Olhar Filosófico

Quem? Sou? Eu?

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 A pergunta entrecortada em formato de título é um paradoxo, revela e esconde, a nós e ao mundo, esse tempo formatado em matéria. 

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Como dois em um são vários, ainda assim ousemos. Vejamos: 

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Quando dizemos “QUEM”, referimo-nos à pessoa (em dignidade, liberdade e mistério), mas qual pessoa? 

Quando dizemos “SOU”, damo-nos o sentido, a sensação e a possibilidade de permanência num tempo e num espaço determinados, mas qual tempo-espaço? 

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Quando dizemos “EU”, o que o eu nos diz? Diz-nos aquilo que, na maioria das vezes, não somos. Não somos o reflexo no espelho d’água, não somos só imagem e semelhança, não somos só pensamentos, sentidos, sentimentos ou só um mistério, estranho, agridoce. Somos mais. Mas o quê? Em quando? Enquanto o quê? Será? 

Este eu que me interpela serei ou não o eu que me responde, um ser que muda, transforma e se acomoda com a realidade que o rodeia e, talvez, o espreita? 

Deste imbróglio filosófico geral à questão objetiva, aflitiva até, tentemos: 

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Somos seres relacionais, apareci de repente no mundo (fruto de uma relação), o encontrei estruturado (resultado de infindáveis relações) e morrerei numa espécie de sem querer (não menos relacional, e, espero, inclusive, que me guardem segundo normas, ritos, resultantes de nossas outras relações, com a verticalidade, o inefável suposto na reza ou no grito). 

Se somos relacionais, precisamos saber conviver, nos solidarizar. A solidariedade, mesmo sem matiz religioso, é condição fundamental para nos mantermos longe do fim que damos ao velório do nosso regresso. 

Será que sabemos nos relacionar de verdade ou de fato despertar em nós e nos outros essa necessária solidariedade, imbuída de naturalidade ou segunda pele do corpo chamada cultura, grãos de areia conectados a estrutura de átomo? 

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Mundo, família, grupo e trabalho. Tenho sede! Dá-me de beber. Terra à vista! Foi o riso do pirata ou a morte da rainha? 

Quem sou eu? É a pergunta que, por bem ou mal a respondemos constantemente, do contrário, teríamos todos nos suicidado enquanto espécie. Mas como perceber ou buscar a melhor resposta? A verdade é que só eu poderei saber: ninguém, a não ser eu, pode delimitar o terreno especulativo acerca de mim mesmo, começando pela observação apurada de minhas tendências que me parecem vocação, liberta, se certa, enforca, se erra. 

Na música dos Titãs se ouve: “Devia ter amado mais/Ter chorado mais/Ter visto o sol nascer/Devia ter arriscado mais/E até errado mais/Ter feito o que eu queria fazer/O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído”, não nos iludamos, o acaso não protege ninguém, muito menos enquanto estivermos distraídos. 

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Fiquemos alerta! Suspendamos o cale-se e afinemos os punhos! Afinal, “É preciso estar atento e forte/ Não temos tempo de temer a morte/ Atenção para a estrofe e pro refrão/ Pro palavrão, para a palavra de ordem/ Atenção para o samba exaltação/ Atenção/ Tudo é perigoso/ Tudo é divino maravilhoso”. 

Estar alerta para com a vida não significa se cansar na tensão de ser um tipo de sentinela em estado de vigília, com peito aberto e mente sonolenta, enganado, atacado por alguém, soldado ou general, que sem fardas, estão nus e, atenção, nus estão sempre, atenção, com fardas, fraldas e pantufas, esses pés de pelúcia por baixo da calça de algodão camuflada. 

Estar alerta é não se deixar levar pelo relativismo das circunstâncias, nem por ideias que parecem receitas prontas e definitivas, mas estabelecer princípios e duvidar de tudo que aos meus olhos e aos dos outros parece normal, recorrente, decente, tem quem diga. Problematizar é a palavra-chave. Levantar boas dúvidas para encontrar novos caminhos, ousar levar a alma para novos lares, viver como quem sou eu? 

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E, nesse momento, rebatendo no Olimpo, a canção titânica, lembro-me das queixas de todo maluco que se faz beleza e diz, me diz, nos diz: “Não sei onde eu tô indo/ Mas sei que eu tô no meu caminho/ Enquanto você me critica,/ Eu tô no meu caminho/ Desde aquele tempo/ Enquanto o resto da turma se juntava/ Pra bater uma bola!/ Eu pulava o muro, com Zezinho,/ No fundo do quintal da escola/ E se você quiser contar comigo/ É melhor não me chamar pra jogar bola”.

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