Olhar Filosófico

Muito prazer, solidão

Continua depois da publicidade

Solidão. Na maior parte das vezes vista e sentida como a inimiga mais íntima, merecia daqueles que amam e sonham, melhor sorte. Pois, se de fato há uma (e somente uma) maneira solitária de sentir no ser e estar, que amarga a boca,  anuvia o espírito e prende os pés ao chumbo dos dias frios, por outro, e é dessa que falo, temos a solidão que grita à nossa identidade na busca por pensamentos mais profundos, reflexões mais claras e inflexões de um ir e vir que dialoga mais com as possibilidades do que com as certezas.

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.

Se uma com remédio e companhia se cura, a outra não é doença, é busca. 

Continua depois da publicidade

Da novidade aos novos baianos que podemos ser, “ou vestidos de lunetas,/ Passado, presente,/ Participo sendo o mistério do planeta.”

Mistério, Mistério, grito e não me arrependo, mais sei daquilo que não compreendo, mas só as perguntas certas, aumentam a indecisão do tempo. E nem Zeus, Odin, Ogum, Anúbis podem com seus nós segurar aquele que não se espera. Pois deuses se fazem no aguardo, e humano na solidão das eras. Esperança indefinível nas vontades de quem a deseja. Deuses impacientes aguardam. 

Continua depois da publicidade

Ainda que de encontro em encontro eu seja, da expectativa desvio, onde ordem e refúgio, não permitem à semente um crescimento dissoluto. Vento que cobre o sol, corre nas pernas daquele que sozinho, não como um Atlas a carregar o mundo, voa sem asas a um abismo, pois abismo é um abraço sem muros na imaginação fértil de quem poesia come.

Sê o que és. No tumulto o caos não beira, e sem desordem não existe a centelha que ilumina as escolhas de uma vida plena, inteira. “Por minha cabeça não passava/ Só! Somente só!/ Assim vou lhe chamar/ Assim você vai ser/ Só! Só! Somente só”.

Quando Nietzsche chorou sozinho, como num ato extremo e belo, o tempo não ficou mais triste, mas, antes, mais singelo. Longe da algaravia, via-se como via que não passa carro nem trilha, mas estrada de homem só que do pó ao pós seu Zaratustra surgia:

Continua depois da publicidade

“É longe da feira e da fama que se passa tudo o que é grande; é longe da feira e da fama que moraram, desde sempre, os inventores de novos valores. 

Foge, meu amigo, para a tua solidão: vejo-te picado por moscas venenosas. Foge para onde sopra um ar rude e vigoroso!

Foge para a tua solidão! Perto demais viveste dos pequenos e dos miseráveis. Foge da sua invisível vingança! Outra coisa não são, contra ti, senão vingança.

Continua depois da publicidade

Contra ele não mais levantes o braço; inúmeros são eles e não nasceste para enxota-moscas.”

E quantas vezes apequenados estamos para entrar no rol dos escolhidos. Mesmo entre muitos, a solidão pode ser altiva, novamente, é claro, não a solidão frenética, fisiológica, aflitiva, mas a solidão amiga. No silêncio da palavra em seu encontro com o pensamento, fazendo da ideia o momento, sublime, solitário, soberano.

Pensa de vez em quando se não é na solidão as maiores decisões. Na calmaria de quem só contempla entre o estímulo da vida e a próxima sentença, a próxima escolha, seja ela mudança inteira, meia volta ou desejo de reparação. Quando as vozes ao redor uníssonas se calam, lê e mergulha na obra que é o cão de Deus, o Homem. Você, eu. Cada qual servo de ninguém. Solidão atormenta os sinais de contramão. Um olhar, um toque, uma plantação, vida brota junta na solidão.

Continua depois da publicidade

“Foge, meu amigo, foge para a tua solidão e para lá onde sopra um vento rude e vigoroso. Não nasceste para enxota-moscas – Assim falou Zaratustra”.

Continua depois da publicidade

Mais lidas

Conteúdos Recomendados

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software