Olhar Filosófico

Vila da euforia II: palavras raras

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Todo mundo já sabe de si e entende de nada. O que falamos já foi. O que faremos da fala, palavras já ditas. Amarras. Diversifico no que se cala.
Sinto na alma a pele que me habita o corpo e me toma a cara emprestada e se estica em sorriso ou se decompõe em lágrima. Penso com a cabeça alerta naquilo que dela importa, enquanto ela pouco se define. Quero aquilo que espero, mas não espero querer de novo, corrói o peito.
Mas será que me lembro como se fosse hoje, onde ontem quando exatamente foi?
Já escrevi outrora o mesmo agora de sempre. O que sobra? O texto e sua tessitura, de tempo em tempos. Narra-se o vazio, entorna-se o caldo de letras e versos. 
Incertezas, mais que trocadilhos, perseguem o que ora sou e tento. Na dúvida, ainda assim, sempre cismado atento permaneço sendo.
O que a gente vira quando a gente se vira? O que acontece com a gente quando a gente acontece? Gente é o ente que nos ocupa? Rezas para que te quero, as pernas posso usar como muleta no caminho? Se amar é sofrer, quem por tudo sofre, amor distribui? Igual a cana moída, que de tão doída ainda entrega seu sumo doce?  
Não atendo e não entendo, mas a busca vale a pena se a alma não se estreita. É viela que expande um som e um tema. Não temerei.
Ponte, alma deve ser ponte. Símbolo que ultrapassa muros, sobe ladeira e leva, geometricamente, um ponto a outro. Alma é ponte de travessia. E que não exista, pouco importa. A palavra é a viga de suporte, suspende a passagem de lado alado a lado fixo. Na cuca de Oscar Niemeyer, ponte foi tapete voador, desenlace das mil e uma tramas de concreto, ferro e fogo. 
Quais perguntas repletas de respostas contamos com a sorte? Quais sugestões aceitas nos levam aos destinos certos? E se destino for mesmo divino, qual herói trans-olílmpico iria à forra? Marcados pelo silêncio com todo o som derredor, esses ruídos de cada dia do microcosmo que nos consome, como um Atlas sustentaria o mundo se destino fosse sentença? Herói, divino, semideus, valei-me Nossa Senhora, mãe de carne, suor e luta. Da noite e do dia seu colo nos acalma o pesadelo, se ainda não sonho, busco e acordado trabalho. E da madeira fez-se a mesa e Gepetto fez Pinóquio. Mas quem fez Gepetto? A mente é o artista, carpinteiro dos conceitos.
Não me pergunto sobre diversos temas. E você? Quem é você? Se até tu Brutus apunhalou a quem servia! E agora quem te serve, quem te mira, quem te guia nessa rua vazia que te faz lembrar todo dia daquele instante, mão, faca e sangue? É o bem ou o mal que te sacia? Te lambuza o poder do desastre?
Por isso não ouso nas opiniões, de muito pouco me valeria. É charabiá, tempo gasto e selvageria, esse inventar de novos tipos, novos símbolos e grafofonias. As palavras já são tantas e maiores as imprecisões. Quando se cria verbo, se força novas ações. E eu que sou sedentário? Daquilo que me orgulho, junto à preguiça, é o que mais me anima. É um tecer honrarias aos nômades de outrora, tataravós que se doaram todos para que seus filhos e os filhos dos netos dos seus filhos se aquietassem, vivessem outros perigos mais simples, daqueles tratados em terapia. Deixa a correria para quem quer do corpo ousadia. Do meu, que um largo acre ocupa, só quero a estática alegria. 
Não faço promessa, pois sei que fico devendo, me parece que do santo eu sempre tiro proveito. Cuspo no chão, derramo a pinga que não bebo. Um pouco para o céu, um tanto para o erro.
Tranquilo, tranquilo, respiro o ar ancestral que me joga ao futuro da espera, que se mostra como a única certeza para todo aquele vivente, entre andar, colher, criar, no mais, observar, como antes de se nascer, um ausente. Vila da euforia, perguntas que não compreendo.
Tudo já escrito, falas que encomendo.

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