Olhar Filosófico
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No artigo passado, escrevia que “lugar de Causa” era o conceito fundamental para um entendimento radical da existência e das lutas travadas em nome do sentido a ser dado ou adquirido por ela.
Considero esse conceito, a um só tempo, ontológico e social, pois carrega em si mesmo uma razão última sobre o ser do humano e a noção de construção coletiva de finalidade material da vida. Não vejo um paradoxo aí, mas uma complementariedade.
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Assim sendo, “lugar de Causa” é um conceito abrangente e didático sobre nossa posição nesse planetinha chamado Terra, tão de todos e feito de ações humanas tão desiguais.
Um adendo antes de prosseguirmos. Acredito não ser necessário salientar que tudo que neste espaço escrevo, não deve ser interpretado com segundas intenções ou viés “lacrador”, tão caro a astrólogos ensandecidos que fumam horrores na Virginia, mas tratam do coração no SUS tupiniquim.
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Escrevo como troca, imbuído de um forte desejo de estabelecer um diálogo objetivo e franco com o leitor. E se o contrario, abro caminho para ser contrariado. É um dever ético daquele que escreve e se expõe.
Portanto, como ia dizendo, “lugar de Causa” é lugar de luta e, historicamente, é lugar de “Classe”!
Classe, como descrita e percebida pelo vistoso filósofo alemão do século XIX, é o vínculo social de indivíduos que sobrevivem “sob condições econômicas de existência que separam seu modo de vida, seus interesses e a sua cultura daqueles das outras classes e as colocam em posição hostil a essas outras classes”.
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Ao mesmo tempo, dito pelo mesmo filósofo, “a dominação do capital sobre os trabalhadores criou a situação comum e os interesses comuns dessa classe. Assim, essa massa já é uma classe em relação ao capital, mas não ainda uma classe para si mesma. Na luta, da qual indicamos apenas algumas fases, essa massa se une e forma uma classe para si.”
Portanto, a consciência de classe é o motor da “Causa” pela qual se luta hoje para que um dia não mais existam classes. Claro que tal feito, uma sociedade sem classes, soa mais como uma utopia próxima do ideário cristão do que das materiais versões de mundo possíveis que construiremos daqui para a frente. Mas, como nos dizia Eduardo Galeano (1940-2015), “a utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”
“Lugar de Causa” é o lugar da utopia e, fundamentalmente, da história. Pois é o lugar da compreensão de que somos radicalmente humanos, fundamentalmente distintos, mas, socialmente desiguais, pois, a partir das escolhas condicionadas que fazemos, vamos sendo introduzidos no jogo sistêmico da desigualdade social que nos assola.
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Lutar pela igualdade de direitos e oportunidades é a maior causa humana a ser buscada agora, é causa inadiável, inclusive, para a salvação da nossa própria espécie e de todo o planeta, pois, é só através da viabilidade geral de vida plena para todos e irmanados com as potencialidades da natureza, que teremos entre nós as maiores possibilidades criativas, o maior aproveitamento dos talentos intransferíveis de cada um e o maior zelo pelo cuidado daquilo que deve pertencer a todos e todas!
Afinal, como nos disse o velho Marx (1818-1883), “viemos ao mundo para que todos tivessem vida e vida em abundância” e como complementou Engels (1820-1895) ao analisar os atos dos seus alunos: “É isso! Seguiam vendendo suas propriedades e bens, e distribuíam a cada um conforme a sua necessidade.” E perdoem se erro de referência alguma vez, mas o meu corretor de vocabulário está, há tempo, danificado! Confunde judeu com cristão, mulher com homem, Terra com Céu, enfim, é isso!
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