Cada vez mais frequentes, ondas de calor aceleram envelhecimento, revela estudo

Um estudo científico apresentado no final de novembro na reunião anual da Sociedade Gerontológica da América, em Seattle, nos Estados Unidos, revelou que as ondas de calor aceleram o envelhecimento do corpo humano. O trabalho sugere que a exposição ao estresse climático está diretamente ligada a alterações moleculares, provocando modificações químicas no DNA.

Em outras palavras, os eventos de calor extremo aceleram o relógio epigenético, que tenderia a sofrer impactos limitados ao passar habitual do tempo, conforme as pessoas vão envelhecendo. Esta foi a primeira vez que cientistas encontraram indícios de que o aquecimento global altera o relógio biológico.

Até então, a Ciência já sabia que o aumento na temperatura sobrecarrega o coração e os rins e retarda a cognição. O novo estudo analisou os impactos em 3.800 pessoas nos Estados Unidos.

A principal conclusão da pesquisa é que cada aumento de 10% na proporção de dias quentes adicionou 0,12 anos à idade molecular dos participantes. A análise de outro conjunto de marcadores moleculares mostrou que esses moradores de clima quente envelheceram até 0,6% mais rápido.

“O pedágio físico pode não se manifestar imediatamente como um resultado de saúde observável, mas pode afetar nosso corpo no nível celular e molecular”, disse à Revista Nature o coautor do estudo, Eun Young Choi, gerontologista da University of Southern California, em Los Angeles.

“É um resultado notável”, resumiu Rina So, epidemiologista ambiental da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca. O projeto é incomum, ela diz, porque observou marcadores biológicos no sangue em vez de morte ou doença, e avaliou o efeito da exposição de longo e de curto prazo.

Os pesquisadores analisaram dados de 2016 e 2017 sobre esses marcadores moleculares de pessoas com 56 anos ou mais. Depois, cruzaram esses dados com mapas de temperatura dos Estados Unidos e procuraram correlações entre o status dos marcadores e o número de dias nos quais o índice de calor excedeu 26,7 °C ou 32,2 °C na localização do participante.

Os cientistas também levaram em conta fatores como raça e etnia, tabagismo, localização e renda. Eles descobriram que pessoas que viviam em áreas com mais dias de clima quente ao longo de um ou seis anos pareciam “mais velhas” do que aquelas que tinham experimentado clima mais frio, com base em seus marcadores moleculares.

Para Linda Enroth, que estuda saúde pública e gerontologia na Universidade de Tampere, na Finlândia, será difícil para os pesquisadores determinarem se esse calor está causando diretamente o envelhecimento acelerado, ou se outro fator está em jogo.

Mas, na visão dela, é importante explorar essas possíveis ligações: “É uma nova abordagem que definitivamente é necessária. É importante entender como esse calor está nos afetando”.

Cientistas alertam que...
Um objetivo fundamental da pesquisa sobre envelhecimento é ajudar as pessoas a viver vidas mais longas e saudáveis. Mas, as causas exatas do envelhecimento, bem como abordagens eficazes para retardá-lo ou revertê-lo, permanecem indefinidas. E isso inclui determinar o que é envelhecimento e quando ele começa.

...envelhecimento...
E um objetivo fundamental da pesquisa sobre envelhecimento é ajudar as pessoas a viver vidas mais longas e saudáveis. Em 2022, uma pesquisa ouviu 100 cientistas que estudam o tema durante um seminário internacional no Maine, Estados Unidos. E mais de um terço dos entrevistados disse que o envelhecimento é uma doença que pode ser combatida, outros 38% disseram que não e os 28% restantes foram neutros.

...já começa na concepção
Os entrevistados geralmente disseram que o envelhecimento começa cedo na vida, mas não conseguiram concordar sobre quão cedo. Alguns disseram que o processo começa antes da concepção, quando os óvulos e espermatozoides estão sendo produzidos. De acordo com essa teoria, se seus pais são mais velhos quando você é concebido, você já está mais avançado em seu envelhecimento.

Homem e natureza...
Para proteger tartarugas oliva (Lepidochelys olivacea), cabeçuda (Caretta caretta) e de-pente (Eretmochelys imbricata), 12 condomínios em Barra dos Coqueiros, em Sergipe, vão adequar a iluminação de seus espaços coletivos. O objetivo é evitar a fotopoluição que desorienta as tartarugas que buscam as praias do município para desovar. A mudança na iluminação acontece em janeiro.

...em harmonia
O litoral norte da Bahia e o de Sergipe, incluindo Barra dos Coqueiros, são um grande palco da reprodução das tartarugas. O acordo foi alinhavado com o Ministério Público Federal e a mudança será acompanhada pelo ICMBio e pelo Projeto Tamar. Desde a década de 1980, o Tamar atua na conservação de tartarugas marinhas.

11 anos “em cartaz”
Esta coluna encerra a décima primeira “temporada” do Repórter da Terra no Diário do Litoral e na Gazeta de S.Paulo. Obrigado a você, prezado leitor, prezada leitora, pela parceria. Nos vemos no futuro!

Filosofia do campo:
“Quem não tem jardins por dentro, não planta jardins por fora... Antes que qualquer árvore seja plantada ou qualquer lago seja construído, é preciso que eles tenham nascido dentro da alma”, Rubem Alves (1933/2014), educador, pastor e escritor mineiro.