Olhar Filosófico

Moral, alegoria ou anedota?

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Quando o pensamento se detêm e curva-se perante si mesmo, não é raro ele questionar-se acerca de situações com as quais o cotidiano o provoca, exigindo que ocupe uma posição em que a escolha o fará lembrar de que seu destino é saber-se livre.Ou como nos diz o filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900): “As valorizações de um homem denunciam algo da estrutura da sua alma, e daquilo em que ela vê as suas condições vitais, as suas necessidades propriamente ditas.”

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O espírito filosófico desse pensador alemão, suscita-o a procurar, no tempo e no espaço, o surgimento das opções de escolha segundo valores que são postos; e, em sua pesquisa, parte já certo de que não são tais valores, em absoluto, realmente, filhos da liberdade, mas emergem como máscaras dos instintos, e obedecem a uma força que se move através de oposições, das contradições que compõe a nossa existência. 

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Já em sua consideração extemporânea “Da utilidade e dos inconvenientes da história para a vida”, uma de suas obras mais emblemáticas a discorrer sobre seu método analítico original, Nietzsche coloca a metafísica, aquela área da filosofia responsável por pensar sobre o ser de todas as coisas, no lugar das elucubrações fantasiosas, inclusive inferior a toda mitologia, conjunto de narrativas originárias de apelo sobrenatural calcada na criatividade poética do dizer,uma vez que o mito tem uma nobre função individuale coletiva na construção da simbologia da força, da transposição de tempos-espaços e dos heróis trágicos, o que, inclusive, viria a sedimentar o caminho para a construção de sua figura apoteótica do além-homem (ou super-homem, numa tradução ruim).

Já na Origem da Tragédia, que particularmente considero o resumo pretérito de toda sua vasta obra, nosso filósofo alemão, numa tentativa que ressalta a busca revitalizante do mito através da música, criticara o sentido histórico ao qual é posto o mesmo, um impulsionador potente e referencial à vida presente e futura, quedando-se assim paralisado em sua leitura histórica terminal einautêntica porque “ é o destino de qualquer mito paulatinamente esconder-se na estreiteza de uma pretendida verdade histórica e ser tratado, em alguma época posterior, como um fato isolado e único com pretensões históricas.”

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Com a utilização do seu método genealógico, em que se irá  buscar a origem do homem histórico para encontrar ali o cerne de todo valor, inclusive o moral, Nietzsche quer demonstrar que o móvel (causa, motor) de qualquer ação não é livre, sujeitando-se, antes, a critérios estabelecidos a partir de sentimentos de autoconservação e prazer que estão organicamente, inclusive, para Além de Bem e Mal(expressão-título de mais uma monumental obra de sua autoria), pois “necessitamos uma crítica aos valores morais, e antes de tudo deve discutir-se o valor destes valores, e por isso, é de toda a necessidade conhecer as condições e os meios ambientes em que nasceram, em que se desenvolveram e deformaram (...) Era um verdadeiro postulado o valor destes valores: atribuía-se ao bem um valor superior ao valor do mal, ao valor do progresso, do desenvolvimento humano.”

Encontrar a Genealogia da Moral (título daquele que é, para muitos, seu maior livro) torna-se, em Nietzsche, mais do que um método de desconstrução da própria moral, seja do passado ou presente, mas, principalmente, uma tarefa fundamental para o estabelecimento de uma nova cultura e política do homem-legislador que toma para si o passado para engendrar um  futuro livre das ilusões metafísicas e das tradições religiosasparalisantes em sua essência comum. Como chama à atenção de toda juventude em um de seus ensaios iniciais: “Tenho talvez o direito de dizer Cogito ergo sum, mas não Vivo ergo cogito. Foi-me concedido o ‘ser’ vazio, e não a ‘vida’ plena e verdejante; o meu sentimento primitivo garante-me só que eu sou um ser pensante, e não um ser vivo, que eu não sou um animal, mas, quando muito, um “cogital”. Dêem-meprimeiro a vida, que eu lhes dou uma cultura. É o grito de todos os indivíduos desta primeira geração, que se reconhecem por este grito. Mas quem vai dar-lhes esta vida? Nem um deus nem um homem – a sua juventude. Libertem-nos das suas cadeias e terão libertado a vida, porque ela estava escondida apenas, estava presa, não estava nem seca nem morta: interroguem- se!”

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