Olhar Filosófico

Paulo e Friedrich, educadores

Nietzsche (Alemanha, séc. XIX) e Paulo Freire (Brasil, séc. XX), em seus devidos momentos históricos, enxergaram um grande risco na Educação (entendida em sentido amplo como processo pelo qual se referenda a Cultura e consequentemente a existência de seus partícipes), qual seja, a disseminação de uma visão meramente adaptativa-conformista à situação histórica de uma época e como fim último de uma suposta evolução.

Por outro lado, também contemplaram seu poder de disseminar e desenvolver uma visão genial (Friedrich Nietzsche) e progressista (Paulo Freire) no assumir dos muitos riscos na criação de sentidos, com a certeza de que a mudança é o fator propulsor da existência humana, que busca no constante inovar, de seu sair de si, a sua realização educativa, humanizadora.

O homem nietzscheano se concentra basicamente em três aspectos que lhe são essenciais, assim como a Paulo Freire, diferenciando-se, todavia, em relação à relevância e formulações conceituais dos termos empregados.

É clara a busca de um homem integral, no sentido de se ter a aptidão de vivência alicerçada enquanto um ser de história (onde se situa atrelado a um conhecimento daquilo que se faz e daquilo que já se passou), enquanto um ser de vida (onde o seu instinto/ razão age, onde está o corpo de sua ação) e enquanto ser de cultura (onde ocorre sua identificação, seu reconhecimento e dos demais, numa unidade afirmativa na complexidade da physis - o brotar revelador das forças que subjazem o movimento por completo da natureza em efetivação).

Enquanto o homem não desenvolver suas aptidões vitais descobrindo-se nesses três aspectos que lhe compõe, não viverá na intensidade de sua contínua e necessária formação, talvez essa seja a primeira constatação que podemos ter em relação aos nossos pensadores que, dentro de seus “métodos”, pretendem buscar uma mais completa visão de homem/ humanidade.

Se não se buscar tal integração do humano para com ele mesmo, atingindo uma nova visão (contínua, é claro) de mundo, permanecerá o que, até hoje, revelou- se como informação deformadora: seu formar-se será teórico, sem os instintos aflorados de sua vida, que será contemplativa e, portanto, inapta à prática educativa (qualquer que seja ela, principalmente, é claro, à transformadora/ progressista); sem profundidade crítica alguma em sua cultura, não compreender-se-á  como parte integrante dela, sendo tudo entendido como mera erudição e sua história um livro de consultas decorativas (por isso, na maior parte das vezes consultas inúteis, descontextualizadas de qualquer sentido maior de realidade), cheio de lamentações e desprezo pela humanidade. Lamento e prostração!

Se critérios da crítica nietzscheana se centram mais ostensivamente, por ora, nesses aspectos, é porque visa em cheio à intelectualidade “burguesa” (ideologicamente dominante) de sua época, que, segundo ele, foi quem promoveu tais discrepância e contradições em relação à concepção vitalista de se encarar e formar o ser humano. Por sua vez, o pensamento freireano corrobora e ultrapassa tais ideias da crítica nietzscheana. Embora em épocas distintas, as inquietações que se fizeram presentes em ambos, são quase que totalmente direcionadas para uma mesma ideia: um vitalismo integral e integrador em oposição à ideologia adestradora/doutrinadora de ambos os sistemas de governo, em seus devidos momentos históricos,  com relação à formação de cultura.

Assim, paralelamente a Nietzsche, Paulo Freire nos diz muito com relação à afirmação da vida como condição elementar do processo educativo do ser humano, começando por condicionar o se “estar sendo” (como radicalidade ética - alicerce dos valores humanos) expressão de sentido primordial e, também, tão cara ao filósofo alemão. Como diz Freire: “Na verdade, falo de ética universal do ser humano da mesma forma como falo de sua vocação ontológica para o “ser mais” [talvez, salvo algumas particularidades do conceito, um correspondente à vontade de superar a situação atual do Humano que brota na e da ideia de Além-Homem nietzscheano] (...) A natureza que a ontologia cuida se gesta socialmente na História. É uma natureza em processo de “estar sendo” com algumas conotações fundamentais sem as quais não teria sido possível reconhecer a própria presença humana no mundo como algo original e singular. (...) “Estar sendo” é a condição, entre nós, para ser.”

 

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