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Seja dócil, meu amigo. Tudo que eu tenho a te dizer é doce. Seja dócil.
Quando estiver falando com alguém e esse alguém lhe remete a um outro alguém que nem importa ou até faz mal à narrativa, seja dócil.
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Se te oferecerem café muito doce (por açúcar ou adoçante), seja sacarina ou sucralose, seja doce também. Devolva beijos e não cuspa no prato em que comeu nem na cama onde já dormiu ao relento. Dócil, eis meu recado.
Certo dia, meu tio Alberto Xavier de Paes e Andrada havia me dado um tapa no nariz pelo simples fato de eu ter cheirado o pudim adocicado de minha tia, sua esposa, Damara Liz de Paes e Andrada. O pudim estava lindo, vistoso e repleto de furinhos por toda sua extremidade. Não me controlei e levei o tal sopapo. Rimos à beça e, ainda que me sangrasse demais o nariz, minha tia usou duas pequenas toalhas para estancar todo aquele sangue jorrando, fui doce e docilmente agradeci a correção e não comi o pudim. Seja doce você também.
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Meu inseparável amigo, João Pedro de Tiago Dantes, um dia e há tempos, roubou 25 centavos de seu pai, Carlinhos, com o único intuito de inteirar o valor para a compra de uma ficha de fliperama para um jogo violento que jogávamos na época. Dentro de uma consciência que formulamos juntos, adentramos ao imperativo categórico kantiano, que é “só um único, que é este: Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal” e, tentando remediar o terrível erro cometido, optamos por jogar um “game” dos “Ursinhos Carinhosos”, assim, pensamos, promovemos menos violência no mundo podendo eleger essa regra como geral.
Seja dócil como como os galináceos prontos para o abate, como os peixes prontos para a rede (de nylon e social) e a tartaruga para as sacolas e garrafas pets nesses nossos oceanos plásticos. Docilmente e tudo será diferente, pois o mundo precisa da contenção do ódio e das despesas com pessoal. Segure o soco da cara na fala, retire o som afinado na docilidade do brigadeiro retórico. Haja leite condensado!! Aja leite condensado!!
Por muito tempo pensei estar como estrangeiro num mundo sem glória, até que descobri as miudezas das quase infinitas desigualdades socioambientais. E não mais reclamei de barriga vazia, nutri-me de açúcar e melei minha alma, pois desigual são os outros, eu só me devolvo em doses doces e beijos. E nunca, mas nunca mesmo, se arrependa se só aceitar o inaceitável. Fique bem, fique leve, empatia, é sobre isso a narrativa. Gratidão! Seja doce.
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Quando traído por Aritana, o minotauro de Monte Trevoso nunca mais encontrou a paz, pois, ao invés adocicar o entendimento de que tudo isso sempre acontecerá na vã história humana, preferiu deixar sua paixão e buscar amor melhor. Aritana, se sofreu a perda, não se sabe, mas o minotauro de Monte Trevoso talvez ainda a busque nos braços da nova amante, com quem, aliás, tem três filhos e um futuro. Se dócil fosse, seria um mito e não a lembrança dos ribeirinhas que repetem histórias infantis.
Os urubus quando nascem são urubelos! Seja doce mesmo em sua fealdade, pois dentro de ti mora um divino maravilhoso. Para toda crítica, uma autocrítica e para todo não um vigoroso “Sim, senhor!” O belo que habita em mim, cumprimenta a gracyanne que habita em você! Doce! Doce! Seja dócil como aquela letra sertaneja que fala de evidências e disfarce do mal amado. Lindo! Toda feiura será recompensada, todo pardal pode virar pomba! Seja você, como o bem casado é apenas um doce a ser comido e cagado. Funções de paz e amor. Boca e ânus, início e fim, buracos de minhoca a habitar o nosso corpo doce!
Se te pedirem o dízimo, dê o carro, se o carro, a casa, pois isto é reconhecer que o mundo é dos espertos e você foi fisgado pelo coach de talento duvidoso (religioso ou ogro). Ninguém perde e, docilmente, você aposta no céu. Torre de Babel. Cara de pastel. Pedra para cinzel. Rima para adoçar o tempo, dinheiro para vestir a calma. Tudo é como está. Seja candidamente doce, cante melado, entregue as pontas, “Doce, doce, doce/ A vida é um doce, vida é mel/ Que escorre da boca feito um doce/ Pedaço do céu.”
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