Olhar Filosófico

Vila da euforia: palavras

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Sinto na alma a pele que me habita o corpo e me toma a cara emprestada e se estica em sorriso ou se decompõe emlágrima. Penso com a cabeça alerta naquilo que dela importa, enquanto ela pouco se define. Quero aquilo que espero, mas não espero querer de novo, corrói o peito.

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Mas será que me lembro como se fosse hoje, onde ontem quando exatamente foi?

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Incertezas, mais que trocadilhos, perseguem o que ora sou e tento. Na dúvida, ainda assim, sempre cismado atento permaneço sendo.

O que a gente vira quando a gente se vira? O que acontece com a gente quando a gente acontece? Gente é o ente que nos ocupa? Rezas para que te quero, se pernas posso usar como muleta no caminho? Se amar é sofrer, quem por tudo sofre, amor distribui? Igual a cana moída, que de tão doída ainda entrega seu sumo doce? 

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Não entendo e não entendo, mas a busca vale a pena se alma não se estreita. 

Ponte, alma deve ser ponte. Símbolo que ultrapassa muros, sobe ladeira e leva, geometricamente, um ponto a outro. Alma é ponte de travessia. E que não exista, pouco importa. A palavra é a viga de suporte, suspende a passagem de lado alado a lado fixo. Na cuca de Oscar Niemeyer, ponte foi tapete voador, desenlace das mil e uma tramas de concreto, ferro e fogo.

Quais perguntas repletas de respostas contamos com a sorte? Quais sugestões aceitas nos levam aos destinos certos? E se destino for mesmo divino, qual herói trans-olílmpico iria à forra? Marcados pelo silêncio com todo osom derredor, esses ruídos de cada dia do microcosmo que nos consome, como um Atlas sustentaria o mundo se destino fosse sentença? Herói, divino, semideus, valei-me Nossa Senhora, mãe de carne, suor e luta. Da noite e do dia seu colo nos acalma o pesadelo, se ainda não sonho, busco e acordado trabalho. E da madeira fez-se a mesa e Gepetto fez Pinóquio. Mas quem fez Gepetto? A mente é o artista, carpinteiro dos conceitos.

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Não me pergunto sobre diverso temas. E você? Quem é você? Se até tu Brutus apunhalou a quem servia! E agora quem te serve, quem te mira, quem te guia nessa rua vazia que te faz lembrar todo dia daquele instante, mão, faca e sangue? É o bem ou o mal que te sacia? Te lambuza o poder do desastre?

Por isso não ouso nas opiniões, de muito pouco me valeria. É charabiá, tempo gasto e selvageria, esse inventar de novos tipos, novos símbolos e grafofonias. As palavras já são tantas e maiores as imprecisões. Quando se cria verbo, se força novas ações. E eu que sou sedentário? Daquilo que me orgulho, junto à preguiça, é o que mais me anima. É um tecer honrarias aos nômades de outrora, tataravós que se doaram todos para que seus filhos e os filhos dos netos dos seus filhos se aquietassem, vivessem outros perigos mais simples, daqueles tratados em terapia.Deixa a correria para quem quer do corpo ousadia. Do meu, que um largo acre ocupa, só quero a estática alegria.

Não faço promessa, pois sei que fico devendo, me parece que do santo eu sempre tiro proveito.

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Tranquilo, tranquilo, respiro o ar ancestral que me joga aofuturo da espera, que se mostra como a única certeza paratodo aquele vivente, entre andar, colher, criar, no mais, observar, como antes de se nascer, um ausente. Vila da euforia, perguntas que não compreendo.

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