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Esperei tanto tempo. Respirei fundo, toquei-lhe o ombro, mirei seus olhos, sorri o seu riso e, a partir de então, a verdade: nos estranhamos.
Como um meteoro a atingir minha alma “brontossaurica”, me entreguei aos sentidos do corpo e da linha tênue que separa a vida psíquica e a matéria em guerra.
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Não seria ainda sobre paz, futuramente, talvez. Mas não seria sobre paz agora. Deixemos a paz para decisões menores.
O momento era de desconstrução, demolição, recolhimento das tendas e nomadismo de desertos infinitos. Era dinamite embaixo de ponte velha, prédio sem morada, casa sem serventia.
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Seu olhar já não era o mesmo de outrora, daquele início dos solstícios do tempo escuro, do começo da vitória sobre as trevas. Era um olhar de espanto e admiração. Quem sabe pela coragem demonstrada pelo malabarismo dos meus lábios ou por uma leitura apressada de meus braços cansados, embora fechados e rígidos. Por não mais (ao menos) aparentar sucumbir aos suplícios das suas torturas. Aquelas torturas burocráticas de pedir e ser atendido, de pensar e ser contemplado, de querer e ter a seus pés o bom e velho criado-mudo a sustentar seu abajur, iluminando o espaço como Lua satélite sem astro!
Pouco a pouco fez-se um jogo dialético entre a incredulidade e a dúvida. De um lado, havia a certeza de que realmente era um destempero dessa minha fronte sempre febril, angustiada, tomada de medo. De outro, a vontade de pagar para ver tamanha coragem, até onde iria dar esse desejo (ou desespero) de liberdade! E gargalhei histericamente como quem prevê um golpe mas ainda não se vê atingido.
Eu, parado e trêmulo, pendendo para um Sol que ainda não nascia, tal qual feijão no algodão quando se faz na escola e se coloca no escuro asfixiante para que procure a sua energia vital e, enfim, faça a fotossíntese, a foto selfie, a fotofobia, enfim. Eu, planta. Do outro lado, pranto (contido, disfarçado), raiva e autoridade ferida.
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Ainda, portanto, me sobrava aos trancos e barrancos o indulto da autoestima. Choramos. Copiosamente, choramos. De raiva ou medo, de tristeza ou alívio. Nunca saberemos ao certo.
Desenho-te as palavras, se quiseres assim roubadas de Friedrich, o Nietzsche: “Para o novo ano. — Ainda vivo, ainda penso: é ainda necessário que eu viva, porque é ainda necessário que eu pense. Sum ergo cogito: cogito, ergo sum (Existo logo penso: Penso logo existo). Hoje todos se permitem exprimir os seus desejos, o seu mais caro pensamento: vou, portanto, dizer, eu também, o que mais desejo hoje e qual foi o primeiro pensamento que desejei realizar este ano; vou dizer qual é o pensamento que deve tornar-se a razão, a garantia e a doçura de toda a minha vida! E aprender cada vez mais a ver o belo na necessidade das coisas: é assim que serei sempre daqueles que tornam as coisas belas. Amor fati (amor ao destino): seja esse de agora em diante o meu amor. Não quero fazer a guerra ao feio. Não quero acusar, nem mesmo os acusadores. Desviarei o meu olhar, será essa, de ora em diante, a minha única negação! E, abrangendo tudo, em algum momento ainda quero ser apenas alguém que sempre diz sim!” (Gaia Ciência - aforismo 276).
E então seu passo agora ao Norte, meu andar trôpego ao Sul. Um suspiro profundo, um pigarro na garganta. O tempo não para e a supernova não sentirá pena de ninguém. Boom! Boom! Boom!
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Éramos dois, imediatamente já, os que outrora, até ontem, formavam o organismo unicelular. De repente, o lago não mais dava pé, o mar secou ante o Tsunami premeditado, e as nuvens que indicavam chuva, travestiram-se de rajadas de vento. Monumentos. E lá se vão 24 horas, 24 dias, 24 anos. Em dois milênios, bilhões, se assim trilhares o tempo.
Tchau! Acabou! Na cara do momento findo, labirinto. Eu, Teseu. Eu, Minotauro. Pouco importa. Tchau! Acabou! Boom!
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