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Olhar Filosófico

O filósofo e a juventude

A maioria daqueles que me leem nesta coluna, em algum momento já ouviu falar do pensador alemão do século XIX, Friedrich Nietzsche (1844-1900).

Há exatos quatorze anos eu publicava o meu primeiro livro sobre esse filósofo.

Minha relação com seus escritos foi de pura paixão furiosa. Mergulhei em suas palavras, me embrenhei nas suas críticas, concordei, mas também lutei contra boa parte de suas ideias. Sem dúvida, como bom e mau exemplo, Nietzsche foi um divisor de águas no meu pensamento e em minha escrita.

Em virtude desse tempo passado e de camaradagem cada vez maior com as reflexões do filósofo bigodudo, deixo aqui palavras que usei para explicar parte de seus ferozes ataques contra a cultura de seu país, vista à época, por ele, como antiquada, conservadora e sem originalidade. Qualquer semelhança com a realidade pode ser mera coincidência.

Segundo Nietzsche, faltava aos seus conterrâneos uma cultura que os pertencesse e os identificasse. Não queria, com isso, promover um chauvinismo e defender um ser supremo, a pátria e a família, aliás, nada mais contrário às ideias do “filósofo que matou deus”. Na verdade, buscava recuperar a capacidade de reinventar o passado em vista de um futuro transformador. Em função disso, entendeu ser a juventude a única (possível) porta-voz de suas ideias, que como um martelo, derrubariam ídolos e heróis construídos até ali.

O passado histórico perdera as rédeas nas mãos dos pensadores e homens de Estado, promovendo, assim, um historicismo, um conservadorismo nocivo àquele que deseja inovar. Entre um sistema que a tudo padroniza e a busca por um poder que a todos escraviza, os fatos passados, mal utilizados, trazem uma massa de saber povoada de, segundo ele, “fatos estranhos, bárbaros e violentos, ‘feitos em horríveis coágulos’, abatem-se com tal brutalidade sobre a alma dos jovens, que ela só consegue libertar-se pela apatia consciente. Se a alma é mais forte ou mais delicada, pode aparecer uma outra reação: o desgosto. O jovem sente-se estranho em toda a parte e duvida de todos os costumes e de todas as ideias. Sabe agora que as coisas têm sido diferentes ao longo de várias épocas e que pouco importa o que ele é.”

Portanto, numa época tal, o espírito juvenil é, quando muito, levado a um sentimento de desgosto, sentindo-se um corpo estranho de seu tempo. Para Nietzsche, a história (que é necessária) venceu, porém, como absoluta. Ou seja, uma narrativa que engloba tudo o que se foi, tudo o que está sendo e tudo o que será. Como se a verdade existisse e pré-determinasse os nossos destinos. Assim, ser erudito e sábio, significava encarnar e narrar a história e não buscar a justiça necessária à vida, ao novo que sempre vence. E a vida em toda sua potencialidade trágica, transborda mais no coração instintivo e intuitivo dos jovens.

Precisamos dar possibilidades para que o novo apareça e o original aconteça, mas, devido à educação conservadora, historicizante de se produzir ou resumir

todas as coisas numa narrativa com começo, meio e fim, o jovem sente-se acuado, não ousando pensar por si mesmo.

O jovem perdera qualquer perspectiva para um outro olhar, pois, sua cultura nacional não lhe oferecera uma unidade entre espírito/ideia e intuição/vida. Desse modo, a narrativa histórica que tenta demonstrar leis estáticas que fazem funcionar o mundo onde todos devem se acomodar ao patriotismo, aos partidos, às crenças e aos heróis (bufões) de ocasião, pode, segundo Nietzsche, “extirpar os mais vigorosos instintos da juventude: o ardor, a insolência, a dedicação e amor. Ela é mesmo capaz de tirar à juventude o seu mais belo privilégio a energia com que ela, no excesso da sua fé, implanta em si um grande pensamento, a fim de fazer crescer no seu seio um pensamento ainda maior. Com a fuga aos horizontes infinitos, o homem refugia-se em si mesmo, no mais exíguo dos domínios egoístas que haja e, fatalmente, murcha e seca. Talvez alcance a prudência, mas nunca a sabedoria.”

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