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Publiquei em 2009, pela combativa editora Realejo, um livro sobre a ideia, a prática e o processo da liderança social.
Aceitei uma provocação de amigos(as) e alunos(as) para mergulhar nesse tema tão em voga na nossa sociedade, mas costumeiramente trabalhado dentro das ideologias do mercado e, por isso mesmo, quase sempre discutido como tópico específico de administração de empresas (ruins), economia (porca) e psicologia (barata).
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Por outro lado, tínhamos os ensaios e tratados de sociologia a abordar o assunto sempre de uma forma metódica e rigorosa, porém numa linguagem mais acadêmica e, ainda, pouco divulgada ou de difícil acesso ao público leitor fora das paredes das universidades.
Minha tarefa seria a de construir um texto que levasse em conta uma linguagem clara e acessível à maioria das pessoas; um compromisso com os fundamentos filosóficos inerentes à minha formação, estudo e profissão e, por fim, transitar entre a teoria e a prática de uma forma simples, mas com profundidade conceitual.
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Daí nasceu a obra “Dissecando o líder_ Pequeno ensaio sobre a liderança”. Para fazer jus às minhas escolhas, misturei textos clássicos de filosofia e educação, literatura, poesia, fábulas, música popular e artes plásticas.
De início, entendi que não pode haver ideia de líder e liderança sem uma amplitude do conceito de ‘pessoa’. Por isso, as palavras que me vieram transcrevo a seguir e chamo a todos para essa reflexão primordial: “A pessoa humana, dentro de toda sua dignidade, possui a capacidade intransferível de se auto pensar. O que queremos dizer é: aquilo que nos permite transformar a nós e ao mundo, e nos faz seres de futuro, é a maneira que pensamos nossa existência. Só assim, podemos ter certeza de alguma coisa por mais ínfima que seja. Quando nos dedicamos à tarefa da reflexão, precisamos, para erigir nossas escolhas, responder de qualquer maneira a três questões de caráter filosófico: a) quem sou eu?; b) aonde estou?; c) para onde vou? Cada uma dessas perguntas possui uma qualidade específica, porém, a primeira, quem sou eu?, é crucial para nos ligarmos corretamente às outras duas.”
O que tentei demonstrar por todo o livro, é que liderar significa entender de si e dos outros e não só assumir uma tarefa com competência técnica; liderar é se relacionar sempre e servir em respeito à dignidade de cada um; liderar é possuir talento e carisma, mas entendê-lo como uma delegação coletiva; liderar também é treino e hábito, mas com o propósito da virtude e da felicidade grupal, como nos mostrara Aristóteles (384-322 a.C.), o grande filósofo grego, em sua monumental obra “Ética a Nicômaco”: “Por outro lado, de todas as coisas que nos vêm por natureza, primeiro adquirimos a potência e mais tarde exteriorizamos os atos. Isso é evidente no caso dos sentidos, pois não foi por ver ou ouvir frequentemente que adquirimos a visão e a audição, mas, pelo contrário, nós as possuíamos antes de usá-las, e não entramos na posse delas pelo uso. Com as virtudes dá-se exatamente o oposto: adquirimo-las pelo exercício, como também sucede com as artes. Com efeito, as coisas que temos de aprender antes de poder fazê-las, aprendemo-las fazendo; por exemplo, os homens tornam-se arquitetos construindo e tocadores de lira tangendo esse instrumento. Da mesma forma, tornamo-nos justos praticando atos justos, e assim com a temperança, a bravura, etc.”
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