Olhar Filosófico
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Comércio em alta. Compras e presentes. Egos, panetones, afetos convencionais, briga e peru na mesa, porco no forno e nas ruas fome. Tradição, família e José preso por roubar um miojo e Maria grávida e desnutrida se perguntando, até quando? Cenário propício à organização natural das coisas.
É Natal. Não vou aqui falar do seu significado histórico. Nem data correta, solstício, apropriação do paganismo e outras bobagens. Chover no molhado. Todo mundo diz que sabe pelo diz que me disse de quem garante que ouviu de não sei quem que falou. Conversa de doido. Enfeite de tragédia anunciada. E no Brasil, segue ainda recheada de uva passa e Roberto Carlos com a tecla “repeat” presa à sua peruca desde a década de 90. Os teleguiados chamam de rito de fim de ano. Eu não chamo de nada. Um amém à tecla “power” para o desfecho em tela preta.
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Natal é data cristã e ponto. Ideologia e simbologia de nascimento e radicalidade da tomada de posição no mundo. Deus feito gente, menino feito Deus. E o céu abriga os desabrigados. Sem poesia alguma. A manjedoura segue com goteiras na casa alheia. Deuses sem moradas. Um dar de ombros e piscadas nervosas. O império segue e Herodes governa. Cíclico.
Natal também é “Santa Claus”. Deus salve a América e o caminhão da coca-cola. “Yes, we can!”
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Papai Noel é excrescência. Atenção, tirem as crianças da sala na continuidade da leitura. Alerta de “spoiler”! Papai Noel morreu, nós o matamos, diria nosso amigo e filósofo bigodudo. O problema é que este ser (ou não ser) continua a simbolizar a bolsa de valores e a esvaziar os valores das nossas bolsas e os pratos das nossas ceias.
Um símbolo horrendo numa sociedade que se assusta quando se depara com o espelho. Mas se maquia e segue no salto alto no velho estilo de que, ou há de ser Cavalcanti, ou há de ser cavalgado! “E é praieira, segura bem forte a mão”, responderia Chico Ciência.
Quem cultiva o bom velhinho tem de tomar cuidado. Não se trata de simbolismo lírico e de liberdade poética. É um mau sinal de educação às crianças e um problema à ignorância coletiva.
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Patriarcado dominador segue firme em um fenômeno que nem pai é. Presentes como consumo e recompensa pelo respeito à ordem e aos bons costumes. Moral oficial, recatada e do lar. Marchem e serão recompensados. Reflitam para ver, aí é outra conversa. O cinto preto do velho barrigudo come solto nas costas dos desafortunados.
Salvem os senhores das barbas brancas e com lombalgia recorrente a sofrer de dores outras e iludir as criancinhas. Nem sequer perguntamos-lhes seus nomes. É símbolo e ideologia das sociedades “shoppings centers”. Fetiches escravos da cultura de massas. Esses “new” empreendedores que trabalham um mês e passam vergonha e desespero com as aposentadorias que recebem no resto do ano. Resgatem e libertem esses bons velhinhos, crianças. Nós acreditamos em vocês, “kids”!
Conviver com papai Noel e Jesus numa mesma data e dividindo o mesmo cálice, revela muito o inconsciente social de onde saímos e vivemos. Não pode dar certo. Cristão ou não, acredite, é água e óleo.
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Um oferece a outra face, o outro aceita no crédito. Um expulsa os vendilhões e preserva a casa, o outro remodela o templo e vira “coaching”. Um, do barro e da carne, é pobre, entre pobres e a partir dos pobres faz morada divina, o outro, feito da imagem do bezerro e do ouro, diviniza a miséria e rejeita os miseráveis. Um toma a Cruz em que religião, dinheiro e poder o pregaram, o outro lava as mãos e decora os pregos com pisca-pisca e bolas de cristal.
Nada novo no front? Mas é melhor tomar cuidado com a carteira, o símbolo ganha vida e te rouba do que não tens para dar o que não podes! É a mão branca e invisível do Mercado! Ho! Ho! Ho!
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