Repórter da Terra
Foto: Agência Brasil
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Os preços internos do algodão em pluma caíram, em maio, ao menor valor em quatro anos. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), além das quedas no mercado internacional, a pressão baixista veio da disposição de vendedores domésticos de se livrar do algodão que restou da safra 2022/23. Vinculado à Escola de Agronomia da USP, o Cepea previu também, na última quarta-feira, que as próximas semanas devem registrar novas baixas. E o motivo é a safra recorde que o Brasil está prestes a colher. Ou seja, a matéria-prima vai estar mais barata justamente no período em que a indústria têxtil começa a pensar na moda primavera/verão, o que deve se refletir em preços mais acessíveis para as roupas no Brasil. E isso impacta a inflação porque o grupo vestuário tem peso relevante nos cálculos do IBGE, responsável pelo acompanhamento dos preços no País.
Mais: na última quarta-feira, o Senado Federal aprovou a chamada ‘taxa das blusinhas’, que prevê a cobrança de tarifa de importação sobre produtos que custem até US$ 50 (dólares). Em valores do câmbio de quarta-feira, isso representava algo em torno de R$ 265,00.
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A alíquota será de 20%. Até agora, esses produtos vendidos por grandes plataformas chinesas na internet, como Shein, Shopee e AliExpress, não pagavam impostos para entrar no Brasil.
Após a aprovação no Senado, a ‘taxa das blusinhas’ volta à Câmara dos Deputados para nova votação e, só depois, vai à sanção pelo presidente Lula. Portanto, a nova tarifa não impacta imediatamente os preços dos importados e o consumidor só começará a pagar o tributo após todo esse trâmite.
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A medida agrada à indústria e ao comércio nacionais, que alegam uma concorrência predatória por parte dos chineses. A mudança nas regras tornará os produtos brasileiros mais competitivos e tende a inflar a produção e as vendas.
A ‘taxa das blusinhas’ também se aplica a eletroeletrônicos e demais importados com valor até US$ 50, o que deve ampliar a arrecadação da União e dos Estados, que passarão a calcular o ICMS sobre o preço já acrescido da nova tarifa de importação.
A expectativa é que a medida promova a retomada do emprego no setor têxtil em geral. Em maio, o Indicador CEPEA/ESALQ para o algodão em pluma teve média de R$ 3,8568 pela libra/peso, a menor desde julho de 2020 (R$ 3,8063/lp).
Parece evidente que grandes fazendeiros e especuladores aproveitaram a catástrofe climática no Rio Grande do Sul para ganhar dinheiro. Em apenas quatro dias, na virada de abril para maio, os preços do grão em casca subiram 13%, segundo a Conab. Do estado gaúcho vinham informações de que a quebra na safra seria de até um milhão e meio de toneladas... E isso forçou supermercados a racionar o cereal.
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Naquele momento, a inflação acumulada do arroz era de 29% no período entre julho de 2023 e abril de 2024, segundo o IBGE. Preocupado com a carestia e com o possível desabastecimento, o Governo Federal resolveu importar, via Conab, um milhão de toneladas do cereal e zerou a tarifa de importação. Aí, os fazendeiros ‘descobriram’ que a quebra na safra gaúcha seria de apenas 97 mil toneladas, na comparação com 2023, ou, 1,2%.
O Governo enxergou uma certa má fé, resolveu manter a importação, a alíquota zero, e chegou a apresentar o rótulo dos pacotes de arroz que serão distribuídos pela Conab com preço tabelado em R$ 20,00 pelo saco de cinco quilos.
...o capitalismo de conveniência
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Em resposta, os fazendeiros resolveram pedir liminar contra a importação, que foi negada pela 6ª Vara Federal de Porto Alegre. Então, dois deputados do Partido Novo e mais um do PSDB entraram com novo pedido de liminar, e um juiz substituto da 4ª Vara Federal da capital gaúcha proibiu o leilão de importação do arroz marcado para quinta-feira. Mas, horas antes do início do pregão, a liminar foi derrubada e a Conab conseguiu comprar 263 mil toneladas. Antes, na segunda-feira, a Confederação Nacional da Agricultura já havia ingressado com uma ação direta de inconstitucionalidade no STF contra a ação do governo...
A queda das temperaturas no início de junho derrubou os preços de frutas como a melancia e os mamões. Na Ceagesp, a maior central atacadista de alimentos in natura da América Latina, o valor da melancia caiu 33% na comparação com abril. Nas fazendas do sul da Bahia e do norte do Espírito Santo, maiores estados produtores de mamão, os valores da variedade havaí caíram 57% e do formosa 16%, segundo dados do Cepea/USP.
“A história se repete, a primeira vez como tragédia, e a segunda como farsa”, Karl Marx (1818/1883), economista, filósofo e jornalista alemão.
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