de cursar o primeiro ano do Ensino Médio em Santos porque a rede estadual não possui equipamentos e professores capazes de auxiliá-la em função de sua baixa visão congênita. Ela possui apenas 5% da visão.
Beatriz cursou o Ensino Fundamental em escolas municipais e faz complementação no Lar das Moças Cegas. No entanto, até agora não assistiu uma aula sequer na Escola Marquês de São Vicente, onde está matriculada, porque a unidade não está preparada pela receber pessoas com necessidades especiais.
Ela explica que no Ensino Fundamental, sempre teve uma professora auxiliar e outra de recursos, que ampliava as lições do livro. Porém, no Ensino Médio, isso não é possível. “O Estado não oferece nada disso. Um amigo ditava a lição da lousa para mim, mas acabamos ficando em salas separadas e a escola não quer nos juntar novamente”, afirma aflita.
Beatriz revela que a mãe, Fernanda Rodrigues, tentou conversar na escola, mas a direção da unidade informou que para ter o respaldo igual ao oferecido pelo município seria necessário constituir um advogado. “Falaram que eu só posso frequentar a aula com um auxiliar, sem ele, a escola não se responsabiliza”, revela a menina, que não tem condições de cursar uma escola particular.
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Mãe revoltada
Segundo Fernanda, mãe de Beatriz, a Marquês de São Vicente ainda exigiu um laudo que comprovasse a deficiência da filha. “Entreguei o documento duas vezes e, ainda sim, minha filha não pode estudar. Ela está há duas semanas em casa. Na escola, o máximo que poderiam conseguir seria um cuidador, que só auxiliaria Beatriz na locomoção. Não tem suporte dentro da sala de aula”, explica a mãe, que foi em busca de duas escolas particulares, mas o custo da mensalidade chega a ser de R$ 1.500,00, além do salário de uma professora auxiliar, o que foge à realidade da família.
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Ao lado de Fernanda, Beatriz também se mostra inconformada com a situação e desabafa: “Até quando vamos fazer de conta que se faz inclusão? Até quando os estudantes com deficiência serão prejudicados dessa maneira? Sinceramente, já estou cansada de palavras bonitas, de belos discursos e do esforço tremendo para promover a inclusão que só existe em palavras”, finaliza, expondo seu desabafo, também, nas redes sociais.
Estado
Procurada, a Diretoria Regional de Ensino de Santos esclarece que a Escola Estadual Marquês de São Vicente possui educadores qualificados para atender a esses estudantes e que está à disposição da mãe para prestar os esclarecimentos necessários e apresentar à ela o suporte pedagógico da unidade.
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A Direção garante que serão disponibilizados à aluna materiais específicos para estudantes com baixa visão, como cadernos de pauta ampliada e lupas ampliadoras. A Diretoria não respondeu sobre a disponibilidade de professoras especiais para atender Beatriz.