Cotidiano
Monomotor caiu dentro de uma aldeia indÃgena no bairro Gaivota. A Reportagem esteve na Cidade na última quinta-feira (11)
Monomotor caiu dentro de uma aldeia indÃgena próximo ao limite de Itanhaém com PeruÃbe / Reprodução/Defesa Civil SP
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O recente acidente aéreo ocorrido no último domingo (9), em Itanhaém, envolvendo o monomotor que caiu dentro de uma aldeia indígena no bairro Gaivota, próximo ao limite do município com Peruíbe, vitimando o instrutor de voo Matheus Gomes, do Aeroclube de Itanhaém, não é único e acabou deixando a população dos bairros do entorno apreensiva.
A Reportagem esteve na Cidade na última quinta-feira (11) e conversou com pessoas que moram próximas a área de tráfego aéreo de aviões.
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Os depoimentos mostraram o pavor do que pode vir dos céus. O advogado Leonardo Bacaro, por exemplo, que reside à Rua Abel Francisco Caniçais, no bairro do Savoy, disse que o acidente renovou uma preocupação que perdura há anos.
"Moro na reta da pista e posso garantir que o controle aéreo está negligenciado. Muitos donos de aeronaves menores fazem voos sobre a minha casa com menos de 50 metros de altitude e a qualquer hora, inclusive de madrugada. O barulho é intenso e, por vezes, percebo supostas falhas nos motores no ar", afirma.
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Ele acredita que não há fiscalização de quem decola ou pousa, apesar da legislação brasileira pra voos ser uma das mais duras e modernas do mundo.
"Não há fiscais no Aeroclube e nem no Aeroporto de Itanhaém, apesar deste último estar praticamente desativado por conta do fim das operações da Petrobrás. Tem um ou dois seguranças. Não tem bombeiros civis", acredita.
O advogado diz ter informações de familiares de vítimas de outros acidentes que muitos alunos se tornam instrutores sem ter o número de horas de voo necessário para exercer a função. "O Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) já apontou equívocos de procedimentos no aeroclube", disse.
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O Cenipa é uma unidade da Força Aérea Brasileira responsável por investigar acidentes e incidentes de aviação no Brasil. Sua sede está localizada em Brasília (DF).
No Savoy moram cerca de oito mil pessoas. Os outros bairros do entorno do aeroclube e do aeroporto são Oasis com 12 mil habitantes, aproximadamente, e o Guapurá, com também cerca de 12 mil habitantes.
E a Cidade conta com apenas uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).
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O funcionário Público Nilton Sérgio de Jesus acompanha a preocupação do advogado. "A gente fica com medo. Aqui e rota de avião. O barulho incomoda e, à noite, aumenta a preocupação, porque também há pouso e decolagem".
O jornalista Willian Satele que afirma que a altura que os aviões sobrevoam não seria considerada ideal devido à proximidade com os imóveis.
"No começo, quando mudei para cá, achava bacana. Agora, já fico com medo por conta do grande fluxo de aeronaves rente as moradias", afirma.
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Ele garante que dezenas de pessoas estão mais apreensivas após o último acidente, apesar da queda ter ocorrido na divisa com a cidade de Peruíbe.
O Corpo de Bombeiros retirou com vida uma das vítimas da queda de avião. O rapaz sobrevivente se encontra internado no hospital da cidade. Segundo os bombeiros, a vítima foi encontrada dentro da aeronave, encarcerada nas ferragens.
Ela foi retirada do veículo consciente e orientada e, posteriormente, encaminhada ao pronto-socorro municipal. As causas da queda da aeronave são investigadas pelos órgãos competentes.
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O Aeroclube de Itanhaém foi procurado pela equipe de reportagem na quinta-feira, mas seus dirigentes resolveram não se manifestar sobre o acidente do último domingo. No entanto, emitiu uma nota de pesar online em relação a morte do instrutor Matheus Gomes.
Entre os comentários estava o de Elizabeth Souza, que perdeu o filho Matheus de Souza Fonseca.
"Que tal vocês começarem a ser mais responsáveis. O Aeroclube, para quem não sabe, já foi processado e condenado. O Cenipa também reconheceu as irregularidades. Mas parece que, mesmo mudando direção, tudo está igual. Acidentes acontecem, sim, mas sempre tem uma causa. Quando não é humana e mecânica ou outra qualquer, mas sempre há um responsável", escreveu.
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As irregularidades as quais Elizabeth constam em um relatório da Cenipa quando da morte de seu filho. Ele destaca fatores contribuintes como condições meteorológicas adversas, julgamentos inadequados de pilotagem e planejamento de voo, pouca experiência do piloto e supervisão gerencial deficiente.
O órgão emitiu recomendações de segurança para a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e o Aeroclube de Itanhaém para melhorar a segurança operacional e o acompanhamento dos voos de instrução.
O Aeroclube, especialmente, foi identificado como tendo uma responsabilidade significativa no acidente devido à falta de supervisão adequada e à ausência de um responsável pelas operações no organograma. Isso resultou na centralização do processo decisório sobre a realização dos voos na figura do instrutor, sem uma avaliação adequada das condições de voo.
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A falta de padronização na seleção dos instrutores e o acúmulo de funções pelo presidente do aeroclube também contribuíram para a ocorrência do acidente.
As recomendações de segurança enfatizam a necessidade de o aeroclube implementar uma política de segurança de voo e melhorar o acompanhamento dos voos de instrução.
Segundo o advogado Leonardo Bacaro, a família de Elizabeth moveu uma ação de indenização por danos morais e materiais contra o Aeroclube em razão de acidente aéreo que vitimou Matheus Fonseca em 2012, enquanto fazia uma aula prática.
Em razão da forte chuva, a aeronave se chocou com o solo, na mata do Morro do Monduba, localizado na Cidade do Guarujá.
A família pediu indenização de 500 salários mínimos, devolução do pagamento do curso e valores referentes aos custos do funeral do rapaz.
O Aeroclube sustentou que, quando o autor e a falecida instrutora já estavam em voo, foram surpreendidos por uma tempestade abrupta que, configuraria caso fortuito ou de força maior.
O Cenipa, por sua vez, emitiu relatórios contestando os argumentos do Aeroclube informando que a instrutora foi alertada pelo diretor de instrução de voo que não conseguiria passar pela Serra do Mar.
Por fim, o Cenipa concluiu que o processo decisório da instrutora contribuiu para o acidente: "Apesar de todos alertas recebidos sobre as condições meteorológicas adversas da rota, a instrutora seguiu com a decisão de realizar a instrução, demonstrando uma escuta seletiva das informações, provavelmente desencadeada por sua motivação em adquirir horas de voo".
Durante a instrução processual, o documento juntado pelo aeroclube, uma perícia comprovou ainda a falsidade do documento relativo à assinatura da instrutora, lançada ao lado da do presidente do aeroclube.
"A utilização do falso documento, tal como sustentado nas razões recursais, configura, neste feito, má-fé processual", apontou o magistrado. O Aeroclube de Itanhaém foi condenado, mas a família nunca recebeu.
A Prefeitura de Itanhaém informa que o Aeroclube de Itanhaém possui todas as licenças em dia em âmbito municipal e que normas que regem suas atividades são estabelecidas pela ANAC.