Olhar Filosófico
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Segundo Nietzsche, o grande filósofo alemão (1844-1900), “as valorizações de um homem denunciam algo da estrutura da sua alma, e daquilo em que ela vê as suas condições vitais, as suas necessidades propriamente dita.”
Assim, quando o pensamento se detém e curva-se perante si mesmo, não é raro ele questionar-se acerca de situações com as quais o cotidiano o provoca, exigindo que ocupe uma posição em que a escolha o fará lembrar-se de que seu destino é saber-se livre.
O espírito filosófico de Nietzsche suscita-o a procurar, no tempo-espaço, o surgimento das opções de escolha segundo valores que são postos; e, em sua pesquisa, parte já certo de que não são tais valores, realmente, filhos da liberdade, mas emergem dos instintos, que obedecem a uma força que se move através de oposições. Em sua consideração extemporânea “Da utilidade e dos inconvenientes da história para a vida”, talvez a mais emblemática a discorrer sobre seu método analítico, Nietzsche coloca a metafísica no hall das elucubrações fantasiosas, inclusive inferior ao mito, uma vez que o mito tem uma nobre função individual-coletiva na construção do ‘seu’ Além-Homem…
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“Já na “Origem da Tragédia”, Nietzsche, numa tentativa que ressalta a busca revitalizante do mito através da música dionisíaca, criticara o sentido histórico ao qual é posto o mesmo, que, segundo ele, é um impulsionador e referencial à vida, quedando-se paralisado em sua leitura histórica inautêntica porque “ é o destino de qualquer mito paulatinamente esconder-se na estreiteza de uma pretendida verdade histórica e ser tratado, em alguma época posterior, como um fato isolado e único com pretensões históricas.”” (NIETZSCHE apud MONSALVO)
Com a utilização do seu método genealógico, em que se irá buscar a origem do homem histórico para encontrar ali o cerne de todo valor, inclusive o moral, Nietzsche quer demonstrar que o móvel (causa, motor) de qualquer ação não é livre, sujeitando-se, antes, a critérios estabelecidos a partir de sentimentos de autoconservação e prazer que estão organicamente, inclusive, para Além de Bem e Mal.
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“Necessitamos uma crítica aos valores morais, e antes de tudo deve discutir-se o valor destes valores, e por isso, é de toda a necessidade conhecer as condições e os meios ambientes em que nasceram, em que se desenvolveram e deformaram (...) Era um verdadeiro postulado o valor destes valores: atribuía-se ao bem um valor superior ao valor do mal, ao valor do progresso, do desenvolvimento humano”. (NIETZSCHE)
Encontrar a genealogia da moral torna-se, em Nietzsche, mais do que um método de desconstrução da própria moral, mas, principalmente, uma tarefa fundamental para o estabelecimento de uma nova cultura e política do homem-legislador que toma para si o passado para engendrar um futuro livre das ilusões metafísicas e das tradições religiosas.
“Tenho talvez o direito de dizer Cogito ergo sum, mas não Vivo ergo cogito. Foi-me concedido o ‘ser’ vazio, e não a ‘vida’ plena e verdejante; o meu sentimento primitivo garante-me só que eu sou um ser pensante, e não um ser vivo, que eu não sou um animal, mas, quando muito, um cogital. Dêem-me primeiro a vida, que eu dou-lhes uma cultura. É o grito de todos os indivíduos desta primeira geração, que se reconhecem por este grito. Mas quem vai dar-lhes esta vida?
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Nem um deus nem um homem – a sua juventude. Libertem-nos das suas cadeias e terão libertado a vida, porque ela estava escondida apenas, estava presa, não estava nem seca nem morta: interroguem- se!” (NIETZSCHE)
Nietzsche acredita que conhecer a origem dos valores morais significa desvelar o seu significado. Para, assim, concluir que não há valor ou significado em si mesmo, trata-se, na verdade, de ficções decorrentes de circunstâncias históricas, pessoais e biológicas que, enquanto parte do devir, são movidas e interpretadas pela vontade que domina o momento. Aqui, em sua análise, é que entendemos, por exemplo, por que o famoso historiador da filosofia Will Durant, inicia seu capítulo sobre nosso filósofo ironizando: “Nietzsche era filho de Darwin e irmão de Bismark”.
Extrai-se, como consequência disso, que a própria ética é mera obediência à moral, sendo esta, não mais do que modos costumeiros da tradição avaliar e agir. Nietzsche denomina tradição, a obediência a uma autoridade superior que determina a ação, daí que, para ele, ética e liberdade não convivem num mesmo homem. Afinal, “o homem livre é não-ético, porque em tudo quer depender de si e não de uma tradição”. (NIETZSCHE)
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Por outro lado, dirá que o mais ético é o homem que observa, ao máximo, a lei, sacrificando-se ao costume. A moral como estratificação do hábito, do costume, se expressa e ganha forma com a linguagem, aparecendo envolta em erros cometidos por “idiossincrasias de degenerados”, no caso de ser condenatória. É necessário, portanto, que se compreenda a moral como sendo uma “linguagem de signos”, e que as intenções postas atrás dos hábitos sejam inventadas somente depois, quando estes são combatidos e perscrutadas as suas razões. Daí a importância de conhecer, antes, o nome das coisas e não o que se diz que elas são, pois Nietzsche está convicto de que, em se criando novos nomes, novas apreciações e possibilidades, cria-se, com o tempo, “novas coisas”.
“Aquele que deseja hodiernamente estudar as coisas morais, encontra um enorme campo de trabalho. Deve meditar uma a uma todas as categorias da paixão através dos tempos, e dos povos, dos indivíduos grandes e pequenos; deve ponderar as suas razões”. (NIETZSCHE)
Por isso, entender-se-á, como egoísta, o juízo que pretender estabelecer uma lei moral para todos, desconsiderando-se, portanto, que cada homem é fruto de seus pendores, atrações e antipatias, as quais não se igualam no Ser em que se efetivam; é delas, pois, que decorre toda opinião, apreciação e tábua de valores.
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