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Às vésperas do Natal aquela velha tradição: corre-corre no comércio em busca dos presentes. Nada parece mais mágico no espírito natalino -- leia-se apelo comercial -- do que a visão dos pacotes coloridos que serão entregues a todos os entes queridos da família. Além dos presentes dos parentes, muitas listas incluem os presentes do namorado, da empregada doméstica, daquele cliente, do zelador do prédio, até o mimo para o cachorro –- que nem sabe o que é isso.
A lista é grande e a conta é do tamanho do saco do Papai Noel. Trocadilhos à parte, o apelo do espírito natalino do comércio –- não o religioso -- é um ótimo pretexto para quem “precisa” comprar só por comprar, ou seja, gente que sofre do transtorno do impulso da compra compulsiva. Esse transtorno também é chamado de oniomania.
A compra compulsiva, diferente da compra exagerada eventual, entra no grupo dos transtornos do impulso estudados pela psicologia e pela psiquiatria. Os transtornos do impulso não são considerados doenças.
Segundo a psicóloga cognitiva-comportamental do Ambulatório de Transtornos do Impulso (AMITI) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, Renata Maransaldi, o compulsivo por compras não consegue controlar o impulso de comprar, não se preocupa com preço ou formas de pagamento, sente prazer e satisfação no ato da compra e depois sente culpa ou auto-derrota, e não tem apego ao objeto comprado.
Geralmente as compras ficam esquecidas em casa, como roupas e sapatos que nunca são usados. Muitos até escondem as compras dos parentes quando o problema começa a afetar a relação familiar.
Renata explica que a pessoa que sofre desse tipo de transtorno não consegue, sem tratamento, controlar o impulso da compra, ainda que tenha consciência de que esteja comprando demais e coisas das quais não precisa.
Segundo Renata, a maioria dos pacientes que sofre do transtorno da compulsão por compras é mulher, de idades variadas. Não se sabe porque o sexo feminino é dominante no transtorno da compra compulsiva, o que se nota é que os produtos mais vendidos são artigos femininos como roupas, sapatos, bolsas e maquiagem.
A psicóloga afirma que as frases mais freqüentes dos pacientes que sofrem do transtorno da compra compulsiva são: “eu preciso comprar isso”; “eu trabalho tanto, eu mereço isso”; estou tão chateado, eu preciso disso”.
Renata ressalta ainda que nesta época do ano, principalmente, é preciso refletir no ato da compra dos presentes para os outros sobre a razão de estar comprando. Estou comprando para agradar os outros ou agradar a mim mesmo?”, exemplificou afirmando que há quem presenteie os outros para compensar uma angústia.
Em alguns casos, pacientes que sofrem de algum tipo de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) ou transtorno afetivo bipolar, acabam desenvolvendo a compulsão por compras.
Tratamento
A psicóloga afirma que o tratamento recomendado é psicoterapia cognitivo-comportamental e acompanhamento psiquiátrico com administração medicamentosa, que pode variar caso a caso.
Renata explica que a terapia trabalha com a mudança de pensamento, sentimento e emoção do paciente. “A mudança de pensamento provoca a mudança do comportamento. Na terapia, o paciente acaba desenvolvendo estratégias para a redução de danos”.
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