Olhar Filosófico

O poder: um poder

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Por “ouvirmos dizer”, supomos ter aprendido, por meio de vícios de nossas práticas sociais e individuais, que poder significa, mais ou menos, um tipo/ideia/ação de despotismo, ou seja, uma vontade absoluta e arbitrária de alguém de um determinado lugar de comando. Isto é tão comum que nossos ‘heróis’ da história, na maior parte das vezes, encarnam essa característica e, inclusive, costumamos nos orgulhar disso manifestado neles. O poder virou quase uma entidade misteriosa, sobrenatural e genuinamente carismática. Um horror! Um horror!

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Por tudo isso, alimentamos um sentimento de sucesso egóico possessivo entre todos os indivíduos da sociedade que parece nos dar o direito (e até o dever!) de pensarmos e buscarmos ser assim. Não aprendemos, por exemplo, a lidar com perdas ou, até mesmo, a reformular constantemente novos caminhos de existência, razões e metas para nossas vidas num mais largo espectro sentido de poder. O garoto que “perde” a namorada, entende que roubaram-lhe uma propriedade. O pai que “dita” as escolhas dos filhos, quando estes as frustram, sente-se traído, enganado e decepcionado pelo insucesso, afinal, tudo era seu, estava sob seu domínio e daria tão certo.

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Somos ‘educados’ para o sucesso, e isso graças à pressão da idéia equivocada de poder que herdamos.

O poder é ora um reconhecimento, ora uma delegação efetiva, isto é, não emana naturalmente de um ser superior travestido de cidadão comum, ele é uma construção coletiva. Nós temos ou atribuímos poder quando construímos ou reconhecemos que precisamos de orientação, afeto e lógica para tal e qual papel e função de nossas vidas e em momentos determinados de nossas vidas. E, mesmo assim, o poder, em tese, não é construído ou delegado para que dele se faça o que quiser. Ele se mostra a partir de um pacto, um contrato.

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Como bem especulara o filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) em sua obra “Do contrato social”: “Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja a pessoa e os bens de cada associado com toda a força comum, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedece contudo a si mesmo, permanecendo assim tão livre quanto antes. Esse, o problema fundamental cuja solução o contrato social oferece. (...) Cada um de nós põe em comum sua pessoa e todo o seu poder sob a direção suprema da vontade geral, e recebemos, enquanto corpo, cada membro como parte indivisível do todo.”

O poder tende, portanto, a sempre (re)nascer a partir de dois princípios:

1º PELA CONSCIÊNCIA DO EU: que implica um reconhecimento de minha inteligência em consonância com minha vontade, isto é, percebo que tenho, de maneira esclarecida, a força para me decidir, a livre-escolha. Isto abre as portas para a realidade do poder que, portanto, se inaugura com minhas possibilidades e probabilidades enquanto indivíduo;

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2º PELA CONSCIÊNCIA DA DIMENSÃO SOCIAL QUE NOS ENVOLVE: além de perceber a mim, devo perceber, cada vez mais, os outros que comigo convivem, que de mim, mesmo que eu não perceba, dependem e se sustentam (e vice-versa).

O poder, como ideia ou “vetor”, é descoberto em nosso interior, mas traz respostas práticas ao exterior, de um modo que a todos influencia e condiciona, num processo pendular de dentro-fora, subjetivo-objetivo, vida particular-história universal. 

Uma renovada e significativa visão de poder faz-se necessária no dia a dia. Aliás, talvez não seja uma questão de inovar radicalmente o olhar sobre o conceito, mas, antes, perceber-lhe o real e verdadeiro sentido.

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Ter poder é, acima de tudo, gozar de uma autorização da vontade individual esclarecida mais íntima, e da vontade, não menos esclarecida, da coletividade.

Para ser animado, íntegro, o poder precisa de alguns princípios norteadores, e o primeiro deles é a criatividade.

A articulação e prática do poder exige uma renovação constante, uma capacidade de criação de entendimento, feitos e atos. Ser criativo é ser capaz de criar, dar origem, parir e estabelecer o novo, e é por isso também que admiramos o artista em sua produção. E ficamos tão maravilhados com esta dimensão da liberdade possível porque, enquanto humanos, somos seres de superação e a criação, a invenção, são molas que nos lançam à inauguração do futuro, delineia o que virá!

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