Cotidiano

A história de Marcele: Uma questão de superação

Marcele Rebelo teve superar trauma - praticamente sozinha - e minimizar as sequelas após queda das obras do píer do Perequê

Carlos Ratton

Publicado em 27/10/2013 às 22:59

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Quem visita a humilde casa de uma família de pescadores localizada na Viela do Campo, próxima às obras do Píer do Perequê, em Guarujá, inacabadas desde o lançamento da pedra fundamental – em outubro de 2010 - não tem a menor ideia de que no local mora uma adolescente que é um exemplo de superação.

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Há pouco mais de um ano, ao andar pelo equipamento, Marcele Lourenço de Araújo Rebelo sofreu um grave acidente que quase lhe tirou a vida. Porém hoje, com 14 anos, a garota pode ser considerada uma vencedora.

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Após cair, por descuido, do píer (sem sinalização de segurança) e sofrer cortes profundos na perna – ela até hoje caminha com dificuldades – a menina conseguiu superar o trauma, porém, terá que ser submetida a mais uma cirurgia reparatória, rotina indesejada que passou a acompanhá-la desde aquela fatídica noite de 15 de setembro de 2012.

O pai de Marcele, o pescador Murilo Rebelo, fez questão de atender a reportagem do DL esta semana e não escondeu a decepção com as autoridades e a sensação de impotência diante da situação da filha. “Marcele se distraiu e caiu no meio das ferragens da obra. Ela teve fratura exposta no joelho e o fêmur (osso da coxa) rompido. Ainda teve sorte porque havia pontas de madeira espalhadas por todos os lados”, lembra o pai não escondendo a aflição.

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Marcele ficou uma semana hospitalizada e três meses de cama, usando fraldas por não poder, de forma alguma, sequer mexer a perna. Hoje, apesar de aparentemente ter se recuperado, a menina ainda anda com dificuldades. Situação que pode ser melhorada com nova cirurgia. “Mas eu tenho comigo que minha filha não conseguirá ser a mesma pessoa de antes do acidente”, afirma Murilo Rebelo.

O pescador, mesmo não sendo especialista em segurança, tem convicção que as obras do píer não foram sinalizadas de forma correta. Para ele, o píer, antes de tudo, deveria ser isolado, para que crianças não tivessem acesso ao local. “Já caiu e continua caindo muita gente nesse píer inacabado. Ainda hoje, qualquer pessoa percorre o equipamento livremente”, conta o pescador, fato comprovado pela reportagem.

Píer não tem sinalização de segurança (Foto: Matheus Tagé/DL)

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Murilo Rebelo garante que, desde o acidente, Marcele não teve qualquer assistência. Todo o tratamento da menina foi pago com recursos próprios e a única conquista foi uma cadeira de rodas emprestada. “Eu tive que levar Marcele de ônibus para a fisioterapia no centro da cidade. Perdi o barco de pesca em que trabalhava por ter que cuidar de minha filha e sobrevivemos do salário de minha esposa. Foi uma barra”, disse.

Devagar e sempre

Marcele chegou da escola minutos depois do pai contar seu drama. O cão Negão – um vira-lata criado pela família – foi receber a jovem no portão. Risonha e com um olhar cativante, Marcele caminhou devagar até a varanda da casa, trocou os sapatos por um par de chinelos mais confortáveis e sentou-se ao lado do pai.

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“O senhor já conversou com eles, pai?”, disse após ser apresentada à equipe do DL. Além de confirmar o seu drama, Marcele fez questão de mostrar as cicatrizes – marcas que deverão acompanha-la para sempre. “Está bem melhor do que antes. Quase não se percebe, não é mesmo?”, afirma animada.

O píer que nunca termina

Pode-se dizer que os pescadores e comerciantes do Perequê não têm muito que comemorar com relação ao píer - uma antiga reivindicação da comunidade local, que beneficiaria centenas de famílias. A “obra” não passa de um monte de concreto armado inútil.

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O equipamento, que seria utilizado como estrutura de apoio para pesca artesanal (embarque e desembarque de pescado) e de embarcações turísticas, se tornou uma verdadeira armadilha para a comunidade do entorno e turistas desavisados. À noite, lógico, a situação piora em função da falta de visibilidade.

A obra, conduzida pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Gestão Urbana, em parceria com o Ministério do Turismo via Caixa Econômica Federal, foi orçada em R$ 2,3 milhões.

Em 14 de outubro de 2010, num clima de alegria e euforia, a população da Praia de Perequê, compareceu ao lançamento da pedra fundamental do píer público, que seria construído no bairro. Hoje nem a pedra existe, pois foi roubada sem que ninguém apontasse o autor da façanha.

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Marcele mostra uma das cicatrizes (Foto: Matheus Tagé/DL)

Prefeitura explica situação

Sobre a questão de segurança, a Secretaria de Infraestrutura e Obras de Guarujá informa que a proteção que havia na obra, dentre elas grades e telas, foi arrancada por vândalos. Sendo assim, a pasta estuda novas formas de proteção para o local, inclusive com a colocação de parapeito.

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Revela que um convênio com o Ministério do Turismo destinou R$ 1 milhão para a construção do Píer do Perequê e a Administração abriu licitação por duas vezes e a concorrência foi deserta, pois o valor era insuficiente. A Prefeitura então dispensou R$ 1,3 milhão para a efetivação da obra.

A empresa vencedora da licitação iniciou o estaqueamento e, por conta das condições adversas (ressacas e oscilações de marés) o trabalho foi prejudicado. A Caixa Econômica Federal (CEF) não aprovou a planilha de preço da concorrência, exigindo que os valores fossem adequados.

A base de custos da CEF é Sistema de Preços, Custos e Índices (Sinapi). Porém, o sistema não abrange, por exemplo, o concreto marítimo, que é específico para este tipo de obra e não tem base de preço no SINAPI. Diante deste impasse e para não perder os estaqueamentos que já haviam sido feitos a empresa fez o solo (tabuleiro) para segurar as estacas de sustentação com recursos da Prefeitura.

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A Secretaria de Planejamento está, em parceria com a Caixa, reprogramando os valores, especialmente de concreto e estacas, para serem novamente analisados. Assim que se estabelecer uma planilha em comum, a Prefeitura lançará nova concorrência para o termino da obra.

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