Repórter da Terra
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A Comissão Especial da Transição Energética e Produção do Hidrogênio Verde da Câmara dos Deputados aprovou à toque de caixa na última terça-feira seu plano de trabalho para 2023. Instalada em 31 de maio, a Comissão quer promover um amplo debate sobre o potencial do hidrogênio verde (H2V) como novo vetor energético. A agenda inclui seis reuniões deliberativas e doze audiências públicas, além de quatro mesas-redondas fora do Congresso Nacional. E o primeiro evento externo acontecerá em São Paulo. A ideia é reunir universidades e o setor privado.
O futuro do H2V é promissor, tanto que a McKinsey, consultoria que assessora governos e empresas, projeta investimento de US$ 200 bilhões no Brasil nos próximos 20 anos.
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Porém, falta quase tudo para que o H2V comece a virar realidade, incluindo agentes públicos capacitados para o desenho de políticas relacionadas ao hidrogênio verde.
Estão no radar da Comissão Especial da Câmara dos Deputados a avaliação de aspectos tributários e o incentivo a cursos de graduação e pós-graduação sobre o H2V.
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Até o final do ano, a Comissão espera concluir uma proposta de marco regulatório para o setor, sob a presidência de Arnaldo Jardim (Cidadania/SP) e relatoria do deputado Bacelar (PV/BA).
O encontro em São Paulo ainda não tem data definitiva, mas deverá reunir representantes da USP, da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), da Federação das Indústrias (Fiesp) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado, além do governador Tarcísio de Freitas.
O Governo Federal também formou um Grupo de Trabalho com os ministérios de Minas e Energia e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Apesar de a maioria dos projetos bilionários em gestação no País estarem ligados a portos-indústria, consultado, o Ministério de Portos e Aeroportos não respondeu se vai ou não integrar o GT.
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US$ 200 bilhões
O H2V é considerado muito promissor na substituição dos combustíveis fósseis, principais causadores do aquecimento global.
E, segundo a McKinsey, o investimento de US$ 200 bilhões deverá transformar o Brasil em um dos maiores protagonistas no processo de descarbonização da economia global. E essa economia verde pode promover “crescimento inclusivo e sustentável”.
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O otimismo deve-se ao fato de que o Brasil é competitivo em energias renováveis (eólica, solar, hidrelétricas e biocombustíveis), insumos básicos para produção do H2V. E isso confere ao País uma vantagem significativa porque a energia representa 70% do custo de produção. O Brasil também já dispõe de rede integrada de energia limpa, o que exigirá menor investimento em infraestrutura.
Commodity verde
Segundo a McKinsey, só a demanda doméstica por H2V tem mercado potencial de US$ 5 bilhões até 2030 e de US$ 20 bilhões até 2040.
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Tratada como uma ‘commodity verde’, a exportação para Estados Unidos e Europa deve acrescentar mais US$ 6 bilhões à balança comercial brasileira porque o custo de desembarque do H2V ‘Made in Brazil’ nessas regiões deve ser menor em relação a outros países produtores.
Portanto, trata-se, provavelmente, da oportunidade desta era, que marcará uma mudança de paradigma no uso de combustíveis, como aconteceu no século 19 com a troca da lenha pelo carvão na Revolução Industrial, e no século 20 com o uso intensivo do petróleo em detrimento do carvão.
O estudo da McKinsey mostra que o custo do H2V produzido no Brasil ficaria abaixo de US$ 1,50/kg em 2030. Esse valor está alinhado com o dos EUA, Austrália, Espanha e Arábia Saudita e é menor que o de China, Alemanha e Japão. Só o Chile, o mais eficiente entre os players globais, teria custo menor que o Brasil.
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O hidrogênio verde será útil em setores com altas emissões de carbono, como transporte, petroquímico, siderurgia e mineração.
O H2V também pode substituir combustíveis fósseis em veículos leves, caminhões e trens, além de servir como energético nas indústrias de cimento, aço e celulose, ou como matéria-prima na produção de fertilizantes.
Outra aposta é a conversão do hidrogênio em amônia para o transporte de longas distâncias em navios.
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Porto-Indústria
Nos últimos dois anos, pelo menos dez projetos para produção de H2V foram anunciados no Brasil. Juntos, eles somam US$ 30 bilhões, segundo o Instituto Nacional de Energia Limpa. Mas, a maior parte ainda está em estudo de viabilidade.
Esses projetos estão concentrados nos portos-indústria, especialmente na Região Nordeste.
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Além de contarem com infraestrutura para exportação do hidrogênio, os portos possuem potenciais consumidores domésticos e estão perto de futuras usinas eólicas offshore para produção de energia renovável.
PIB global de olho
Atualmente, nações que representam 95% do PIB global estão comprometidas em atingir a neutralidade de carbono, em sintonia com o Acordo de Paris, assinado em 2015.
Esse esforço para descarbonização do Planeta exigirá investimento anual de US$ 3 a 5 trilhões até 2030, o que representa a maior realocação de capital da história da humanidade.
E a emergência climática é tão evidente que a próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP) deverá discutir uma reedição do Plano Marshall. Esse programa viabilizou a reconstrução da Europa após a segunda guerra mundial.
Agora, a ideia é apoiar nações pobres na adaptação à emergência climática e na transição energética. A próxima COP será em Dubai, entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro.
Filosofia do campo:
“Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir. Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso...”, Carlos Drummond de Andrade (1902/1987), poeta, contista e escritor mineiro.
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