Olhar Filosófico

Não leia o que escrevo, é Natal

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Minha cuca delibera à alma aquilo que ela não sonha em dizer de fato. Ou seja, alterei a consonância do desejo com a mente. Assim, se ela mente, eu razão e a vida estrada.

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Natal das crianças de Gaza. Natal das crianças de Gaza. Natal das crianças de Gaza. 

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Israel mandou de presente aquela bomba de ‘fascinazi’, fascinado, naquele vício pelo destrutivo, aquele jeito de ser extremo, colono com chicote que já bate pela força do hábito alienado. E as crianças de Gaza comemoram o Natal de Jesus. O mesmo Natal de Jesusinho de Nazaré. Morto e mais outra vez morto do mesmo jeitinho. “Deixai vir a mim as criancinhas”, e de um lado bomba e do outro escombro. No meio da terra vê-se Maria inchada, atordoada pelo resto do estrondo. Grávida de Jesusinho de Nazaré que o Império mais uma vez abortou às portas do paraíso. E José, perdido em cólicas do tiro levado a seco, do intestino perfurado pela bala anti-terror, anti-criança, anti-discurso, ante a luz da verdade, nada. Só néon e fósforo barnco. José, o terrorista de Gaza. O sicário morto por precaução de possível ameaça.

E minha cuca delibera à alma aquilo que ela não sonha em dizer de fato. Cuca maluca que ama o segundo não ditado, daquele relógio do fim do mundo sem pilha suficiente, pois petróleo, carvão, zinco e lítio se acabaram no consumo da última gota de desperdício. Estados Unidos da Desgraça. Novo mapa mundi no ano jubilar do cálice de prata, sem vinho, sem ar, sem nada. E um foguete estaciona na Terra para a alegria do Natal de Gaza. Para o Natal das crianças de Gaza. Natal das crianças de Gaza. Natal das crianças de Gaza. 

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Eu sonhei que tirava do céu a esperança intacta, eu, imaginava, eu, um semi-nada, um semi-vivo, um semi-deus da autoestima não declarada no Imposto de Renda da Pessoa Tísica. Logo eu era quem sonhava. E a esperança ria histérica, ventre de mulher devastada.

Olha o helicóptero Jesus, meu Jesusinho, vem trazer quem sabe água, bola, roupa ou salgadinho. Olha o helicóptero, meu Jesusinho, mas parece que traz mais fogos de artifício, e destrói um prédio, destrói um carro, um cavalo, um andarilho. Mas não trouxe a água, nem remédio, a paixão ou o salgadinho, meu Jesusinho, para o Natal das crianças de Gaza. Natal das crianças de Gaza. Natal das crianças de Gaza.

E minha cuca delibera à alma aquilo que ela não sonha em dizer de fato. Como se apaixonar assim, meu coração, no mundo caduco de tudo. Como lançar a pedra se o vento traz de volta, como rolar a pedra se o morro traz de volta, como descansar da guerra se a pedra e Sísifo sempre voltam. Na playlist dos meninos de Mercado, meninos brancos do Mercado, meninos herdeiros de Mercados, toca o caos ritmado, o bit da falta de tempo acelerado, toca o desespero sem graça dos endinheirados. Toca o caos, meninada, e solta o som dj contratado, manda aquela e leva no passo: “É som de preto, de favelado, mas quando toca ninguém fica parado!”.

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E um tipo de amor acontece, olhando para a Lua que é a mesma na Síria, Texas e Kiev. Montevideo, Okinawa, Teerã e Cidade do México. Um tipo de amor acontece. Nas brechas desse desmonte das tendas do monte da agonia, dessa terra sem lei, Terra sem freio, terras, gases e galáxias. Líquidos, talvez, mas um amor ainda assim acontece. De uma mãe com aquele filho, de um tiro sem aquela bala, de um destino não cumprido, do rebento pródigo na volta pra casa. Meu Jesusinho, fazei de tudo para o Natal das crianças de Gaza. Natal das crianças de Gaza. Natal das crianças de Gaza.

E minha cuca delibera à alma aquilo que ela não sonha em dizer de fato. Amo aquela canção tristonha que usa todo o sarcasmo. Amo a ironia do peito aberto de quem apedrejado, ousa não morrer no ato. Amo aquela moça do riso largo, se eu falo finitude, ela gargalha e vira de lado. Amo esse ruído despojado. O som da foto sem filtro, sem marcas. Aquela fotografia do céu todo escuro mas iluminado. E não quero morrer ainda enquanto tudo não estiver consumado. E Gabriel disse à menina, “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor é contigo!” Um amor aparece em meu labirinto. Faz sol, e ainda, meu Jesusinho, elas teimam sempre em nascer, as crianças no Natal de Gaza. 

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