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Solidão. Na maior parte das vezes vista e sentida como a inimiga mais íntima, merecia daqueles que amam e sonham, melhor sorte. Pois, se de fato há uma (e somente uma) maneira solitária de sentir no ser e estar, que amarga a boca, anuvia o espírito e prende os pés ao chumbo dos dias frios, por outro, e é dessa que falo, temos a solidão que grita à nossa identidade na busca por pensamentos mais profundos, reflexões mais claras e inflexões de um ir e vir que dialoga mais com as possibilidades do que com as certezas.
Se uma com remédio e companhia se cura, a outra não é doença, é busca.
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Da novidade aos novos baianos que podemos ser, “ou vestidos de lunetas,/ Passado, presente,/ Participo sendo o mistério do planeta.”
Mistério, Mistério, grito e não me arrependo, mais sei daquilo que não compreendo, mas só as perguntas certas, aumentam a indecisão do tempo. E nem Zeus, Odin, Ogum, Anúbis podem com seus nós segurar aquele que não se espera. Pois deuses se fazem no aguardo, e humano na solidão das eras. Esperança indefinível nas vontades de quem a deseja. Deuses impacientes aguardam.
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Ainda que de encontro em encontro eu seja, da expectativa desvio, onde ordem e refúgio, não permitem à semente um crescimento dissoluto. Vento que cobre o sol, corre nas pernas daquele que sozinho, não como um Atlas a carregar o mundo, voa sem asas a um abismo, pois abismo é um abraço sem muros na imaginação fértil de quem poesia come.
Sê o que és. No tumulto o caos não beira, e sem desordem não existe a centelha que ilumina as escolhas de uma vida plena, inteira. “Por minha cabeça não passava/ Só! Somente só!/ Assim vou lhe chamar/ Assim você vai ser/ Só! Só! Somente só”.
Quando Nietzsche chorou sozinho, como num ato extremo e belo, o tempo não ficou mais triste, mas, antes, mais singelo. Longe da algaravia, via-se como via que não passa carro nem trilha, mas estrada de homem só que do pó ao pós seu Zaratustra surgia:
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“É longe da feira e da fama que se passa tudo o que é grande; é longe da feira e da fama que moraram, desde sempre, os inventores de novos valores.
Foge, meu amigo, para a tua solidão: vejo-te picado por moscas venenosas. Foge para onde sopra um ar rude e vigoroso!
Foge para a tua solidão! Perto demais viveste dos pequenos e dos miseráveis. Foge da sua invisível vingança! Outra coisa não são, contra ti, senão vingança.
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Contra ele não mais levantes o braço; inúmeros são eles e não nasceste para enxota-moscas.”
E quantas vezes apequenados estamos para entrar no rol dos escolhidos. Mesmo entre muitos, a solidão pode ser altiva, novamente, é claro, não a solidão frenética, fisiológica, aflitiva, mas a solidão amiga. No silêncio da palavra em seu encontro com o pensamento, fazendo da ideia o momento, sublime, solitário, soberano.
Pensa de vez em quando se não é na solidão as maiores decisões. Na calmaria de quem só contempla entre o estímulo da vida e a próxima sentença, a próxima escolha, seja ela mudança inteira, meia volta ou desejo de reparação. Quando as vozes ao redor uníssonas se calam, lê e mergulha na obra que é o cão de Deus, o Homem. Você, eu. Cada qual servo de ninguém. Solidão atormenta os sinais de contramão. Um olhar, um toque, uma plantação, vida brota junta na solidão.
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“Foge, meu amigo, foge para a tua solidão e para lá onde sopra um vento rude e vigoroso. Não nasceste para enxota-moscas – Assim falou Zaratustra”.
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