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Toda criança traz livremente dentro de si, de toda extensão de sua massa encefálica instigante e misteriosa, de cada espaço também de todos os seus sentidos, um “daimon” muito peculiar! Pois, assim como Sócrates a nomeara, “daimon”, essa entidade entendida como uma “intuição do bom senso” ou uma espécie de “iluminação íntima racional”, nas crianças ela atinge um nível diferente e único, onde a razão toma partido, mas não sozinha (como pensava Sócrates), antes, como percepção de mundo e vida no instante exato em que sentidos, intelecto e realidade se misturam e geram uma forma única de se viver o instante.
Esse “daimon” infantil, portanto, metade intuição, metade razão, metade “insight”, metade criatividade, sem, contudo, ser ilógico o total dessa soma, vai além de Sócrates, o filósofo grego a manifestar com coragem este ser interior. Para o grande pensador heleno, seu “daimon” “sempre o impede de fazer o que deseja” e leva-o a realizar o que a razão lhe ordena. O que, para ele, seria o melhor!
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De pouco em pouco e muito além de Sócrates, o “daimon” pueril, toma matéria e forma e nos instiga a pensarmos como a vida deve ser vivida na sua integralidade para além das regras impostas para e pela razão.
Eis que Tunico, um filósofo infantil que não consta dos livros, demonstrou bem parte desse fenômeno. Pois, não é que num belo dia Tunico, num acesso de rebeldia, resolveu tentar se explicar? Olhando-se no espelho, admirou-se e chegou a uma pergunta que muito o abalou: Quem, afinal, eu sou? E, assim, o espelho refletindo o rosto de Tunico dizia com sua própria boca, aventure-se e seja bem-vindo! E ele ali parado estava ali pensando e ali foi ficando e tudo foi se iluminando. Iluminando seus pensamentos, seu corpo, seus sentidos, Tunico, agora por si só já dizia: Eu sou um menino! Menino de um estilo, de um modo, de um jeito. Menino levado, no bom e no mau sentido, ou seja, levado por ser arisco, por ser matreiro, e levado pelos outros em termos de pensamentos.
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A partir dali nosso personagem resolveu pensar por si! Via a necessidade dos outros, via! Via o individualismo que havia, via! Via a desigualdade social, via! Via agora o que não queria, via! Mas, corajoso como se fizera, muito do todo ele agora via!
E decidiu em tal momento, ele, Tunico, menino do mundo, menino de tudo, escolher um caminho de mudança: Qual? Não sabia ao certo, mas sabia que, definitivamente, não seria o mesmo Tunico que um dia havia sido e, criando seu próprio destino, inventou o verbo “tunicar”: um Tunico cheio de coisas a descobrir, um Tunico cheio de gente para dialogar!
Agora dizia e sentia sempre que dentro da gente tem gente, gente de montão, eis o “daimon” nessa percepção, e ficou em estado reflexivo, de contemplação. Percebeu que toda aquela gente dentro de todo ele, era gente, que na vida ainda curta já vivida, em algum momento específico, com ele convivia!
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E num fim de pensamento para que dali outro se formasse, nosso amigo, tal qual filósofo-artista, agora queria só ser! Animal, Tunico, humano, pessoa, o outro pro outro, gente pra gente.
E a convivência convidativa, assim tão bem sacada pelo garoto, é a forma que forma a gente, dentro e fora da gente mesmo, pois a vida nos redime em todo seu mistério, com muita arte e filosofia, imaginação e ousadia, com ciência e rebeldia, e sempre com muito critério!
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