Olhar Filosófico
Continua depois da publicidade
Frente a um texto, deparamo-nos, tal qual Édipo, diante de uma esfinge em formato de monstro-discurso que lança-nos a charada como desafio, vociferando "Decifra-me ou devoro-te". Pois bem, ao buscar a compreensão de texto, devemos, antes de mais nada, lê-lo; não apenas decodificá-lo, senão, principalmente, adentrar-lhe aos alicerces, aos pilares de sua sustentação, à lógica, já à primeira vista, da sua estrutura. Assim, criamos para nós próprios, voluntários (pois com desejo e vontade) da leitura, a pergunta essencial ao desvelamento do discurso (sempre um discurso) textual: Um porquê, uma razão de ser subjaz no texto, por mais absurdo que ele possa me parecer; mas qual é tal razão, o que faz do texto lido ser o que ele é, significativamente, e não outra coisa?
Partimos do princípio de que o leitor seguiu, até aqui, todos os critérios da adequada leitura; características físico-subjetivas que o levaram a ler (apropriadamente) entendendo, no mínimo, a ação explícita do texto.
Continua depois da publicidade
Dentro de tal contexto, supomos que o leitor vê-se agora entretido ao menos por uma característica de permanência do e no discurso, ou seja, embora lido e, parcialmente, decodificado e interpretado, o texto se revela passível (ainda ou já) de uma análise aprofundada a respeito de si mesmo, para que apresentou-se?
Analisar, essa fundamental ação de se dispor aberto para com o texto e colocá-lo totalmente dividido em partes e perceber-lhe claramente como uma harmonia que se revela em suas particularidades; portanto, ao realizar, iniciando, tal ação, devo predispor-me a efetuar, com extremo rigor, a objetivação ou entendimento mais adequado do mesmo.
Continua depois da publicidade
A critério de observação, esclarecemos que, embora se possa pensar num processo até mesmo de esgotamento dos sentidos do texto através de tal ação analítica, devemos ter em mente que a análise estrutural de qualquer discurso, como o texto, não lhe esgota suas interpretações, mas, pelo contrário, possibilita-nos a termos conscientemente a unidade e originalidade do mesmo, delimitando-lhe (ainda que provisoriamente) seus demais fins correspondentes, adjuntos, acessórios e, todavia, significativo. Analisando, estamos objetivando a relação de clareza e acessibilidade com o texto, buscando seu próprio caráter e pondo em crise nossas distrações subjetivas. Penso em três critérios para rigorosidade dessa análise:
1. Elementar…
Quando dizemos , buscando o autor, não significa, em nenhuma hipótese, tagarelar sobre sua biografia, ato no qual perderíamos o objeto e objetivo de nossa atenção; queremos dizer, pelo contrário, que buscamos as razões autorais para elaboração de seu texto, assim como sua marca bibliográfica, meio principal para elaboração de seu discurso; seu tema de análise e crítica, suas hipóteses e união do subjetivo-objetivo de sua visão.
Continua depois da publicidade
2. Consequências: o autor e qualquer um…
Ao irmos ao encontro da escrita do autor, buscamos a maneira específica da revelação textual por parte do mesmo em relação às suas ideias. Buscamos, ainda, mais claramente, a lógica inerente ao caráter das ideias do escritor que visa suas demonstrações, explicações e generalizações efetuadas; tal como toda sua conceituação aplicada ao texto. Chegamos aqui, aos traços conceituais do autor no texto, à identidade do próprio texto. Devemos, portanto, saber de fato buscar a genealogia do conceito trabalhado, agora com a assinatura do autor, seja explicando-os ou reconceituando-os.
3. Por baixo da Torre de Babel há Ordem…
Continua depois da publicidade
O processo cognitivo ou de apreensão mediada (racionalizada) da realidade ou de um texto, não se dá fragmentado, pois está além da simples (imediata) percepção. O todo, solidifica- se na coesão do texto e é através desse todo coeso que podemos deduzir, analiticamente, as partes que o constitui. Tal qual quando dizemos que numa orquestra (os códigos do texto), a harmonia (a unidade do texto) demonstra o todo em todas as suas partes. Por fim, teremos dado conta de que, embora ainda não sabendo totalmente a resposta a ser dada à Esfinge (como monstro-texto), temos claramente a tarefa (analítica) com a qual poderemos decifrá- la, invertendo, através do jogo textual, a mítica provocação: " Devoro- te, mesmo sem decifrar-te".
Receita pronta, sirva(-se) quente e coma frio. Não olhe para o lado, nem cuspa no prato em que comeu. O problema é da interpretação!
Continua depois da publicidade